A Colômbia vive um escândalo nacional por conta de mortes de pacientes, vítimas de médicos que se apresentam como especialistas em cirurgia plástica com diplomas e certificados emitidos por instituições estrangeiras, validados irregularmente pelo Ministério da Educação daquele país. É nesse contexto que surge a denúncia contra o médico Daniel Posada, acusado de cirurgias malfeitas em Medellín, onde apresenta-se como tendo cursado especialização em instituição vinculada ao Grupo Facinepe, de Porto Alegre (já denunciado por irregularidades em março passado).
Em 2016, apenas no Departamento de Antioquia, 13 pacientes morreram em consequência de complicações de cirurgias estéticas. As mortes chamaram atenção para um derrame de títulos suspeitos. Pelo menos 44 médicos são investigados por terem obtido certificados sem valor legal na Colômbia, emitidos por instituições do Brasil, da Argentina e do Peru.
Parte desses médicos é filiada a uma entidade paralela à Sociedade Colombiana de Cirurgia Plástica.
– Detectamos que um grupo de profissionais médicos tomou uma prática ilegal: ir com visto de turista ao Brasil e fazer especializações em cirurgia plástica reconstrutiva ou cirurgia estética. Nunca, em nenhuma parte do mundo, com um visto de turista se faz uma especialização – afirma o médico e vereador Bernardo Guerra.
Quando o caso chegou ao conhecimento público, em julho de 2016, representantes da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) viajaram a Bogotá alertando que cursos da Universidade Veiga de Almeida, do Rio de Janeiro, não habilitam médicos a operar no Brasil e que o mesmo entendimento deveria ser adotado na Colômbia.
– Para receber título de cirurgião plástico, é preciso estudar 11 anos. É uma formação rigorosa – explica Niveo Steffen, secretário-geral da SBCP.
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A SBPC pediu o cancelamento dos certificados validados, mas o Ministério da Educação colombiano chegou a informar que não tinha encontrado irregularidades. Em setembro, uma advogada, funcionária do ministério, foi presa sob a suspeita de receber propina para validar diplomas. Atualmente, ela está em prisão domiciliar e perdeu o emprego.
A ex-servidora teria recebido o equivalente a R$ 75 mil de universidades da América Latina para "esquentar" certificados. Também foi presa outra mulher que teria se beneficiado de uma diploma, falsamente emitido por uma instituição argentina. Dias depois, a então ministra da Educação, Gina Parody, pediu demissão, em meio a polêmicas.
Em outubro, o escândalo se acentuou. O médico colombiano Carlos Ramos Corena, conhecido como "cirurgião das barbies", foi preso em Miami, nos EUA, por exercício ilegal da profissão em San Juan, Porto Rico (território norte-americano). Corena era dono de uma clínica de Medellín, onde operou uma porto-riquenha que morreu horas após o procedimento, em 2014. Apesar dessa morte, Corena se mudou para Porto Rico e trabalhava em um spa, sem licença das autoridades locais.
O consultório de Daniel Posada em Medellín: