Após trabalharem no resgate às pessoas que ficaram ilhadas durante a enxurrada que atingiu o Rio Grande do Sul, bombeiros, policiais e militares do Exército seguem nas buscas aos desaparecidos. A Defesa Civil do RS contabiliza 46 pessoas que não foram encontradas após a enchente e 41 mortos, mas os moradores creem que esses números possam ser ainda maiores. A operação envolve, por vezes, a localização de corpos, que precisam ser removidos de pontos isolados e depois identificados por familiares.
Para realizar as buscas, as aeronaves partem do Parque do Imigrante, em Lajeado, com um tripulante em cada porta, que observa o terreno. O helicóptero voa baixo, fazendo a cobertura da extensão do Rio Taquari para tentar identificar indícios da presença de alguma pessoa. Ainda durante a fase dos salvamentos, quando algum sobrevivente era avistado, era preciso aproximar a aeronave de estruturas, como casas, que estavam prestes a serem carregadas pelas águas.
— Tivemos casos em que momentos após as famílias serem retiradas, a aeronave se afastou e a casa foi levada pela correnteza. Foi aquele segundo que foi a diferença entre a vida e a morte dessas pessoas. Elas inclusive chegaram a ver outras pessoas sendo levadas — narra o comandante da Companhia Especial de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros do RS, o tenente-coronel Ricardo Mattei, responsável pela coordenação das operações aéreas.
Em outros casos, quando não era possível aproximar a aeronave, o resgate era feito por um dos tripulantes, que descia usando a técnica de rappel. As buscas chegaram a contar com 11 helicópteros para realizar esse tipo de trabalho. Na manhã desta sexta-feira (8), havia seis aeronaves no Parque do Imigrante, decolando a todo momento, tanto para a entrega de mantimentos aos ilhados, quanto para as buscas aos desaparecidos.
— Claro que a meta inicial é tentar localizar pessoas com vida, e também, se possível, identificar a possibilidade de corpos, como já aconteceu. Infelizmente, com a utilização da aeronave, nós localizamos os corpos de duas crianças, uma de dois anos e um bebê. Claro que nesses casos, existe a possibilidade de que, se as crianças foram perdidas, os pais também tenham sido e estejam nesta lista de desaparecidos — explica Mattei.
Nesta sexta, o repórter fotográfico Mateus Bruxel sobrevoou com o Corpo de Bombeiros as regiões alagadas e onde estão acumulados os destroços que restaram das cidades atingidas. É no meio desses escombros que as equipes acreditam que pode estar parte das vítimas que desapareceram durante a enchente. Num dos pontos acessados em Colinas, município de 2,4 mil habitantes, a equipe desembarcou.
— As árvores serviram como um paliteiro, que reteve todo tipo de material — narrou o repórter no local, que passará por buscas com cães.
Nos casos de localização de corpos, por questão humanitária, há um acordo com o Instituto-Geral de Perícias (IGP), segundo o comandante, para que as próprias equipes das aeronaves façam a remoção da vítima via helicóptero.
— Depois que passa a operação, a gente reúne o pessoal, faz uma reza com eles, para buscar energia superior para continuar cumprindo a missão. A gente tem de manter essa estrutura. O psicológico é afetado, claro. Todos temos filhos, parentes — afirma o comandante Mattei.
Reforço de outros Estados
Além do Corpo de Bombeiros e da Brigada Militar, aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB), da Polícia Militar e dos bombeiros de Santa Catarina, da Polícia Militar e dos bombeiros do Paraná e Polícia Rodoviária Federal (PRF) participam da operação de socorro.
— Nós nos deslocamos com duas aeronaves para cá, uma da Polícia Militar de Santa Catarina e uma dos bombeiros. Hoje deve chegar mais gente de Santa Catarina. Está vindo o pessoal com cães, que têm expertise nesse trabalho de enchentes, várias vezes fomos acometidos no Estado com esse tipo de tragédia — explica o major Jacques Henrique Martins, do Batalhão de Aviação da PM de Santa Catarina.
Um dos casos atendidos pelos policiais militares de Santa Catarina ocorreu em 2008, com deslizamentos no Vale do Itajaí, quando cerca de 30 aeronaves foram empregadas nas buscas aos desaparecidos. Houve ainda enchentes na região de Criciúma em 2011.
— Acontece bastante esse tipo de tragédia lá, não exatamente com a mesma intensidade que aconteceu aqui, mas a gente tem uma certa experiência nisso. Saber o que vai acontecer, quais os próximos passos, o que precisa ser feito para resgatar uma pessoa. Como se aproximar perto de uma casa, saber que o telhado pode voar. Isso acaba ajudando e diminuindo o tempo de resposta, para que a gente possa salvar o maior número de pessoas possível — diz o major.