Uma tentativa de golpe militar estremeceu a Turquia e deixou 265 pessoas mortas após confrontos durante a madrugada deste sábado. Militares do exército anunciaram, ainda na sexta-feira, terem tomado o poder na Turquia. O presidente, Recep Tayyp Erdogan, convocou a população para formar uma resistência contra o golpe, e conseguiu interromper a ação. Algumas horas depois, o órgão de controle de magistrados e procuradores removeu do cargo 2.745 juízes de todo o país.
Ainda não está claro quem está por trás do movimento golpista ou o número de militares dentro do exército que estariam a favor da tomada do poder. Durante o dia, além de comemoração nas ruas da Turquia, 2.839 militares foram presos por suspeita de envolvimento no ataque.
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Erdogan pediu aos Estados Unidos que extradite para a Turquia o clérigo islâmico Fethullah Gulen, 75 anos, que mora na Pensilvânia. Ele é apontado por Erdogan como articulador da tentativa de golpe militar ocorrida na noite de sexta-feira.
Neste sábado, o presidente americano, Barack Obama, pediu às partes na Turquia que "respeitem o Estado de direito", após a tentativa de golpe naquele país, segundo um comunicado divulgado neste sábado pela Casa Branca: "O presidente e sua equipe lamentam a perda de vidas humanas e destacam a necessidade vital para todas as partes na Turquia de agir respeitando o Estado de direito e evitar qualquer ação que possa gerar novos episódios de violência ou instabilidade".
O que aconteceu na noite de sexta-feira e durante a madrugada de sábado na Turquia?
Ao menos 265 pessoas morreram durante a noite de sexta-feira e a madrugada deste sábado na Turquia. A agência oficial Anatólia informou que 754 militares foram detidos por envolvimento na tentativa de golpe. Cerca de 800 pessoas estariam feridas depois de uma noite marcada por violência.
O presidente da Turquia resistiu à tomada do poder pelo o que seria um grupo dentro das forças armadas. Tiros e explosões foram ouvidos na capital Ancara, e aviões militares sobrevoaram a cidade durante a noite.
Militares golpistas abriram fogo em Istambul sobre a multidão, em meio a um protesto contra a tentativa de golpe, e vários civis feridos foram socorridos por ambulâncias.
Informações da imprensa internacional dão conta que os ataques eram destinados contra a própria população turca. Um fotojornalista da CNN relata que viu uma troca de tiros entre militares golpistas e membros da polícia turca que apoiam o presidente Erdogan. Foi estabelecido toque de recolher, e membros do exército invadiram agências estatais e aeroportos.
Houve tumulto, civis começaram a fugir de restaurantes e estabelecimentos e começaram a estocar alimentos.
Jornalistas da rede CNN publicaram imagens nas redes sociais da chegada dos militares ao escritório turco da empresa.
Na noite de sexta-feira, os militares golpistas ocuparam duas pontes sobre o Bósforo, que unem Europa à Ásia. Vários tanques do Exército cercaram o Parlamento em Ancara e o aeroporto internacional Ataturk, em Istambul. O parlamento turco, em Ancara, foi atingindo por tiros e bombas.
Abaixo, imagens dos danos no parlamento:
Na capital, dezessete policiais foram mortos em um confronto envolvendo os militares golpistas, revelou a agência oficial Anatólia. Lá, um caça F-16 da Força Aérea derrubou um helicóptero Sikorsky das forças "golpistas", conforme uma fonte ligada à presidência.
Segundo os militares, a tomada do poder tem por objetivo "garantir e restaurar a ordem constitucional, a democracia, os direitos humanos, as liberdades e a prevalência da lei suprema" em todo território turco.
Na manhã deste sábado, a situação no país permanecia tensa, mas houve recuo dos militares. Imagens mostram homens do exército se rendendo em uma ponte do país.
O primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, anunciou na manhã de sábado a nomeação do general Ümit Dündar como comandante interino das Forças Armadas, no lugar do general Hulusi Akar, que foi capturado pelos golpistas. Seu paradeiro permaneceu desconhecido por horas, mas tropas leais ao governo resgataram neste sábado o general Halusi Akar, capturado por militares golpistas na sexta-feira, informou o canal de televisão CNN-Turk.
Halusi Akar foi resgatado da base aérea de Akincilar, no noroeste de Ancara, e levado para um local seguro. Akar era mantido como refém desde o início da tentativa de golpe.
Caças-bombardeiros F-16 atacaram tanques dos rebeldes em torno do Palácio Presidencial em Ancara. Militares rebelados também ocuparam, na manhã de sábado, a sede do grupo de mídia Dogan em Istambul, segundo o canal de notícias CNN-Türk. Yildirim afirmou que "esta iniciativa idiota fracassou" e a situação "está amplamente sob controle".
Após as declarações do premier foi publicado um comunicado dos serviços de inteligência turcos sobre o "retorno à normalidade". A mesma informação constava do site do Estado-Maior do Exército."Não permitiremos que a ordem pública seja alterada na Turquia (...). Foi imposto o toque de recolher até nova ordem", segundo um comunicado firmado pelo "Conselho da Paz no país".
Quem está no poder na Turquia?
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, garantiu neste sábado que permanece no poder e que a tentativa de golpe falhou, porém, a situação no país permanece delicada. Ao chegar a Istambul, na manhã de sábado, Erdogan acusou o imã radicado nos Estados Unidos Fethullah Gulen, por promover o golpe militar.
– Os que vieram nos tanques serão capturados porque estes tanques não lhes pertencem – afirmou o presidente durante coletiva concedida no aeroporto de Istambul, onde foi recebido por uma multidão que agitava bandeiras turcas.
Erdogan revelou que o hotel onde estava de férias em Marmaris, um balneário do sudoeste da Turquia, foi bombardeado após sua partida.
Após a chegada de Erdogan em Istambul, o primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, ordenou que as forças armadas abatam os aviões e helicópteros que estão em poder dos militares "golpistas", informou um funcionário turco.
Quem é o homem acusado de promover a tentativa de golpe?
Fethullah Gulen vive atualmente em um povoado nas montanhas de Pocono, no estado americano da Pensilvânia. O escritor e antigo imã já foi um aliado de Erdogan, mas atualmente faz oposição ao presidente. Gulen mudou-se para os Estados Unidos em 1999, após ser acusado de traição na Turquia. Apontado pelo presidente Erdogan como o promotor do golpe no país, Gulen condenou "nos mais firmes termos" o movimento de grupos do Exército para tomar o poder e negou as acusações.
"Como alguém que sofreu múltiplos golpes militares durante as últimas cinco décadas, é especialmente insultante ser acusado de ter alguma relação com esta tentativa. Nego categoricamente tais acusações" disse Gulen em um breve comunicado divulgado na madrugada deste sábado.
"O governo deve ser conquistado mediante um processo de eleições livres e justas, e não pela força".
Abaixo, veja imagens do dia de comemorações e de prisões na Turquia:
*Zero Hora com agências
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