Clare Rewcastle Brown é persona non grata em seu país natal, a Malásia, impedida de entrar na antiga colônia britânica.
No entanto, isso não cala Rewcastle Brown, que é uma das vozes mais ativas chamando atenção para o desmatamento na Malásia. A crescente economia daqui, afirma ela, foi alimentada, em parte, pela vontade do país de explorar seus recursos naturais de maneiras que enriqueceram os líderes de sua terra natal, Sarawak, um grande estado na Ilha de Bornéu, conhecido por sua extrema beleza natural e biodiversidade.
Por meio de postagens na internet e transmissões de ondas curtas de rádio de Londres, Rewcastle Brown tem dado voz a crescentes preocupações entre os malaios sobre a degradação ambiental. Ela espalha sua mensagem nas mídias sociais, em seu site, Sarawak Report, e por transmissões na Radio Free Sarawak.
- Jornalistas não podem fazer isso na Malásia. Eles seriam presos imediatamente e seus meios de vida seriam destruídos - disse ela, por telefone, a respeito de seu relato sobre um país que convoca eleições democráticas nas quais o governo, apesar disso, exerce forte controle sobre a mídia jornalística.
A Malásia é o emblema das nações asiáticas que estão desfrutando da prosperidade recente, mas lutando para aderir ideais democráticos em um mundo onde as mídias sociais estão moldando a opinião social e testando líderes arraigados. Seu primeiro-ministro, Najib Razak, foi recentemente reeleito, mas a base governista não conseguiu garantir uma maioria de votos pela primeira vez em 44 anos. Através do alcance mundial das mídias sociais, Rewcastle Brown achou um acesso fácil ao crescente número de debates sobre o meio ambiente de seu cargo em Londres.
Rewcastle Brown, de 54 anos, filha de um policial de Sarawak no período colonial, lembra de sair de avião de Bornéu para frequentar o internato quando era criança.
- Eu tenho memórias vívidas de deixar Bornéu do Norte aos 8 anos de idade, e me lembro da vasta cobertura de floresta tropical - disse ela.
Quatro décadas depois - depois de uma carreira como jornalista na BBC World Service, na ITV News e na Sky Television em Londres - ela voltou a Sarawak para uma conferência ambiental em Kuching e foi surpreendida pela destruição da floresta.
- Você tem uma pequena panela - uma família - que dirige isso. Há um punhado de pessoas ganhando dinheiro com isso - disse ela referindo-se aos parentes de Abdul Taib Mahmud, ministro-chefe de Sarawak. Abdul Taib esse que, segundo ela, mantém muitos de seus bens no exterior.
- Durante o ano seguinte inteiro eu investiguei o assunto e fiquei perturbada com o fato de que ninguém estava cobrindo aquilo - lembrou-se.
Com a ajuda da Fundação Bruno Manser - nomeada assim em homenagem a um ativista ambiental suíço que desapareceu na Malásia em 2000 e é tido como morto - ela começou com o Sarawak Report em 2010, explorando debates online na Malásia e, com a ajuda de algumas pessoas, escrevendo notícias investigativas em inglês para uma audiência malaia de Covent Garden, em Londres. (Ela não quis dizer onde fica a base agora por motivos de segurança.)
Depois veio a Radio Free Sarawak, ajudada por um drive que emite 10 mil ondas curtas de rádio para que os malaios ouçam as transmissões, um esforço que recebe a ajuda de igrejas locais e de grupos de oposição.
- Eles têm varandas onde as famílias sentam reunidas e ouvem rádio - explicou Rewcastle Brown. Para aumentar a audiência, eles eventualmente mudaram as transmissões para um horário mais tarde, para acomodar trabalhadores que voltavam dos arrozais.
Seu esforço era anônimo no começo - o Sarawak Report começou enquanto seu cunhado, Gordon Brown, estava nos últimos meses no cargo de primeiro-ministro britânico. Ela é casada com o irmão mais novo de Brown, Andrew.
- Eu mantive minha cabeça baixa enquanto ele era primeiro-ministro - disse ela. Todavia, os parentes conseguiram persuadi-la a ir à público para aumentar a visibilidade de seu trabalho.
- Foi minha família que disse que era melhor sair do armário - relembra.
Seus canais de notícia têm um forte foco na afirmação de que a família de Abdul Taib acumulou bilhões de dólares em bens, canalizando-os em imóveis na América do Norte e Londres, enquanto o fato de dominar várias indústrias na Malásia, ajudou com sua influência política.
Abdul Taib agora enfrenta um inquérito da Comissão Malaia Anticorrupção e enfrentou o júri, chamando os membros de "safados e desonestos" por investigar suas atividades, e dizendo que fazer denúncias de que ele tem outras contas na Suíça e em outros países são "mentiras maliciosas".
No último mês de julho, Rewcastle Brown desembarcou no aeroporto internacional Kuching, no estado malaio de Sarawak, apenas para ser barrada no aeroporto e colocada de volta em um avião para Cingapura.
Bridget Welsh, professora de ciências política na Universidade Management de Cingapura e especialista em assuntos sobre a Malásia, dá crédito às duas mídias jornalísticas dirigidas por Rewcastle Brown por seu "impacto no debate político" sobre o desmatamento em Sarawak.
- A liderança de Taib foi duramente afetada nas áreas urbanas, especialmente entre os chineses, conforme as revelações reverberam entre os mais educados e aqueles conectados à internet - explicou ela. Ainda assim, o desmatamento provavelmente continuará, já que "a elite da Malásia está preocupada em ganhar dinheiro".
Nesse meio tempo, Rewcastle Brown encara seus próprios desafios, como sites criados para minar seu nome, usando nomes similares, e trabalhos de relação pública agressivos, financiados pela Malásia, que visam retratar os esforços ambientais do governo malaio como um ponto positivo. E ela faz seu trabalho enquanto ela e o marido, Andrew Brown, ex-jornalista que agora trabalha na indústria de energia, criam dois filhos adolescentes.
Ela se arrepende da sua mudança para o jornalismo de oposição estando longe? Ela lembrou de como foi inspirada pelo trabalho de Bruno Manser quando começou a investigar o desmatamento de Sarawak.
- Eu preciso tentar fazer alguma coisa. Eu nunca me perdoarei se eu não tentar - disse ela sobre o gênese de seus esforços.