Às margens da BR-386, no bairro Hidráulica, em Lajeado, a loja da Havan ficou debaixo d'água. A réplica da Estátua da Liberdade lembrava um filme de catástrofe, o que não ficou tão distante da realidade.
O trecho da estrada entre Lajeado e Estrela apresenta congestionamentos nos dois sentidos. Qualquer deslocamento, em determinados horários, pode levar horas para ser concluído. Parados, os motoristas e passageiros observam os destroços que estão por todos os lados.
A reportagem de GZH circulou pela região nesta quarta-feira (29) e conversou com comerciantes e moradores para ver como esses problemas nos acessos prejudicam o comércio e a circulação de quem vive nas imediações. Na frente da Havan, era possível ver caminhões, retroescavadeiras e outros veículos do gênero em ação. Tratava-se de uma grande operação de limpeza.
O barro atrapalha os deslocamentos e atravanca os caminhos. Calçadas e muros estão começando a ser reconstruídos. Mas o processo é vagaroso e deverá levar alguns meses. Por enquanto, o que foi destruído se eleva nesta balança com o que é preciso ser refeito.
Proprietário de uma loja de autopeças em frente à BR-386, Wanderlei Scherer, 57 anos, estava em meio ao que sobrou do local de trabalho e sustento, com parte dos braços enlameados.
— A minha vida toda está aqui. Além disso, perdi um sítio que tenho em Estrela. A água levou até as árvores. Sumiu tudo — relata Scherer, que estima o prejuízo em R$ 1,5 milhão.
A oficina de dois pisos existia havia 30 anos e tem clientes fiéis. Ao lado, ele vivia com a família em uma casa, que também ficou em ruínas. A área somada tem cerca de 250 metros quadrados. O Rio Taquari cobriu tudo. Agora, todos moram provisoriamente no apartamento da mãe dele, já falecida.
— Não sou só eu nesta situação. A gente não está sozinho — diz, garantindo que pretende recomeçar no mesmo ponto.
Poucos metros ao lado, a empresária Helena Farias, 42, proprietária da Splash Piscinas, enfrenta outro tipo de problema. Com os congestionamentos na estrada, os clientes não conseguem acessar o estabelecimento. E os engarrafamentos ocorrem ainda nas ruas de trás, utilizadas por diversos motoristas como atalhos.
— O pessoal liga antes de vir e pergunta como está o movimento na estrada. Já fechamos alguns negócios, mas sentimos uma queda nas vendas — revela Helena.
O receio é de mais queda nos negócios, já que o produto comercializado não representa um artigo de primeira necessidade. Com poucos visitantes, a empresa envia funcionários até os clientes. E aí surge outro problema do atual contexto da região.
— Algumas visitas de nossos funcionários demoram até cinco horas, para ir e voltar. Eles precisam passar pelos passadiços flutuantes e ainda pegar Uber — ilustra.
Muitos caminhões podem ser vistos recolhendo restos de árvores e vegetais ao lado da ponte entre Lajeado e Estrela, já liberada para o trânsito.
Lavador de caminhões, Augusto Oliveira, 20 anos, trabalha na Apomedil, no bairro Carneiros. Para chegar ao local, precisa fazer malabarismos. Antes, deixava o carro na concessionária. Desde a enchente, estaciona em outro bairro, atravessa a passarela da BR-386 e ainda caminha um trecho expressivo.
— Está sendo bem difícil. As atividades estão paradas. Quem quiser comprar um caminhão hoje não consegue — compartilha.
Moradores também sofrem com a situação. A jornalista Fernanda Mallmann, 46 anos, acompanhava na rua a mãe Irene Mallmann, 74, que precisava fazer óculos novos. Além da confusão causada pela destruição no Vale do Taquari, a chuva dos últimos dias atrapalha a rotina da aposentada. Mas nesta quarta fez sol e o compromisso foi realizado.
— É um transtorno. Está sempre chovendo — comenta a filha.
Para realizar as tarefas, as duas precisaram fazer o trajeto a pé. Era isso ou ir até Estrela, o que tem levado horas de carro. A mãe, que mora na Avenida José Bonifácio, perto da BR-386, sabe que o segredo neste momento de incertezas e de incontáveis perdas passa pela paciência.
— Eu dependo dos filhos — conforma-se a idosa.