Há um ano e meio, Karla Mombach, 57 anos, plantou uma ideia em um pequeno punhado de terra: sementes de feijão que carregam consigo palavras de motivação, como “paz”, “felicidade”, “amor” e “dinheiro”, escritas à mão. Na situação atual da humanidade, a sentença mais vezes replicada não poderia ser outra que não “saúde”, afirma a artesã.
Mais do que vislumbrar prosperidade na colheita, as Sementes do Bem, como foram batizadas, geram resultados imediatos a uma família de Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. Órfãos de pai, sem mãe presente, dois irmãos ficam com 100% dos valores arrecadados na venda das plantas. Os garotos são cuidados pela avó.
— Eles já viviam em dificuldade financeira, e em 2020 o pai, que era vendedor ambulante, morreu. Agora, têm apenas a aposentadoria da avó, que vai quase toda para o aluguel da casa — explica Karla.
Cada semente é comercializada a R$ 1, preço que dobra com o suporte de um vaso. Agregado a um pequeno arranjo e uma porção do solo para cultivo, sobe a R$ 4. A espécie da planta é a feijão-de-porco, tradicionalmente utilizada para adubo orgânico.
Hoje, Karla é assistente social aposentada, mas não deixa de prestar apoio a quem vive à mercê do poder público, como comprova pelas centenas de fotografias salvas no telefone celular, cada uma com sua história.
A idealizadora do projeto conheceu a família auxiliada quando atuava pelo município de Novo Hamburgo. Além dos custos com o arrendamento do imóvel em que vivem, a idosa e seus dois netos precisam pagar empréstimos com desconto em folha, o que consome o benefício quase integralmente. Um dos garotos é autista, e demanda cuidados extras.
Em um misto de orgulho pela escolha profissional e a intrínseca vocação de todo assistente social, ela também criou um mantra, de dez palavras: “nunca perca a capacidade de se importar com o outro”.
— Tu colhes aquilo que tu plantas. E é assim com a semente, que tem essa ideia de semear o bem. Espalhar o bem — utiliza a figura de linguagem.
O marido, Romário Mombach, 60 anos, é representante comercial. Mas garante que tanto ele quanto o casal de filhos foram “contaminados” pelas constantes correntes solidárias iniciadas em casa:
— Não tem nada impossível para ela. E é sempre assim, de coração, sem querer nada em troca.
As sementes de Karla chegaram à redação de GZH através de uma carta, redigida à próprio punho pela assistente social. O contato para aquisição dos grãos é mais moderno, através do WhatsApp (51) 9-9988-7771.
— Vai que uma empresa queira dar de presente a seus funcionários, e ainda por cima ajuda a família. E como eu sempre digo, vai nascer aquilo que plantar. Se plantar amor, nasce amor, se plantar esperança, nasce esperança — finaliza, com o desejo de uma safra recorde.
Ouça a entrevista de Karla Mombach ao programa Gaúcha Hoje, da Rádio Gaúcha: