A Coreia do Norte reafirmou nesta quarta-feira seu "direito legítimo" de lançar foguetes com fins civis e que continuará com seu programa espacial, apesar das sanções do Conselho de Segurança das Nações Unidas e das críticas de nações ocidentais e orientais. Uma reunião de emergência do Conselho foi convocada para a manhã desta quarta-feira, por volta das 14h de Brasília.
"Pouco importa o que digam os outros, continuaremos exercendo nosso direito de lançar satélites", declarou um porta-voz do ministério das Relações Exteriores da Coreia do Norte.
Pyongyang realizou durante a madrugada um teste bem sucedido de seu foguete de longo alcance, considerado por muitos países do ocidente um míssil balístico disfarçado, segundo anunciou a agência oficial de notícias norte-coreana KCNA.
"O disparo com êxito é um progresso no desenvolvimento das tecnologias científicas e da economia de nosso país e exerce nosso direito à utilização pacífica do espaço", afirma uma nota da agência oficial norte-coreana KCNA.
"Nossos técnicos e nossos cientistas colocaram em órbita o satélite com sucesso, ao ter em elevada estima os ensinamentos do grande dirigente Kim Jong-Il."
Segundo a agência, o foguete decolou do centro espacial de Sohae (noroeste) às 9H49 (22h49 de Brasília, terça-feira), dois minutos antes do horário anunciado pelo exército sul-coreano, e o satélite foi colocado em órbita nove minutos depois.
"O satélite está agora em órbita, evoluindo entre 499,7 e 584,18 km sobre a Terra", destacou o KCNA.
O governo japonês confirmou que o foguete passou sobre a ilha de Okinawa, mas não foi interceptado pela defesa antiaérea local.
"O míssil que a Coreia do Norte chama de 'satélite' (...) passou sobre Okinawa às 10H01. Não ativamos qualquer interceptação", explicou o gabinete do primeiro-ministro japonês, que havia colocado as forças militares em alerta.
Segundo observações de militares japoneses e sul-coreanos, o primeiro e o segundo estágios do foguete Unha-3 caíram no mar, a oeste e a sudoeste da península coreana. O terceiro estágio também caiu no mar, 300 km a leste das Filipinas.
Este lançamento marca o 100º aniversário do nascimento de Kim Il-Sung, fundador e "presidente eterno" da Coreia do Norte, avô do atual dirigente e pai do anterior.
O regime comunista afirma que o foguete colocou em órbita um satélite civil de observação terrestre, mas a comunidade internacional garante que trata-se de um novo teste de míssil balístico, o que é proibido pelas sanções aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU em 2006 e 2009.
A Coreia do Norte pretende se dotar de mísseis balísticos intercontinentais (ICBM) capazes de atingir o continente norte-americano, mas até o momento havia fracassado em seus testes.
O lançamento anterior, em abril, terminou em fracasso.
O governo dos Estados Unidos considerou o lançamento "muito provocativo" e alertou que a ação desestabilizará a região, além de prejudicar os esforços de não proliferação em todo o mundo.
"O lançamento de hoje é um ato muito provocativo que ameaça a segurança da região, viola diretamente as resoluções 1718 e 1874 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, infringe as obrigações internacionais da Coreia do Norte e mina os esforços globais de não proliferação", afirma em um comunicado o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Tommy Vietor.
"Dada a atual ameaça à segurança da região, Washington reforçará e aumentará sua coordenação com os aliados", completou Vietor.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, também condenou o teste norte-coreano como um "ato provocativo" que viola as resoluções do Conselho de Segurança e ameaça "a estabilidade da região".
"O secretário-geral está preocupado com as consequências negativas que este provocativo ato possa ter na paz e estabilidade da região", afirmou o porta-voz de Ban, Martin Nesirky.
Ban, ex-ministro das Relações Exteriores da Coreia do Sul, disse que o ato de Pyongyang "é totalmente lamentável porque desafia o unificado e forte apelo da comunidade internacional", completou o porta-voz. Rússia e China também lamentaram o lançamento.
A reunião do Conselho de Segurança, solicitada pelo embaixador japonês Tsuneo Nishida, deve resultar em uma "forte resposta do Conselho" de Segurança pela ação de Pyongyang.
As resoluções 1718 e 1874 das Nações Unidas proíbem a Coreia do Norte de qualquer atividade balística ou nuclear.
Segundo a imprensa japonesa, Tóquio, Washington e Seul estão de acordo em adotar novas sanções no Conselho de Segurança contra a Coreia do Norte, em níveis equivalentes aos impostos ao Irã.
A chancelaria em Seul condenou "energicamente" o lançamento do foguete Unha-3 e denunciou as "provocações" da Coreia do Norte.
A China, por sua vez, destacou que Pyongyang "deve respeitar" as resoluções das Nações Unidas que proíbem o lançamento de mísseis balísticos.
"Todas as partes envolvidas devem manter a cabeça fria e se abaste de jogar lenha no fogo para que a situação permaneça sob controle", destacou a agência oficial Nova China, afirmando que "é hora de construir a confiança na península coreana".
A União Europeia também ameaçou com a adoção de novas sanções contra a Coreia do Norte.
"A UE considerará uma resposta apropriada com seus principais sócios (...) incluindo possíveis medidas restritivas adicionais", afirmou a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, em um comunicado.