Um dos sete haitianos mortos em explosões de um silo de grãos, em Palotina, no Paraná, deixa a esposa grávida de oito meses, segundo Jean Michelet, primo de Louis Michelet, uma das vítimas da tragédia. Além dos imigrantes, um trabalhador brasileiro também morreu no acidente.
Segundo o portal g1, o parente está emocionalmente abalado e não sabe qual será o destino da família que veio para o Brasil e, sobretudo, da que ficou no Haiti.
"Trabalhamos todo mês para mandar dinheiro para família no Haiti. O pai do meu primo tem 11 filhos, só ele que saiu para o Brasil. Agora como fica? A mulher dele também tem família lá. Como vai ficar? Ela está grávida de oito meses. É muito difícil", relata Jean.
O familiar também explica que ele, o primo e a esposa decidiram vir para o Brasil após um forte terremoto no Haiti, em 2010. O fenômeno, segundo ele, tornou a vida da população muito difícil.
Os imigrantes, de acordo com o relato, viviam e trabalhavam de forma regular no Brasil. Além disso, apoiavam financeiramente os familiares que ficaram no país de origem.
Vítimas são veladas nesta sexta-feira
Os corpos dos trabalhadores que morreram nas explosões do um silo estão sendo velados nesta sexta-feira (28). Os sete haitianos são velados coletivamente no ginásio de esportes de Palotina, com a presença da comunidade haitiana que vive no município. O brasileiro será velado em uma capela particular.
"Um dia lamentável, estamos todos de luto, uma tragédia ver aqueles sete caixões ali, com a bandeira do nosso país, isso arrebata o coração de qualquer um. (...) Todo haitiano que sai de sua terra é em busca de uma vida melhor, além do próprio sustento da família que deixam (no Haiti)", afirma Ruth Nicolas, professora haitiana de línguas ao g1.
Segundo ela, que também é porta-voz da ONG Embaixada, que dá suporte a imigrantes que chegam no oeste do Paraná, os velórios no Haiti são diferentes do Brasil. Lá, as cerimônias costumam demorar dias para que todos os familiares e amigos possam se despedir do ente querido. Isso é o oposto ao que acontece com os imigrantes que trabalhavam no silo. Muitos não tinham familiares e amigos no país.
As explosões
O incidente, que envolveu explosões sequenciais em um silo de armazenagem de grãos, aconteceu nesta quarta-feira (26). De acordo com o a cooperativa C.Vale, que utilizava o espaço, dos oito mortos, um é funcionário da C.Vale. Os outros sete são terceirizados do Sindicato dos Trabalhadores na Movimentação de Mercadorias (Sintomage).
Outras 11 pessoas ficaram feridas, dessas, nove estão em estado grave. Um homem de origem haitiana está desaparecido e os bombeiros fazem buscas. A hipótese é de que ele esteja soterrado sob 10 mil toneladas de soja.
As causas das explosões ainda são investigadas pela Polícia Civil. O Ministério Público do Trabalho (MPT) também está acompanhando o caso.
Saiba quem são as vítimas
- Louis Michelet - 41 anos (haitiano)
- Jean Michee Joseph – 29 anos (haitiano)
- Jean Ronald Calix – 27 anos (haitiano)
- Donald ST Cyr – 24 anos (haitiano)
- Alfred Lesperance – 44 anos (haitiano)
- Eugênio Metelus – 53 anos (haitiano)
- Reginaldo Gegrard – 30 anos (haitiano)
- Saulo da Rocha Batista – 53 anos (brasileiro)
Veja a nota da C.Vale
"A C.Vale informa que está prestando apoio integral às famílias das vítimas da explosão dos silos ocorrida em 26 de julho. As ações incluem o acompanhamento hospitalar, apoio aos familiares, disponibilidade de transporte aos parentes de vítimas que se encontram internadas em hospitais de outros municípios, apoio e contato com serviço público de assistência social e disponibilização de médicos e enfermeiros.
A cooperativa também liberou do trabalho os colaboradores que quiserem participar dos velórios, questão que está sendo acompanhada pelo Ministério Público do Trabalho e pelo Poder Judiciário. Mais de 200 profissionais coordenados por um Comitê de Gerenciamento de Crise estão envolvidos nas operações de resgate e apoio aos familiares e vítimas da explosão.
Por fim, a C.Vale informa que tem diversas unidades espalhadas por todo Brasil, sendo que as atividades continuam funcionando normalmente, com exceção da unidade atingida."