A venda de lugares na fila para atendimentos em serviços públicos é uma prática antiga. Para tentar acabar com isso, surgiram os agendamentos pela internet. Porém, o problema segue sendo registrado. Em Uruguaiana, na Fronteira Oeste, o Instituto-Geral da Perícias (IGP) descobriu um esquema de venda de lugares na fila para confecção de carteiras de identidade na unidade.
Segundo o IGP, uma mulher reservava as vagas disponíveis para Uruguaiana no site da instituição, usando nomes de parentes ou de pessoas fictícias. Chamou atenção que ela cadastrava sempre o mesmo número de telefone.
Depois de fazer o agendamento, ela vendia, em uma rede social, por R$ 20 os horários reservados. Assim que recebia o pagamento, a mulher cancelava seu próprio agendamento e, imediatamente, fazia a reserva em nome da pessoa que havia comprado a vaga.
A ocorrência foi registrada pelo IGP na Polícia Civil, com a apresentação dos prints dos anúncios na rede social da mulher e a relação de agendamentos e cancelamentos, na qual constam os nomes e telefones repetidos.
Em um único dia, conforme o IGP, 15 das 18 vagas oferecidas pela internet foram reservadas por esta pessoa. No mês de setembro, dos 66 agendamentos cancelados pelos usuários, 48 tinham o mesmo número de celular para contato. O esquema acontece, pelo menos, desde o mês de agosto.
A chefe do setor de identificação da 7ª Coordenadoria Regional de Perícias, Adriana Fernandez, conta que os frequentes relatos de pessoas que não conseguiam o agendamento pelo site causavam preocupação.
— Isso nos surpreendia, pois são disponibilizados diariamente, além dos agendamentos presenciais e preferenciais, 18 horários digitais. Estranhávamos também que, embora todos os agendamentos fossem ocupados, muitos agendados não compareciam — relata a servidora.
Em Uruguaiana, parte das vagas para o encaminhamento das carteiras de identidade é reservada para o agendamento eletrônico, que pode ser feito gratuitamente pelos sites www.igp.rs.gov.br e www.rs.gov.br. Por dia, o posto de identificação de Uruguaiana encaminha entre 65 e 75 documentos.
Segundo Adriana, a maioria das ausências no posto de Uruguaiana pode ser explicada pela atuação da mulher. As vagas não vendidas geravam lacunas nos horários, deixando os atendentes ociosos e impedindo o acesso da população ao serviço.
— Esta prática dificulta o direito do cidadão ao uso de um serviço totalmente gratuito, gera filas de espera no atendimento presencial e prejudica a imagem do IGP — sustenta Adriana.
Todos os agendamentos feitos por essa mulher foram desmarcados pelo posto do IGP. A direção do órgão alerta para que as pessoas denunciem casos como esses e jamais faça o pagamento pelo horário.