Alvo de operação do Ministério Público Estadual (MP) deflagrada na manhã desta quinta-feira (6) em razão de suspeitas em contrato bilionário com a prefeitura de Canoas, o Grupo de Apoio à Medicina Preventiva e à Saúde Pública (Gamp) apresenta uma peculiar relação familiar entre dirigentes da entidade e funcionários contratados para cargos com altos salários.
Em meio a uma greve de profissionais de enfermagem, técnicos, farmacêuticos e radiologistas por causa de atraso nos salários pagos pelo Gamp, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco-Saúde), do Ministério Público, solicitou mandados de prisão contra quatro pessoas ligadas à entidade.
Até as 9h30min, três pessoas foram presas: Michele Aparecida da Câmara Rosin, atual presidente do Gamp; Cássio Souto Santos, médico que participou da fundação do grupo e é considerado o principal nome da entidade; e Marcelo Bósio, ex-secretário da Saúde de Canoas e que participou do processo de contratação do Gamp.
Embora tenha renunciado à presidência do Gamp em novembro de 2014, o médico Cássio Souto Santos - preso em um hotel na zona norte de Porto Alegre - seguiu como homem-forte da organização, recebendo R$ 90 mil mensais, como prestador de serviços de assessoria em projetos de gestão em saúde.
Em maio de 2015, Cássio assinou contrato de locação para instalar a sede do Gamp em Cotia (SP). Entre abril e julho de 2017, participou de reuniões da comissão de acompanhamento fiscalização do contrato do Gamp com o município de Canoas – formada por integrantes da entidade e da prefeitura. Em um dos encontros, foi citado em ata como presidente do Gamp.
Além disso, em junho de 2017, o médico foi apresentado a vereadores de Canoas como presidente do Conselho Executivo da entidade, ao participar de uma sessão na Câmara para explicar ações do grupo. Nessa mesma época, ele usava e-mail corporativo da presidência da organização.
Cássio foi sucedido no comando do Gamp por dois sobrinhos dele – os irmão Breno e Brayan Souto Santos. Foi por iniciativa de Brayan que o tio acabou contratado para serviços de assessoria. Ainda como presidente, Brayan levou para Canoas outros parentes para trabalhar em instituições de saúde geridas pela entidade. Em setembro de 2017, foi admitido um primo como coordenador de central de leitos – depois, ele assumiu outra coordenadoria, ganhando R$ 10,2 mil mensais.
No mesmo mês, Brayan contratou um casal de tios para as funções de diretor administrativo, com salário de R$ 18,3 mil mensais, e gerente executiva, com vencimento de R$ 10,3 mil ao mês.
Contraponto
O Gamp divulgou nota em que informa "que irá se manifestar formalmente assim que os advogados tiverem acesso a todo o teor da investigação do Ministério Público Estadual". No texto, o grupo afirma que "é vítima de um movimento de perseguição política e de empresas contrariadas com o sistema e tem o maior interesse em esclarecer os fatos".