A enchente que atingiu o Rio Grande do Sul no mês de maio danificou milhares de veículos e disparou uma corrida para venda desses automóveis, como forma de amenizar os prejuízos do vendedor. Para o comprador, pode ser uma possibilidade de bom negócio, uma vez que muitos dos carros estão sendo comercializados com valores bem abaixo da tabela Fipe. No entanto, é necessário ter muito cuidado na hora de adquirir um veículo usado ou seminovo, pois o barato pode sair caro em caso de possíveis problemas no automóvel.
O presidente do Sindicato da Indústria da Reparação de Veículos e Acessórios (Sindirepa-RS), Paulo Fernando Paim, alerta que a principal precaução após a compra de um carro é a revisão em uma oficina mecânica de confiança.
— Não tem como alguém que seja leigo no assunto identificar se a higienização foi bem feita. Ele não vai perceber um problema em um carro que foi alagado se não for informado. Então, toda compra de carro deve passar por uma oficina mecânica para fazer uma revisão. O comprador deve pedir para que o mecânico dê uma olhada nos módulos de injeção, no sistema eletrônico e elétrico do carro, porque esses sistemas ficam marcados — orienta.
Paim alerta para o fato de que, mesmo que o veículo aparente estar em boas condições, pode apresentar problemas futuros caso os reparos não tenham sido feitos da maneira mais adequada. O presidente do Sindirepa-RS detalha ainda que, geralmente, os principais danos não estão na lataria do automóvel, mas sim na parte elétrica e no motor.
— As placas eletrônicas atingidas pela água criam uma substância chamada zinabre, que fica marcada quando existe qualquer sistema de corrosão nelas. Então, essa seria a única maneira de identificar os defeitos, porque o carro pode estar funcionando, mas pode apresentar problemas dali a um mês, seis meses, um ano. Não se sabe exatamente quanto tempo vai levar para dar problema, só se sabe que vai dar problema — completa.
Entretanto, mesmo com os riscos, a compra de um veículo atingido pela enchente ainda pode ser benéfica para o comprador, pois o desconto no valor do automóvel pode suprir possíveis despesas.
— Se você agir da forma correta, terá uma compra segura. Você poderá ter garantia e a reposição das peças com defeito, desde que seja feita uma avaliação correta para que isso aconteça. Se for feita uma vistoria bem feita no carro antes da compra, vale muito a pena, porque você vai comprar um carro a 50% a 60% do valor de mercado, em leilão. Você vai gastar um valor para fazer a revisão, para ter a certeza da compra, e mesmo que gaste na manutenção, ainda assim valerá a pena — complementa Paim.
O que verificar ao suspeitar de que um carro tenha sido alagado?
Se não tiver conhecimento técnico, busque ajuda do seu mecânico de confiança. A seguir, veja dicas do Sindirepa-RS para uma análise preliminar.
Interior
- Presença de odores desagradáveis, como de mofo; um veículo perfumado demais também não é normal, desconfie.
- Manchas nos tecidos dos bancos e revestimentos das portas.
- Puxe os cintos de segurança retráteis totalmente para fora e observe se há alguma mancha ou mau cheiro na fita.
- Observe marcas no revestimento do teto.
- Deslize os bancos para frente e verifique a presença de oxidação nos trilhos e alavancas de acionamento.
- Com um telefone celular na posição dos pedais, fotografe de baixo para cima a coluna de direção e observe marcas de oxidação nas partes de metal expostas.
- Observe resíduos de terra ou poeira no interior dos instrumentos (painel de comando).
- Abra o porta-malas e verifique no alojamento do pneu estepe a presença de oxidações nas partes metálicas.
Exterior
- Verifique se existem incrustações de terra ou poeira em superfícies de difícil acesso, próximas aos frisos e molduras, grades e alojamento dos vidros.
- Verifique nos faróis, faroletes e lanternas a presença de terra ou poeira em seu interior.
Parte inferior
- Procure por oxidações em partes de metal e alumínio.
- Procure por restos de lama ou terra.
Cofre do motor
- Verifique incrustações em partes de alumínio, como radiadores e condensadores.
- Verifique se há presença de lama ou terra em pequenos “nichos” ou “cavidades”.
- Verifique a coloração ou sujeira na vareta de medição do óleo do motor.
Produção: Leonardo Martins