Bairros de Rio Grande voltaram a sofrer alagamentos, em alguns pontos acima de um metro, nas proximidades da Lagoa dos Patos. Nos últimos dias, a água tem subido a partir do meio da tarde e, depois, recuado até o amanhecer.
Nesta quinta-feira (9), o avanço foi mais severo do que na véspera. Por volta das 16h, a lagoa já tinha progredido sobre a região do Mercado Público, chegando à Rua General Osório, onde um centro geriátrico transferiu alguns idosos. Pessoas deixavam moradias carregando pertences, comerciantes baixavam portas e carros partiam de garagens apressadamente.
O alagamento, após às 17h, ultrapassava a altura do joelho de um adulto no entorno da Santa Casa do Rio Grande e do Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Jr. (HU-Furg), que são vizinhos.
A Santa Casa divulgou nota informando que o acesso principal do hospital foi temporariamente modificado e que as consultas, exames e cirurgias eletivas estão suspensas por tempo indeterminado pelo impacto das cheias. A prioridade é atender urgências e emergências. O HU-Furg removeu pacientes do térreo para andares superiores. Atendimentos que não sejam emergenciais também foram suspensos.
Pouco depois das 19h, as regiões dos hospitais e do Mercado Público, que são próximas, continuavam com significativos volumes de alagamentos, mas a subida da Lagoa dos Patos havia estagnado.
A Avenida Portugal, que corta o bairro Cidade Nova, foi definitivamente alcançada nesta quinta-feira no final da tarde. Em ruas como a Padre Feijó, que liga a lagoa com a Avenida Portugal, a água avançou por pelo menos 400 metros, aponta medição feita pelo Google Maps.
Um condomínio residencial na Avenida Portugal, com 144 apartamentos, teve o miolo de circulação entre as duas linhas prediais tomado pela água. Nos imóveis mais ao fundo do terreno, onde há leve declínio, moradores informaram que a água alcançou cota de 40 centímetros dentro dos apartamentos térreos. Diversas pessoas deixavam as habitações populares carregando sacolas e aparelhos eletrônicos.
Uma dessas moradoras foi Silvia Bastos. Ela reside no terceiro andar de um dos blocos e já estava abrigada na casa de uma filha. Voltou nesta quinta-feira apenas para levar alimentos que estavam na geladeira e ameaçavam estragar com a falta de energia elétrica.
— É a primeira vez na vida que vejo acontecer isso. Tenho problema na coluna. O mais difícil foi caminhar na água. Só volto quando tudo isso passar. Não quis permanecer porque ficaria sem poder sair (de casa). Não teria nem para quem pedir socorro. No meu bloco não tem mais ninguém — relata Silvia.
Um pouco adiante de onde ela repousava após ter carregado sacolas através da água, caminhonetes com reboques se acumulavam para o resgate de geladeiras e outros bens de habitantes da região.
A prefeitura informou, na noite desta quinta-feira, que a Lagoa dos Patos estava 92 centímetros acima do nível normal. A maior cheia histórica de Rio Grande ocorreu em 1941, quando a água chegou a 1,25 metro além do habitual.
A gestão municipal estima que, ainda nesta crise climática, o recorde poderá ser superado.
A elevação da enchente ampliou a quantidade de atingidos nos abrigos municipais, e a prefeitura informou que precisaria de tempo para atualizar os números de acolhidos.
Rio Grande e a zona sul são apontados como um novo epicentro da crise climática que atinge o Rio Grande do Sul pelo fato de a Lagos dos Patos receber a água de rios que estouraram a cota de inundação, como Taquari e Jacuí, além do lago Guaíba. O vento vinha soprando nordeste nos últimos dias, o que ajudou a empurrar a água para o escoamento rumo ao Oceano Atlântico. Contudo, houve uma virada ao sul a partir do final da tarde de quarta-feira, fator de represamento da lagoa, que acaba avançando sobre parte da cidade.
Apesar da larga quantidade de água recebida, as cheias em Rio Grande têm se mostrado voláteis, com subidas e descidas frequentes, motivadas pelo vento. O deslocamento hídrico tem ocorrido sem violência ou formação de enxurradas até o momento. Pela característica geográfica da cidade, a água tem se espalhado pelo terreno plano sem alcançar altas cotas de inundação como as vistas no Vale do Taquari e na Região Metropolitana.