Por volta de 19h desta terça-feira (30), o ônibus com 45 familiares e vítimas da tragédia da boate Kiss chegou na Tenda do Cuidado, no estacionamento da EPTC, em Porto Alegre. No local, eles serão acolhidos durante o julgamento do caso, que começa às 9h de quarta-feira (1º).
Os integrantes da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) desembarcaram do coletivo vestindo camisetas com a frase "Kiss: é hora da justiça". Em um ato simbólico, estenderam uma faixa com as fotos e nomes de todas as 242 pessoas que morreram no incêndio.
Em entrevista coletiva, o presidente da Associação, Flávio Silva, comentou sobre as expectativas das famílias para o julgamento:
— A Kiss não matou apenas aqueles 242 jovens. Ela continua matando até hoje. Nós perdemos vários pais e várias mães que foram pegos por outras doenças e, até mesmo, devido à baixa imunidade e ao sofrimento.
O grupo foi recepcionado pelo prefeito de Santa Maria, Jorge Pozzobom, pelo secretário do Desenvolvimento Social de Porto Alegre, Léo Voigt, e por integrantes do Ministério Público.
— A nossa equipe acompanhou a saída deles (familiares) lá de Santa Maria. A nossa missão era construir essa relação com as famílias. Este momento, de início do julgamento, é o mais delicado, quando eles começam a reviver tudo o que aconteceu — disse o prefeito de Santa Maria, Jorge Pozzobom.
"Todos os dias a gente revive"
Natural de Alegrete e moradora de Pelotas, Kelen Ferreira, 28 anos, é uma das sobreviventes da tragédia. Após 78 dias hospitalizada, sendo cinco destes em coma, ela restou com 18% dos braços queimados e o pé direito amputado. Quelen chegou a Porto Alegre de carro com o marido para facilitar o acesso com a prótese, que seria mais difícil a bordo do ônibus. No entanto, ficará hospedada no mesmo espaço que os demais integrantes da AVTSM. Ela testemunhará no julgamento, mas comenta que a permanência na Capital dependerá do seu estado emocional.
— Pretendo acompanhar uns três ou quatro dias e depois voltar. Eu espero que eles sejam condenados. São muitas sensações que nós temos. Todos os dias a gente revive, mas, de um mês pra cá, veio tudo mais intenso. Tive apoio da família. Faço tratamento psiquiátrico, psicológico, mas precisei aumentar a dose da medicação — conta.