Um dia e meio após o temporal que atingiu o Rio Grande do Sul, uma parcela da população sente os transtornos de ficar sem energia elétrica — atualização das 18h30min deste sábado (27) aponta o total em cerca de 5 mil imóveis. A área atendida pela Rio Grande Energia (RGE) é a mais afetada, com 4,9 mil pontos desabastecidos, especialmente na Região Metropolitana, onde vive o bancário Vitor Pereira de Almeida, 40 anos.
— Passar sem energia é complicado. Levamos comida, outros itens da geladeira pra minha sogra, que mora perto. Banho, também tivemos que ir pra lá — relembra o funcionário público, morador do bairro Montebelo, em Gravataí.
O motorista de aplicativos, Alex Moraes, 31 anos, teve de buscar um gerador para atender as demandas de casa. Morador de Cachoeirinha, ele vive com uma filha cadeirante, que recentemente passou por uma cirurgia no quadril.
— A gente não conseguia nem dar banho nela, no escuro. Me sinto como todo brasileiro, sendo roubado — define, indignado.
Dos clientes da CEEE Equatorial, 180 ainda estão no escuro, todos casos pontuais na Região Metropolitana.
— Temos duas geladeiras com freezer. Em 24 horas, somente com uma das três fases (da rede de energia), sem dúvida já perdi tudo — lamenta o representante comercial José Reinaldo Moreira Reis, 75 anos, morador do bairro Santa Fé, zona norte da Capital.
Reis diz que, na noite passada, teve de se mover em casa por luzes de emergência. Não pôde esquentar comida no micro-ondas e iniciou o final de semana sem uma de suas distrações: o computador.
— Hoje em dia, ficar sem internet, sem poder ligar o computador, é complicado também — complementa.
Motorista de ônibus, Carlos José Duarte, 51 anos, se preocupa com a saúde do seu filho, diabético. Para não ter de descartar as ampolas de insulina, recorreu aos vizinhos.
— O tempo todo a gente precisa bater, incomodar o vizinho, e pegar. É a saúde dele. As vezes volta e fica tudo piscando, então, não dá pra deixar nada na tomada, ou pode queimar — cuida o condutor.
O transportador teve a água cortada como reflexo da falta de energia, mas o serviço retornou ainda ontem. Carne moída e pedaços de frango já foram para o lixo. A família gasta o combustível do carro para carregar os telefones: Duarte liga o motor e os celulares são conectados ao painel — a necessidade de ligar o veículo é para não matar a bateria do Chevrolet Ônix.
— Eu nunca deixei de pagar uma conta, e a gente paga caro, tem direito de ter água e luz — defende, sobre os serviços básicos.
Neste sábado, ele garante que há luz no lado oposto de sua, a Jozino Liotti, bairro Jardim Algarve, em Alvorada.
Não há previsão para normalização do sistema em todo o Estado.