Os dois homenageados especiais na abertura do Acampamento Farroupilha neste sábado (7), em Porto Alegre, enfrentaram desafios semelhantes durante a histórica cheia de maio: surpreendidos pelo avanço da água, deram demonstrações de resiliência que emocionaram o Estado.
Desde então, seguiram caminhos bem diferentes. O cavalo Caramelo encontrou um novo lar no campus da Ulbra, em Canoas, onde vive sob acompanhamento constante, enquanto o catador de recicláveis e ginete André Ribeiro, 58 anos, voltou para uma casa com frestas nas paredes de madeira e segue sonhando em conseguir um novo lar.
— Já consegui recuperar alguma coisa que eu perdi, não tudo, mas o que eu precisava mesmo era de outro lugar para morar. Por enquanto, não consegui nem receber os R$ 5,1 mil (referentes ao Auxílio Reconstrução) — conta o reciclador, que mora no bairro Humaitá.
Sua história ganhou repercussão pelo fato de, mesmo tendo sido forçado a viver 45 dias no abrigo localizado no Centro Vida, na Zona Norte, ajudou a resgatar outras vítimas durante o período mais crítico da enchente e atuou como voluntário auxiliando a descarregar donativos. Foi convidado a participar da cerimônia pela secretária de Cultura e Economia Criativa de Porto Alegre, Liliana Cardoso.
Caramelo, desde que se transformou em figura nacional após ser flagrado resistindo em pé sobre um telhado cercado pela enchente em Canoas, engordou cerca de 50 quilos e hoje pesa 305 quilos. Com oito anos de idade, sem raça definida, se recuperou completamente do período em que permaneceu dias a fio no topo de um galpão, se alimenta bem e não depende de nenhum remédio ou suplemento alimentar.
Já Ribeiro, mais conhecido como André Laçador em razão da atividade que pratica desde criança, contou com auxílio de algumas pessoas, mas ainda enfrenta dificuldades para retomar o trabalho como catador de materiais recicláveis. Conseguiu salvar o que lhe era mais caro: uma bandeira do Rio Grande do Sul, uma guaiaca com uma fivela metálica e uma bombacha.
— A gente vai se recuperando aos poucos, mas o que eu realmente queria era morar com mais dignidade. Por causa da água, a casinha de madeira começou a se abrir — relata.
Apesar de seguir lutando para se recuperar por completo dos estragos provocados pela cheia, se mostrou radiante com a oportunidade de conduzir a Chama Crioula no sábado:
— Meu aniversário é no dia 18 de setembro. Pra mim, isso foi um presente de aniversário. O melhor que eu já recebi.