Após enfrentar o sumiço de turistas em razão da recente cheia, a serra gaúcha se mobiliza para convencer viajantes a retomar os caminhos que levam até cidades como Gramado e Canela. O esforço conjunto de hotéis, parques, lojas e restaurantes, auxiliado pela chegada da alta temporada de inverno, já mostra seus primeiros resultados: a taxa média de ocupação de leitos na região das Hortênsias cresceu mais de cinco vezes entre maio e a primeira quinzena deste mês e chegou a quase 40% — um avanço significativo, mas ainda apenas metade do que costuma ser registrado nesta época do ano.
Para reforçar a tendência de crescimento mesmo sem a porta de entrada representada pelo Aeroporto Internacional Salgado Filho, ainda fechado, os empreendedores investem em promoções com redução de preços e na divulgação dos atrativos da região entre os próprios gaúchos e em Estados próximos a exemplo de Santa Catarina e Paraná.
Quando grande parte do Rio Grande do Sul naufragou diante do dilúvio ocorrido entre o final de abril e o começo de maio, o turismo serrano afundou junto: com estradas bloqueadas e com o principal aeroporto gaúcho inundado, os hotéis e pousadas ficaram praticamente vazios, com 7% das vagas ocupadas. A progressiva reconstrução da infraestrutura permitiu que essa cifra subisse para 30% no mês seguinte e atingisse 38% em julho até esta sexta-feira (12). No ano passado, porém, neste mesmo período, oito em cada 10 leitos de hotelaria estavam ocupados. Por essa razão, a cadeia turística busca novas estratégias para seguir avançando.
— Além da oferta de promoções e de contar com o turista do próprio Rio Grande do Sul, estamos fazendo divulgações dos atrativos da Serra nos Estados próximos, de onde as pessoas podem vir de carro. Fizemos duas em Santa Catarina e, no final do mês, vamos ao Paraná — afirma o presidente do sindicato que reúne diferentes setores do turismo na Região das Hortênsias (SindTur/Serra Gaúcha), Claudio Souza.
Em Canela, um grupo de 12 hotéis e pousadas que somam cerca de mil leitos lançou uma promoção que prevê descontos de 10% a 50% na tarifa e a oferta de uma diária gratuita para quem reservar quartos de domingo a quinta-feira diretamente nos sites dos empreendimentos. A intenção inicial era encerrar a iniciativa na sexta-feira, mas a maior parte dos integrantes decidiu prorrogar os benefícios.
Em Gramado, quem entra no município também logo percebe a luta para cativar visitantes. Além das bandeiras do Rio Grande do Sul, um grande número de vitrines exibe cartazes com ofertas de até 50% de desconto. Mesmo empreendimentos que tinham por política não adotar esse tipo de estratégia acabaram cedendo.
— Nunca trabalhamos com esse tipo de promoção, mas mudamos em razão do que aconteceu no Estado e pelo esforço para manter todos os empregos. Ficamos 25 dias com a nossa fábrica parada, e muitos funcionários perderam a casa na enchente — afirma o gerente de marketing da Prawer Chocolates, Cássio Castilhos, que cortou o preço de alguns produtos até pela metade.
A Cristais de Gramado, que fabrica e vende peças de Cristal Murano, inovou na estratégia. Além de um corte generalizado de 20% nos preços, criou uma peça nova — um pingente em forma de coração e com as cores da bandeira gaúcha — cuja venda ajuda a fomentar ações de reconstrução do Estado. O chamado Coração Gaúcho já vendeu cerca de 2,5 mil unidades desde o lançamento a um valor de R$ 69.
— Além disso, estamos investindo R$ 1 milhão em uma nova atração também com o objetivo de aumentar o fluxo de turistas para a Serra — afirma o proprietário, Telmo de Freitas Gomes, em referência a uma sala com diversas esculturas em cristal e iluminação especial com inspiração tanto nas cores quanto na resiliência da natureza.
Apesar das dificuldades, turistas pegam a estrada para chegar à Serra
A suspensão dos voos no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, é considerada por empreendedores da Serra como o principal obstáculo ao retorno do turismo aos patamares tradicionais. Enquanto as partidas e chegadas de aviões permanecem inviáveis na Capital, a região aposta na atração de visitantes do próprio Estado e de zonas próximas como Santa Catarina e Paraná por rotas rodoviárias. Mas a dificuldade de acesso por via área vem sendo superada até por alguns viajantes mais longínquos, que se deslocam de capitais tão distantes como Manaus para conhecer as belezas da Região das Hortênsias.
— Viemos de Manaus. Cancelaram o nosso voo por causa das chuvas faltando 13 dias para embarcar. Compramos outra passagem para Florianópolis, alugamos um carro e viemos dirigindo desde lá. Levamos sete horas na estrada, mas queríamos muito vir — conta o autônomo Anderson Albuquerque, 37 anos, que viajou ao lado da gerente de loja Lorrayne Ferreira, 26 anos.
Albuquerque conta que o casal havia comprado as passagens ainda em fevereiro. Ficaram preocupados com as notícias sobre a devastação provocada pela enchente entre o final de abril e o mês de maio, mas acreditaram na capacidade de reconstrução dos gaúchos para manter os planos de férias.
As amigas e estudantes de medicina Samira Machado, 21 anos, e Andressa Monteiro, 27, vieram de Santa Catarina com um grupo de amigos e se surpreenderam com as promoções que oferecem preços mais em conta aos turistas para tentar aumentar o movimento.
— Gastamos quase um terço menos do que havíamos calculado com toda a viagem. Comprei uma bota de couro por pouco mais de R$ 200 — comemorou Andressa.
Parte das vantagens é garantida por promoções realizadas pelos diversos parques temáticos localizados em Gramado, Canela e arredores.
— Temos ações pontuais por parte de cada parque, como descontos e campanhas de divulgação. Não tivemos grandes problemas de infraestrutura nos nossos municípios, e estamos prontos para receber todos que precisem de um momento de lazer. Já sentimos um momento de retomada, mas precisamos do aeroporto Salgado Filho de volta — avalia o presidente da Associação de Parques e Atrações da Serra Gaúcha (Apasg), Renato Fensterseifer Júnior.