Um dos palcos da Revolução de 1923, a Lagoa da Mortandade — situada na localidade de Carajazinho, no interior de Eugênio de Castro, na região das Missões — secou. Um século após o confronto entre chimangos e maragatos cobrir as águas de sangue, o cenário é de desolação por outro motivo: a estiagem. O que se vê são rachaduras salientes nos 2,7 hectares do local.
Há cem anos, em 17 de outubro de 1923, no local conhecido na época como Lagoa Chaine, houve batalha entre chimangos (partidários do então presidente do Estado, Borges de Medeiros) e maragatos (revolucionários). O conflito, que fez parte da Revolução de 1923, deixou diversos mortos. Os relatos são de que corpos foram deixados na água, que ficou vermelha de sangue, o que fez surgir o nome que perdura até os dias de hoje.
— Na minha opinião, o que aconteceu na Lagoa da Mortandade foi assoreamento em razão de terem sido feito lavouras até praticamente dentro dela — afirma o servidor público municipal Téo Knolow, 62 anos, lembrando como era o local há 30 anos, quando o visitou pela última vez.
No livro Rio Grande do Sul – Um Século de História, o jornalista Carlos Urbim escreve acerca da Revolução de 1923.
"(…) Nos 10 meses de peleias, não se registrou em 23 nenhum combate decisivo. Foram lutas dispersas pelos campos, com muitos tiroteios e correrias. Nos primeiros meses, os rebeldes liderados por Assis Brasil queriam depor o chimango Borges de Medeiros. Esperavam a intervenção do presidente (do Brasil) Artur Bernardes. Como essa possibilidade se tornou cada vez mais remota, os maragatos e os caudilhos da oposição adotaram a estratégia de obter uma paz honrosa", relatou.
Atualmente, uma cruz branca, com um lenço vermelho amarrado, e um marco à beira da lagoa lembram a batalha de outros tempos. Também há uma frase em uma placa de Honório Lemos, o Leão do Caverá, líder dos revolucionários: "Quero leis que governem homens e não homens que governem leis".
A prefeitura de Eugênio de Castro, que decretou situação de emergência em 31 de janeiro em razão da estiagem, assumiu a gestão da lagoa no ano passado. O objetivo do Executivo municipal é revitalizar a área e promover a história e o turismo do local. Porém, se depender do clima no Rio Grande do Sul, será preciso esperar pelas chuvas. E em abundância, até a lagoa voltar a ser o que era.
Saiba mais
Laudo recente da Emater/Ascar de Eugênio de Castro mostra que o município não recebe chuvas significativas desde 28 de dezembro de 2022. Os prejuízos agrícolas superam os R$ 103 milhões, com perdas em torno de R$ 90 milhões na soja, e de R$ 11 milhões no milho.