Texto e foto: Lucas Gabriel Marins / Especial
Mesmo separados por mais de 10 mil quilômetros de terra e mar, os gaúchos que vivem na Irlanda mantêm viva a tradição. Neste domingo, 20 de setembro - dia em que o início da Revolução Farroupilha completa 180 anos - eles promoveram a 7ª edição da Mateada Coletiva de Dublin, regada a ''chima'', cantoria e muita prosa.
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No encontro, que reuniu pouco mais de 100 pessoas, teve gente do Uruguai, Paraguai, Bolívia, Argentina, Equador, Rússia e Coreia do Sul.
O ponto de encontro foi o St. Stephen's Green, parque localizado na região central de Dublin. Como a chuva, uma constante na vida dos irlandeses, não deu trégua, os gaudérios buscaram refúgio em um pequeno coreto presente no local. No meio, uma caixa de som gritava ''Milonga Abaixo do mau Tempo'', de José Cláudio Machado.
O técnico de suporte Felipe da Silva Lucas, 29 anos, foi quem organizou o encontro pelo Facebook. O porto-alegrense, vestido com alpargata e bombacha, diz que o gaúcho pode até sair de seu estado, como ele fez há sete anos, mas o Rio Grande do Sul continua na pessoa.
- Temos muito orgulho do estado e dos combatentes da Revolução Farroupilha e carregamos isso com a gente. Acho que o trecho do nosso hino que diz ''Sirvam nossas façanhas de modelo a toda Terra'' representa bem o que sentimos.
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O hino Rio-Grandense rolou, como ocorreu nas edições anteriores da Mateada, mas dessa vez o evento também contou com o jovem gaiteiro Caio Azambuja, 22, que deu várias ''palhinhas'' durante o dia.
- Eu trabalhava como gaiteiro no Rio Grande e Pelotas e agora quero continuar a fazer isso aqui também. Eu já pedi permissão para o governo irlandês e talvez a partir da próxima semana eu já comece a tocar pelas ruas de Dublin - diz o guri, que já dividiu palco com a cantora gaúcha Aninha Pires.
O evento durou toda a tarde. Os presentes, enquanto tomavam chima, proseavam sobre a vida. Um dos consensos é de que a erva encontrada na Irlanda não tem lá muita qualidade. Por isso, muitos pedem para suas famílias enviarem, como é o caso do administrador Jader Giacomelli, 26.
- A cada três meses meus pais me mandam erva. E bebo com frequência, assim como manda a tradição - diz.
Argentinos e uruguaios estão até acostumados com o gosto do mate, que faz parte de suas tradições, mas a estudante Sveta Pastuhova, 29, que veio da terra de Vladimir Putin, achou a bebida esquisita.
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- Para mim, parece grama - diz, enquanto dá risada e se enrola em uma bandeira do Grêmio.
No entanto, ela achou interessante a forma como o gaúcho procura manter a tradição.
- Eu gostei de ver tanta gente reunida por causa da cultura. Na minha terra, não temos isso - diz.
A estudante sul-coreana Jiin Choi, 25, também provou o mate.
- É semelhante ao Matcha (chá verde), mas talvez seja um pouco mais forte. E eu estou gostando não só por causa do sabor, mas porque está me deixando aquecida -- diz, enquanto segura a cuia sob uma temperatura de 12°C.
*Zero Hora