Quem vive, visita ou circula pelas proximidades de Tabaí ou de Santa Cruz do Sul já consegue observar o surgimento de uma obra para facilitar a ligação entre a região metropolitana de Porto Alegre e a região central do Rio Grande do Sul.
Começaram na semana passada os trabalhos iniciais para duplicação dos dois primeiros trechos da RS-287, que ganhará faixa adicional em toda a extensão ao longo dos próximos anos.
A obra começaria em maio, mas teve de ser adiada em razão do desastre climático que causou danos severos na rodovia, incluindo o desabamento de pontes e de trechos do asfalto. Ainda hoje os motoristas precisam atravessar ao menos três desvios nas proximidades do distrito de Mariante, em Venâncio Aires.
Passado o período de recuperação, a duplicação foi iniciada em dois segmentos próximos de áreas urbanas de elevado movimento — do km 28 ao 30, em Tabaí, e do km 101 até o 105, em Santa Cruz. A previsão é de que ambos sejam concluídos até agosto de 2025.
Depois disso, a duplicação deve avançar em ritmo acelerado. Na cerimônia de início da obra, o governador Eduardo Leite afirmou que o objetivo é chegar até 70 quilômetros até 2027. Até 2030, a faixa adicional deverá chegar a 128 quilômetros, , o que será suficiente para cobrir a fração mais movimentada da rodovia, entre Tabaí e Novo Cabrais.
Essa meta consta no contrato de concessão assinado pelo governo do Estado com o grupo espanhol Sacyr, que arrematou a concessão de 204 quilômetros por um período de 30 anos, a partir de 2021.
Conforme a concessionária Rota de Santa Maria, constituída pela Sacyr para administrar a estrada, há intenção de antecipar essa entrega em dois anos.
"Importante lembrar que, junto com as obras de duplicação, serão executadas as obras de reconstrução dos trechos atingidos pelas enchentes (Candelária, Mariante, Arroio Grande e Arroio Barriga), bem como a implementação de obras de resiliência climática, o que torna o desafio ainda maior", aponta a concessionária.
Além do início da duplicação, a Rota de Santa Maria está elaborando estudos técnicos e projetos de engenharia para recuperar as pontes em Santa Maria e Paraíso do Sul e segmentos de asfalto em Candelária e Mariante, além de prevenir danos provocados por outros eventos climáticos extremos.
O secretário adjunto da Reconstrução, Gabriel Fajardo, afirma que o início da duplicação manifesta "o avanço na agenda de parcerias do Estado", já que a rodovia foi a primeira a ser concedida sob a gestão de Eduardo Leite, em 2020
— Em um curtíssimo prazo, dentro de um projeto que sabemos que tem seus desafios, (a concessão) traz uma nova realidade para as pessoas que transitam entre Santa Maria e a Região Metropolitana. Muito provavelmente não se veria essa rapidez se não fosse a colaboração dentro desse contrato de concessão com a iniciativa privada — afirma Fajardo.
Movimentos iniciais
As intervenções preparatórias para a duplicação já promoveram uma transformação vultosa às margens da rodovia próximo ao acesso a Santa Cruz do Sul e alterações no trânsito, com trechos no esquema "pare e siga". A poucos metros do movimento incessante de caminhões e carros de passeio, ao menos quatro escavadeiras e cerca de 30 homens se espalham nas tarefas de preparação do terreno para a obra.
Além da retirada da vegetação, está sendo construído um desvio, que abrirá espaço para intervenções na estrada. Em paralelo, a equipe trabalha na substituição do solo, de aspecto brejoso, pelo material que dará sustentação à nova pista.
Em Tabaí, as atividades são mais modestas. De um lado da pista uma escavadeira trabalha na limpeza do terreno onde em que será construída a pista duplicada e uma passarela para a travessia de pedestres. Do outro, trabalhadores posicionam os primeiros tubos de concreto para escoamento da água pluvial.
Ainda assim, a chegada do maquinário e o movimento da obra anima os moradores da região. A agente de saúde Sônia Maria Ferreira, que mora a poucos metros do asfalto e chegou a ter uma sala comercial desapropriada para a obra, comemora o "progresso batendo na porta" da cidade de 4,4 mil pessoas, onde nasceu e se criou.
— Tem muitos anos já o movimento grande de carros e caminhões. Depois das cinco (da tarde) a gente não consegue atravessar o asfalto. Já teve muitos acidentes também, muitas pessoas que faleceram, por isso é de uma grande importância essa duplicação para nós — relata Sônia, que pretende reformar a casa com o dinheiro recebido pela desapropriação.
De acordo com o prefeito de Vera Cruz, Gilson Becker, que é presidente do conselho de usuários da RS-287, a duplicação é aguardada há mais de uma década pelas comunidades que vivem na região central.
— O fluxo se intensificou muito nos últimos anos, principalmente no trecho entre Santa Cruz e Venâncio Aires. Estamos aguardando com ansiedade que a duplicação avance dentro do cronograma de trabalho previsto — afirma Becker.
No contrato de concessão, a previsão é de que sejam investidos R$ 3,7 bilhões pela Sacyr ao longo dos 30 anos, o que inclui a duplicação e outras melhorias na estrutura da pista. No pico das obras, a concessionária estima contratar até mil trabalhadores.
Conjunto da obra
O que será feito na RS-287:
- Duplicação de toda a extensão da rodovia (204 km)
- Implantação de 12 km de vias marginais
- Implantação de 7 km de terceiras faixas
- Implantação de 20 passarelas
- Implantação de 28 rotatórias ou rótulas
- Implantação de 10 retornos em nível
- Implantação de quatro interseções e adequação de nove existentes
Volume de tráfego
Quantos veículos trafegam, por dia, na principal ligação rodoviária entre Porto Alegre e o centro do RS:
- Pedágio de Taquari: 6,5 mil veículos
- Pedágio de Venâncio Aires: 12,5 mil veículos
- Pedágio de Candelária: 8,5 mil veículos
- Pedágio de Paraíso do Sul: 5,5 mil veículos
- Pedágio de Santa Maria: 8,5 mil veículos