Um ano depois de parte da plataforma de Atlântida, um dos cartões-postais de Xangri-Lá, no Litoral Norte, desabar, o local permanece interditado. Não há perspectiva de que a estrutura passe por alguma reforma ou seja reaberta.
A plataforma pertence à União e estava sob posse da Associação dos Usuários da Plataforma Marítima da Atlântida (Asuplama). A estrutura está embargada pela União desde o dia 22 de novembro de 2023. Isso impede qualquer atividade por parte da associação, que estima ter perdido 90% de seus sócios pagantes no último ano.
Após o desabamento, ocorrido na madrugada de 15 de outubro de 2023, o Ministério Público Federal (MPF) entrou com uma ação civil pública para regularizar a situação jurídica da plataforma. Com isso, foi feito um acordo envolvendo prefeitura, Asuplama, MPF, Advocacia-Geral da União (AGU), Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e Marinha do Brasil definindo que um laudo técnico seria elaborado pelo Laboratório de Ensaios de Modelos Estruturais (Leme) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) para verificar as condições da estrutura. Houve atraso no encaminhamento do documento, mas a expectativa é que fique pronto ainda neste mês.
A reportagem de Zero Hora tentou contato com a equipe do Leme, mas não obteve retorno. Entre as causas apontadas pelo MPF e prefeitura para a demora na elaboração do laudo estão as condições climáticas, como a chuva forte, que alterou o comportamento do mar e atrasou a avaliação dos técnicos.
Dependendo do que for apontado, o MPF sugere que seja definido o responsável pela conservação e restauração do local. A prefeitura de Xangri-Lá já manifestou que tem interesse em assumir esse papel caso os laudos apontem condições para tal. Caso isso não ocorra, o MPF sugere a demolição do ponto histórico.
— Se a União ou o município não quiserem assumir a plataforma, não tem como deixar daquele jeito, porque a associação já deixou bem claro que não tem condições econômicas de mantê-la — afirma a procuradora do MPF, Claudia Paim.
Pesca recreativa
O presidente da Asuplama, José Luis Rabadan, afirma que a plataforma chegou a ser invadida e vandalizada algumas vezes durante os últimos meses, geralmente durante a noite. Segundo ele, a associação demitiu seis funcionários no último ano e teve uma perda de arrecadação bruta de cerca de R$ 60 mil por mês.
— Muitos migraram para outros locais, como a plataforma de Tramandaí, ou passaram a pescar na praia. Tivemos que demitir seis de sete funcionários, com exceção de um que estamos mantendo com muita dificuldade, contando com rifas para cobrir os custos desse funcionário — lamenta Rabadan.
Um dos antigos usuários da plataforma era o aposentado Evaldo de Souza Padilha, 60 anos. Ele conta que frequentava o local desde 1999 ao lado de amigos. Contudo, agora lhe resta pescar na beira da praia com poucos companheiros que ficaram.
— Aqui éramos uma família. Nos reuníamos, fazíamos churrascos, eventos com a comunidade, como competições de pesca. É muito triste ver que está assim. Era nosso cartão-postal de Xangri-Lá — lastima ele.
O conceito de que o local era um ambiente familiar fica provado em histórias como a do biólogo João Pedro Krahe, 26 anos. O jovem frequenta a plataforma desde criança por tradição familiar e escolheu a profissão em razão disso:
— Meu bisavô trazia meu pai, que passou a me trazer depois também. Praticamente cresci aqui dentro, era o meu lar. Me formei biólogo por conta da minha vivência aqui, próxima dos animais marinhos. Hoje foi a primeira vez que vim aqui desde que desabou, porque não queria ver o estado que estava.
O presidente da Associação de Turismo do Litoral Norte (ATL-Norte), Flavio Holmer, afirma que o setor não chegou a sofrer um impacto direto com os danos na plataforma porque a maior parte dos frequentadores era de veranistas que continua indo à região. Ele entende que a plataforma ainda representa um ponto turístico importante, mas que precisa ter responsabilização e manutenção:
— Xangri-Lá é a praia que atrai a camada de poder econômico mais alto, as autoridades do Estado, então, ela tem todos os recursos para reconstruir (a plataforma). Se a prefeitura decidir retomar, eu acho que a própria população dos condomínios que sustenta economicamente o município, teria todas as condições de restaurar. Aí, eu seria a favor de uma restauração. Agora, se é para deixar como está, acho que é preferível não ter, porque é importante ter mais um atrativo turístico, e não ir ali e ver uma coisa no estado que está.
Um dos curadores do projeto Decola Litoral, Fabiano Brogni, tem esperança de que o local seja revitalizado. Ao mesmo tempo, questiona a situação atual da estrutura.
— A plataforma é um símbolo de Atlântida e está em todos os materiais de divulgação sobre a cidade. Um turista chegar aqui e ver que está assim é algo muito ruim. O turista pensa que a plataforma que é um marco está desse jeito, imagine o restante — declara.
Possibilidades no horizonte
Procurador-geral do município de Xangri-Lá, Thiago Serra, diz que a prefeitura aguarda a entrega do laudo técnico para ter uma ideia concreta do que será feito. Ele garante que a prioridade será a reconstrução. Porém, caso não seja possível, a prefeitura cogita alternativas.
— A ideia é reconstruir. Inclusive, já temos parceiros interessados, desde que haja a possibilidade. Caso não seja possível, o plano B seria uma parceria com o Estado para transformar o local da plataforma em molhes (assim como em Torres e Rio Grande)— prevê o procurador.
Serra acredita que, mesmo que o laudo técnico garanta a possibilidade de reforma, dificilmente a obra ficaria pronta para a próxima temporada.