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Sete adolescentes e jovens foram resgatados de um alojamento em Teutônia, no Vale do Taquari, em condições análogas à escravidão. As vítimas têm idades entre 15 e 23 anos. Conforme investigação da Gerência Regional do Trabalho e do Ministério Público do Trabalho (MPT), eles vieram de outros Estados para se tornarem jogadores de futebol. Os atletas chegaram a um clube recém-criado, Levi Futebol Clube, que não conta com profissionais especializados. A reportagem é do G1 RS.
O treinador e presidente do clube, Eduardo Felipe Duarte da Silva, afirmou
à reportagem da RBS TV que os atletas "já vinham sabendo que a prioridade seria o trabalho" e que "tentou agregar o trabalho com os treinos, porque muitos atletas não têm condições". Segundo Silva, "tentou ajudar e acabou ainda se prejudicando com isso".
De acordo com a Gerência Regional do Trabalho, o Levi FC servia de cortina de fumaça para tráfico de pessoas e trabalho semelhante ao escravo. A investigação aponta que o clube se aproveitava da vulnerabilidade dos jovens para explorá-los.
— O que os atletas foram percebendo, com o passar do tempo, é que os treinos eram pouco efetivos. A estrutura era muito precária, e esse sonho não seria realizado — atesta a auditora fiscal do trabalho Lucilene Pacini.
Um jovem, que prefere não ser identificado, é do Nordeste e jogava em Goiânia (GO) quando recebeu a proposta para vir ao Estado. Como estava com o irmão doente e precisava juntar R$ 15 mil para custear uma cirurgia, aceitou o convite. Ele conta que teve de procurar emprego em uma fábrica para conseguir pagar o alojamento. Pouco treinava.
— Tudo que a gente ia fazer tinha que ser pago. Transporte, alimentação para jogo quando era fora. Em questão de treino também era horrível, não tinha aquela alimentação boa — relata.
A denúncia sobre a condição dos jovens chegou até as autoridades por meio de um entregador de gás. Ele foi realizar uma entrega no alojamento e desconfiou do que viu. Segundo o homem, a estrutura era precária para a quantidade de pessoas no local.
A fiscalização da auditoria do trabalho fechou o alojamento no final de novembro. O local apresentava uma série de irregularidades. Um exemplo foi visto na cozinha, onde os fiscais encontraram alimentos estragados.
Três adolescentes foram levados para um abrigo da prefeitura. Os outros quatro jovens foram recebidos na casa de pessoas de Teutônia.
De acordo com o MPT, esse foi o primeiro caso de resgaste de trabalhadores em condição análoga à escravidão envolvendo futebol no Estado.
— A condição de trabalho escravo se verificou pelas condições degradantes que esses meninos viviam. Eles precisavam pagar pelo alojamento, pela alimentação, pelo agenciador por essa vaga, pelos treinos que seriam feitos, pela formação que, supostamente, teriam. Não aconteceu nada — ressalta a procuradora do MPT Franciele D’Ambros.
Multa
A Gerência Regional do Trabalho multou o Levi FC em R$ 38 mil. Após a conclusão da investigação, o caso será encaminhando à Polícia Federal. A maioria dos 22 jovens que chegaram a morar no alojamento abandonou o time.
Dos sete resgatados, quatro voltaram para o seus Estados com viagens de avião pagas pela Federação Gaúcha de Futebol (FGF), que garante que o clube não era filiado e que nunca tinha ouvido falar no Levi FC.