A Copa do Mundo sempre foi uma data de ouro para a venda de TVs no Brasil. Historicamente, os anos do mundial de futebol tendem a ser mais fortes do que os seus antecessores para o comércio e, com as telinhas dando lugar aos painéis gigantes e às grandes resoluções – como o aparelho 8K –, uma corrida tecnológica para avançar cada vez mais na qualidade de imagem, som e sinal busca atrair clientes que não dispensam uma boa TV na hora do jogo da "amarelinha". Neste ano, haverá ainda uma rara conjunção que pode impulsionar ainda mais as vendas: a Black Friday no mesmo período da Copa.
O mercado passou por diferentes estágios de desenvolvimento tecnológico até chegar ao momento atual: as TVs de tubo com tela de baixas resoluções – que chegavam a 640 x 480 pixels – reinaram nos mundiais dos anos 80. Nos anos 90, apareceram as primeiras TVs com controle remoto e entrada para VHS. Nos anos 2000, tivemos os aparelhos de LCD, LED, plasma, full HD, OLED, QLED e 4K.
Agora, é a vez da TV 8K, equipada com recursos de inteligência artificial (IA).
— Todo ano de Copa há um aumento natural das vendas de TV com relação ao ano anterior. Mas, em 2014, a movimentação das vendas do item foi bem diferente, já que os jogos aconteceram aqui no Brasil, resultando em um aumento de volume de vendas de 25% e de faturamento, em torno de 22%. Para 2022, estimamos vendas em torno de 1,5 milhão de telas na preparação da Copa e da Black Friday — diz Fernando Baialuna, diretor de negócios e varejo da consultoria GFK.
Dados da empresa mostram que a tendência já havia se manifestado em 2018, quando houve crescimento de 19% em valor e de 15% em unidades.
O que é a tecnologia 8K?
Uma TV 8K tem um total de 33 milhões de pixels. Para efeito de comparação, o número é quatro vezes maior do que o da 4K e 16 vezes maior do que o da full HD.
A tendência da TV 8K é acompanhada por outra: telas grandes. Se antes uma TV de 32 polegadas era gigante, hoje o mercado só considera como produtos de telas grandes aqueles que têm, pelo menos, 65 polegadas. Com isso, a diluição de pixels em relação à área da tela é maior, levando a um efeito indesejado de aparente resolução baixa.
Em outras palavras, a medida chamada pixel por polegada (PPI) fica menor em TVs de telas grandes. Em uma TV 8K de 75 polegadas, o PPI é de 117. Já em uma TV 4K e full HD, a medida é de 59 e 29 PPI, respectivamente. Ou seja, a diferença na qualidade só vai ser perceptível nas telas realmente grandes.
Ainda assim, a questão do preço é uma barreira para a popularização rápida de novas tecnologias. Por isso, as fabricantes sul-coreanas líderes de mercado no país (Samsung e LG) apostam também em televisores com resolução 8K e tamanho de 55 polegadas, o que deixa o preço dos produtos abaixo dos R$ 10 mil. É alto, mas é menor do que antes. Há dois anos, uma televisão 8K não saía por menos de R$ 20 mil.
— Nossa estratégia buscou aproveitar um reconhecido marco temporal para a troca de TVs no Brasil – a realização do mundial –, que este ano acontece praticamente colado à Black Friday — relata Guilherme Campos, gerente sênior de TV e áudio da Samsung no Brasil.
Mercado
Em 2021, a consultoria Omdia estimou que foram vendidas 350 mil unidades de TVs com resolução 8K globalmente. A oferta de modelos com telas menores, como 55 polegadas, busca acelerar a velocidade de adoção da tecnologia de imagem. Em 2026, a Omdia prevê que serão vendidos 2,7 milhões de televisores 8K no mundo. Para a consultoria, o consumidor ainda é cético quanto à tecnologia 8K.
No Brasil, o mercado de TVs como um todo ainda enfrenta dificuldades para recuperar o patamar de vendas registrado antes da pandemia de covid-19. Ainda assim, o faturamento mostrou crescimento de 2019 para 2022, o que indica interesse do consumidor em produtos mais caros e sofisticados.
No primeiro semestre de 2022, o faturamento subiu 4,9% (após alta de 14% no mesmo período no ano anterior) nas vendas de TVs no país, enquanto o volume caiu 1,2% (após queda de 13,8% no primeiro semestre de 2021). Conforme a Copa do Mundo se aproxima, as vendas de TVs 8K aceleram, uma tendência observada em agosto e setembro pela GFK. Ainda assim, a aposta com o mundial é grande.
— Em 2018, tivemos um aumento expressivo na demanda por TVs TCL no Brasil em relação aos dois anos anteriores, o que foi impulsionado pelo último campeonato mundial de futebol e, para 2022, estamos confiantes — afirma Maximiliano Dominguez, diretor de engenharia e produto da Semp TCL.
Nacionais
As empresas brasileiras voltaram a marcar presença no segmento de televisores nos últimos anos. A Multi, antiga Multilaser, é um dos casos. O primeiro televisor da nova safra da companhia veio em 2018, alguns meses depois da Copa do Mundo.
— Temos novos produtos em desenvolvimento da Toshiba no Brasil. Esse é o caso do lançamento de telas OLED como produtos topo de linha para concorrer com as empresas que já vendem esses aparelhos — conta Fernando Nogueira, diretor de telas Multi e Toshiba.
Os modelos com tecnologia OLED devem chegar ao mercado até o fim do ano.