Um dos traços que o atual movimento de protesto no Brasil compartilha com seus similares na Argentina e na Turquia - para ficar em apenas dois exemplos - é o eco global. No domingo, brasileiros saíram às ruas de Nova York, Boston, Montreal, Dublin e Berlim para prestar solidariedade aos manifestantes de São Paulo, Rio, Porto Alegre e Brasília. Munida de cartazes com dizeres como "A festa acabou, o Brasil acordou" e "Não é só R$ 0,20" (referência ao aumento no preço da passagem de ônibus em São Paulo, estopim dos protestos), a diáspora verde-amarela saudou o surgimento, em solo brasileiro, de um fenômeno que lembra o que está ocorrendo em outras partes do mundo. A maioria dos manifestantes teve de se limitar a pequenas concentrações, sem locomoção, por determinação da polícia. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, os protestos somados não reuniram mais de 2,6 mil pessoas.
Uma das características da onda brasileira é que não tem, pelo menos de início, uma característica marcadamente política. Os atos de argentinos no exterior contra a presidente Cristina Kirchner ou de turcos contra o governo do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan têm como alvo o poder, tanto que normalmente são realizados diante de consulados e embaixadas. As manifestações brasileiras não pregam saída de governantes. O rastilho de mobilização foi, no entanto, suficientemente significativo a ponto de obter apoio até mesmo de outras comunidades. Em Berlim, segundo o jornal Folha de S.Paulo, um grupo de turcos somou-se aos brasileiros na Kottbusser Damm, via de grande movimento.
Apesar das diferenças, a simultaneidade entre os protestos brasileiros e os de outros países é evidente demais para ser desprezada. Há poucos dias, a fotógrafa brasileira Alice Martins, radicada na Turquia, manifestou a Zero Hora um certo desapontamento com seu país pela suposta apatia dos compatriotas diante dos problemas nacionais - Jamais vi no Brasil nada parecido com o que está acontecendo em Istambul - disse Alice, nascida em 1980. Criança na época, a fotógrafa não poderia se lembrar das Diretas-Já ou do Fora Collor. Agora, ela e outros de sua geração já têm o que contar aos netos.