Uma iniciativa na Região Central está dando uma ajudinha a projetos que promovem igualdade e transformação social. Uma empresa vinculada à Incubadora Tecnológica da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) se transformou na ponte que liga pessoas interessadas em apoiar as causas e organizações não-governamentais (ONGs) que precisam de doações para manter seu trabalho.
A ideia da Sou Parte é facilitar e tornar as doações mais práticas, dando uma possibilidade de sustentabilidade financeira às entidades. A iniciativa nasceu de uma conversa entre o professor Luciano Mattana e a aluna Mari Luana Pozzobon em uma aula do curso de Publicidade da instituição.
Funciona assim: quem tem interesse em doar deve acessar a plataforma e fazer um breve cadastro; depois, escolhe quanto quer doar e para qual instituição o valor será destinado. A pessoa pode escolher qual a forma de pagamento — cartão de crédito, boleto ou Pix. É possível fazer uma doação única, mas a ideia é estimular que a ajuda seja recorrente, mês a mês.
A plataforma foi desenvolvida para que nem o doador nem a ONG tenham trabalho, já que os valores são debitados automaticamente. Uma notificação é sempre enviada ao apoiador antes de a quantia ser descontada.
Lançada no começo de abril, a Sou Parte já vê seus primeiros passos dando resultados. Até julho, uma quantia de cerca de R$ 1,5 mil foi arrecadada, vinda de 31 doadores. Por enquanto, duas ONGs, ambas de Santa Maria, estão cadastradas e ativas na plataforma: a Estação dos Ventos, que se dedica a atender crianças e adolescentes, e o Lar Vila Itagiba, que cuida de idosos. Outros oito projetos sociais passam pelo processo de aprovação. Para ser incluída na plataforma, a entidade precisa passar pelos critérios estabelecidos pela Sou Parte.
No site da empresa, um sistema de transparência foi criado para que o doador saiba quais os gastos de cada ONG e como o dinheiro é utilizado pelas entidades.
O objetivo da empresa é impactar diretamente em um dos principais desafios encontrados por projetos sociais: arrecadar dinheiro de forma recorrente.
Na maioria das vezes, as doações recebidas são de alimentos e roupas, de forma esporádica. Assim, as entidades acabam acumulando despesas em aberto, como o pagamento de contas de luz, água, telefone e internet e os salários de psicólogos, assistentes sociais e cuidadores, por exemplo.
— Outro problema é que muitas doações são pontuais, elas ocorrem uma ou outra vez e param. As instituições nunca sabem como será o próximo mês. Com essa plataforma, nós podemos resolver esses dois desafios: doar dinheiro de forma regular — explica Mattana, também coordenador do curso de Publicidade da UFSM e um dos responsáveis pela iniciativa.
Por enquanto, apenas instituições de Santa Maria podem entrar na plataforma. Com o tempo, a ideia é oferecer o serviço em outras cidades, mas mantendo a atuação focada em localidades menores, onde projetos sociais costumam ter mais dificuldade para formar redes de apoio e conquistar visibilidade.
Para incentivar as doações e a aderência de novas ONGs ao projeto, a empresa decidiu que a taxa de serviço será gratuita pelos próximos meses. Assim, o valor doado será integralmente revertido aos projetos sociais. Depois, uma taxa de 5% a 20%, para custos de operação do site, poderá ser cobrada.
Objetivo é de que os projetos possam se dedicar ao que "realmente importa"
A ideia nasceu de uma insatisfação de Mattana, que há alguns anos apoia o trabalho das ONGs. Ao se aproximar de algumas entidades, ele percebeu que muitas campanhas de arrecadação organizadas por empresas ficam com parte das doações, e apenas um valor menor é repassado aos projetos.
Em 2019, em uma aula, ele observou o mesmo relato por parte de Mari, uma das idealizadoras do projeto. Com o apoio de profissionais de diferentes áreas, eles passaram a trabalhar a ideia e criaram um plano de negócios.
O que é jornalismo de soluções, presente nesta reportagem?
É uma prática jornalística que abre espaço para o debate de saídas para problemas relevantes, com diferentes visões e aprofundamento dos temas. A ideia é, mais do que apresentar o assunto, focar na resolução das questões, visando ao desenvolvimento da sociedade.
Em resumo, explica Mattana, o intuito é que as entidades consigam, por meio de uma rede de apoio, deixar as preocupações financeiras de lado e se dedicar a fazer o bem.
— A nossa missão é resolver o problema financeiro dessas ONGs, dar sustentabilidade financeira para elas. A partir disso, elas vão poder se dedicar ao que realmente são boas, ao que importa: atender e ajudar as pessoas, qualificar o atendimento a quem precisa. O ideal é que elas não precisem se preocupar em como vão pagar as contas, como vão ter dinheiro para quitar as dívidas — projeta o publicitário.
Para manter as portas abertas, "só a comida não basta"
À frente da ONG Estação dos Ventos, Fabiana Pereira Ribeiro Machado, 47 anos, considera positivo o retorno obtido pela plataforma até o momento.
Segundo ela, os gastos fixos da entidade giram em torno de R$ 2,5 mil por mês, incluindo despesas com alimentação, material de limpeza e contas em geral. A coordenadora afirma que, desde que o site foi colocado no ar, há quatro meses, o projeto já levantou cerca de R$ 1 mil em doações. Apesar de o valor não suprir todos os gastos da entidade, a ferramenta também ajuda de outras formas, analisa Fabiana:
— A plataforma é positiva porque, além de arrecadar doações em dinheiro, serve para conscientizar. A maior parte das pessoas desconhece a realidade em que a gente vive, a dificuldade de conseguir dinheiro para pagar as contas. Infelizmente, só a comida não basta para manter as portas abertas, e as pessoas passam a entender isso, o que é maravilhoso — explica Fabiana.
Criada em 2005, a ONG oferece atividades para crianças e adolescentes no turno inverso ao da escola, para que os pais possam ter onde deixar os filhos quando vão trabalhar. A entidade atende, atualmente, cerca de 60 pessoas, com idades entre dois e 18 anos, e também oferece oficinas para adultos, como de artesanato, e refeições comunitárias. As famílias atendidas são de baixa renda, e a maioria trabalha com reciclagem.
Hoje, 12 voluntárias integram o projeto. Entre os planos para o futuro está a contratação de dois professores e uma assistente social, para qualificar o atendimento a crianças e adolescentes.
— Para isso, precisamos de ajuda. Nossa instituição fica aberta todos os dias do ano, então precisamos de doações em todos os 12 meses. O que a gente quer é que cada vez mais pessoas se interessem e possam também ajudar as suas comunidades — complementa.
Serviço
- Como doar: acesse o souparte.org e preencha o cadastro
- Como inscrever minha ONG: no site da empresa, é possível cadastrar instituições — apenas de Santa Maria, até o momento
- Para outras informações, ligue (55) 99719-0106 ou mande e-mail para contato@souparte.org.