Sete meses após o seu lançamento, o Pix mostra que veio para ficar. Números comprovam a adesão expressiva ao modelo de transação financeira: até 31 de maio, eram 254.340.639 chaves Pix cadastradas em todo o país. Foram 649.101.431 transações realizadas por meio da transferência imediata de valores. Em novembro, primeiro mês de Pix, a quantidade de chaves era 95.262.657 e o volume de transações somava 33.513.953.
— É um dos meios que mais caiu no gosto da população. As pessoas trabalham com chaves e isso facilitou. As pessoas não têm cartão de crédito ou débito, mas já têm o Pix. Usam o app do banco e já querem instalar o Pix — avalia Adriane Silocchi, professora da disciplina de Moeda, Bancos e Mercado Financeiro da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
A popularização da expressão "faz um pix" talvez seja a maior prova da consolidação do modelo, inclusive na Serra. Não há dados regionais agrupados, mas instituições financeiras como a Sicredi Pioneira, que abrange 21 municípios da região, incluindo Caxias do Sul, tem números bem expressivos: já são 71 mil associados com chave Pix e 80 mil chaves cadastradas (uma pessoa pode ter mais de uma chave). No país, são 2,2 milhões de associados com a chave e 2,57 milhões de chaves cadastradas.
A cooperativa de crédito, a primeira do país, já imaginava uma alta adesão por conta da facilidade do modelo. A ação de entrega de material de apresentação para estabelecimentos comerciais, com a informação de que aquele empreendimento aceita pagamento via Pix, ajudou a impulsionar o uso, explica a assessora de negócios e meios de pagamento da Sicredi Pioneira, Ana Machado.
— O sucesso do Pix depende do aculturamento e a partir do momento que o comércio oferece essa possibilidade. Nós oferecemos um kit varejo, com displays para serem colocados nos estabelecimentos com a informação que aquele local aceita pix. Entregamos 3 mil displays — conta Ana, acrescentando que, de 20 mil pessoas jurídicas da Sicredi Pioneira, 15 mil contam com chave Pix.
A pandemia também contribuiu, na visão de Ana, para o crescimento do Pix em tão pouco tempo. A necessidade de distanciamento para evitar o contágio do coronavírus acabou pesando, segundo ela.:
— Ele (Pix) chegou em um momento em que as pessoas queriam ter mínimo contato e queriam agilidade e conveniência.
O Pix foi lançado em novembro do ano passado. A forma de pagamento foi a aposta do Banco Central para otimizar os processos e substituir a transferência eletrônica disponível (TED), que leva até duas horas para ser compensada, e o documento de ordem de crédito (DOC), liquidado apenas no dia útil seguinte, métodos que têm custo. É possível fazer transações 24 horas em qualquer dia, mesmo em finais de semana e feriados.
Modalidade em teste
Dois meses após o lançamento, a Baby Mania, loja multimarcas de produtos para bebê e maternidade, passou a oferecer o Pix como forma de pagamento aos clientes. Embora acredite que a modalidade veio para ficar, André Benedetti, proprietário, diz que o período ainda é de testes. Ele entende que a ferramenta precisa de melhorias.
Segundo o empresário, como não é preciso informar dados nem da pessoa que vai pagar nem de quem vai receber ao fazer o Pix, não há controle de quem são os clientes. Por isso, o estabelecimento adotou como regrar solicitar um documento na hora da compra e o envio do comprovante de pagamento para o WhatsApp da loja. A medida busca dar mais segurança aos envolvidos.
Apesar dos avanços considerados necessários por Benedetti, ele reconhece que o Pix é um facilitador, porque o dinheiro entra na hora e garante fluxo de caixa. O modelo representa, segundo ele, de 8% a 12% das vendas da loja. O estabelecimento também aceita cartões de crédito e débito, além de dinheiro em espécie. Cheque está extinto desde 2008.
—A inadimplência (com o cheque) era absurda — conta.
Confraria, vinho e Pix
Na Vinícola Viapiana, em Flores da Cunha, o Pix foi bem aceito. Praticamente todos os clientes que fazem parte da confraria de vinhos da empresa e que pagavam com depósito migraram para a nova modalidade — além da venda a varejo, a vinícola mantém esse grupo onde oferece produtos exclusivos e antecipa lançamentos.
Segurança e armadilhas
Especialistas garantem que o sistema é seguro. O que exige atenção de quem usa o Pix (assim como qualquer outro modelo de pagamento e transferência de valores) são os possíveis golpes.
— O que não é seguro são as armadilhas que a engenharia social cria. É importante alertar para pegadinhas, qualquer situação atípica, golpes de Whats App. São os mesmos golpes que já existiam. Cuidado com recebimento de link. Na dúvida, liga para a instituição financeira — ensina Ana Machado, assessora de negócios e meios de pagamento da Sicredi Pioneira.
Adriane Silocchi, professora da Universidade de Caxias do Sul reforça a necessidade de cuidados para não ser enganado. Ela alerta para o olhar atento na hora de incluir a chave Pix e se o valor está sendo transferido, de fato, para a chave indicada:
— Tem de conferir na hora e em qualquer caso de dúvida, não faça. A chave não identifica, mas é possível conferir os dados do cliente.
Confira os tipos de golpes aplicados envolvendo Pix e dicas para não cair neles na página 6.
Cheque sobrevive e resiste
Enquanto o Pix cresce e se consolida, o cheque, que já foi um moderno e importante sistema de pagamento, cai. Em 10 anos, a movimentação de valores, diminuiu quase R$ 7 milhões no Brasil somente entre pessoas jurídicas. Conforme o Banco Central, o montante de desconto de cheques era de R$ 9,806 bilhões em abril de 2011; baixou para 2,836 em abril deste ano. Entre pessoas físicas, abril de 2011 registrou R$ 1,419 bilhão. Em abril de 2021, R$ 799 milhões.
Apesar dos números em baixa, o cheque ainda tem adeptos fiéis, inclusive em Caxias. O produtor rural Rudimar Cozer usa há muitos anos e não pensa em deixar de lado. São de 12 a 15 folhas por mês utilizadas em pagamentos para a empresa de criação animal que tem no bairroem Galópolis.
— Às vezes, não tem como pagar com cartão porque o motorista não tem a maquininha. Às vezes, tu não tem o dinheiro vivo — explica.
O cheque, segundo ele, facilita a rotina, pois dispensa a ida ao banco para saques. Além disso, Cozer tem um limite de folhas por talão sem cobrança de taxas na instituição onde tem conta, o que é um ponto positivo para continuar utilizando o método de pagamento.
O agricultor estima que 60% dos gastos são pagos com cheque. O restante em dinheiro ou no débito. E com Pix também, mas com o da esposa, que cadastrou a chave e faz alguns pagamentos da família:
— Dependendo do caso, a gente usa. Não tem taxa, facilita.
PIX NO BRASIL*
Chaves Pix
- 95.262.657 (em novembro)
- 254.340.639 (até maio de 2021) - 243.907.274 são de pessoa física
Transações por Pix
- 33.513.953 (em novembro)
- 649.101.431 (até maio de 2021)
CHEQUE NO BRASIL*
Saldo da carteira de crédito com recursos livres – Desconto de cheques
- Abr/2021: 2,836 bilhões (pessoa jurídica) e 0,799 milhões (pessoa física)
- Abr/2020: 3,607 bilhões (pessoa jurídica) e 0,915 milhões (pessoa física)
- Abr/2019: 4,116 bilhões (pessoa jurídica) e 1,007 bilhão (pessoa física)
- Abr/2018: 4,123 bilhões (pessoa jurídica) e 1,019 bilhão (pessoa física)
- Abr/2017: 4,490 bilhões (pessoa jurídica) e 1,068 bilhão (pessoa física)
- Abr/2016: 6,354 (pessoa jurídica) e 1,269 bilhão (pessoa física)
- Abr/2015: 8,110 bilhões (pessoa jurídica) e 1,421 bilhão (pessoa física)
- Abr/2014: 8,937 bilhões (pessoa jurídica) e 1,520 bilhão (pessoa física)
- Abr/2013: 9,647 bilhões (pessoa jurídica) e 1,592 bilhão (pessoa física)
- Abr/2012: 9,603 bilhões (pessoa jurídica) e 1,555 bilhão (pessoa física)
- Abr/2011: 9,806 bilhões (pessoa jurídica) e 1,419 bilhão (pessoa física)
* Fonte: Banco Central
O Pix chegou na feira também
Ficou sem moedas e notas de menor valor para fazer a feira? Sem problemas, agora dá para fazer um Pix também nas feiras ecológicas de Caxias do Sul. Algumas bancas oferecem a possibilidade, e a adesão tem sido boa.
A novidade chegou há cerca de quatro meses com o produtor Gerson Peter, da cooperativa Ecomorango, de Bom Princípio. Primeiro feirante a utilizar o Pix para as vendas na feira de orgânicos, ele estima que de 25% a 30% das vendas dos produtos se deem por meio do sistema. A utilização oscila, conforme o dia da feira (ele está presente na de quarta-feira, próximo à Maesa, e no sábado, na Praça das Feiras).
A iniciativa de adotar o Pix surgiu após o banco oferecer a possibilidade. Peter admite que tinha receio, mas depois de conhecer o sistema, resolveu aderir, e hoje está satisfeito.
— É bom porque a gente não fica com o dinheiro na mão. Cai na conta da cooperativa. É mais seguro e mais transparente — diz.
O agricultor admite também que passou por alguns apertos, mas foi por conta da tecnologia:
— Tem algumas dificuldades, mas é de lidar com o celular. Mas o Pix é bem prático.
Em Bento, modalidade ganha espaço
A modalidade de pagamento instantâneo tem crescido no comércio de Bento Gonçalves também, principalmente entre as pequenas empresas. É o que tem notado o Sindilojas da cidade. São três os motivos, conforme a entidade, que levam as pessoas a aderir ao Pix: segurança, agilidade e economia. O consumidor se sente mais seguro por não carregar consigo dinheiro e o empresário economiza na taxa que pagaria pela transação com cartão, recebendo o dinheiro no mesmo instante.
— Os lojistas estão tendo a possibilidade de optar por uma forma de recebimento sem custo, como ocorre com o cartão de débito. Além disso, a velocidade e a segurança da transação trazem um conjunto de facilidades e comodidades, beneficiando consumidor e empresário — afirma o presidente do Sindilojas Regional de Bento, Daniel Amadio.
Apesar das facilidades, ele demonstra preocupação com a prática de golpes diante de um volume tão expressivo de operações e da adesão maciça de milhões de brasileiros:
— A novidade atraiu, também, a atenção de mal-intencionados que se aproveitam da situação para dar golpes no comércio. Por isso, é fundamental conhecer como funciona a operação para ter a certeza de que não está sendo vítima de mais uma fraude — acrescenta.
Fique atento aos golpes
- Clonagem do WhatsApp
Criminosos enviam mensagem fingindo ser funcionários de empresas em que a vítima tem cadastro. Solicitam código de segurança, que já foi enviado por SMS, afirmando se tratar de atualização, manutenção ou confirmação de cadastro. Com o código, conseguem replicar a conta de WhatsApp em outro celular. - Perfil falso no WhatsApp
O golpista escolhe uma vítima, pega sua foto em redes sociais e descobre números de celulares de contatos da pessoa. Com um novo número, manda mensagem para amigos e familiares da vítima, alegando que teve de trocar de número. - Páginas e arquivos falsos
Após clicar na mensagem, o cliente é direcionado para um site falso que oferece o cadastramento da chave de acesso. Na página falsa, é pedido à vítima que acesse a conta bancária. Os criminosos criam páginas que simulam as de internet banking de bancos para roubar as informações de acesso. A outra fraude ocorre a partir de download de arquivo que será instalado no celular ou no computador para roubar dados. Nesse caso, é instalada uma ferramenta de acesso remoto. Outro golpe do tipo rouba dados que podem ser usados como chaves Pix, a partir de falsas campanhas de cadastramento. - Falsas centrais de atendimento
O golpista entra em contato com a vítima se passando por funcionário de banco ou empresa. Oferece ajuda para que o cliente cadastre a chave ou diz que precisa fazer um teste para regularizar o cadastro, e induz a vítima a fazer uma transferência. A Febraban diz que dados pessoais do cliente não são solicitados pelos bancos e que funcionários não ligam aos clientes para fazer testes com o Pix. - Bug do Pix
Mensagens e vídeos disseminados por bandidos afirmam que, graças a um “bug” no Pix, é possível ganhar o dobro do valor que foi transferido para chaves aleatórias. Mas, ao fazer este processo, o cliente está enviando dinheiro para golpistas.
Dicas para não cair em golpe
- Confira o remetente dos e-mails e não acesse páginas suspeitas, com endereços curtos ou com erros de digitação.
- Não clique em links recebidos por e-mail, WhatsApp, redes sociais ou por mensagens de SMS que direcionam o usuário a um suposto cadastro da chave do Pix.
- Cadastre chaves Pix apenas nos canais oficiais dos bancos, como o aplicativo bancário, internet banking, agências ou através de contato feito pelo cliente com a central de atendimento.
- Após o cadastro, o Banco Central envia o código para confirmação da chave apenas por SMS (caso a chave cadastrada seja um celular) ou email (se a chave for um email). Nunca por ligação telefônica ou por link recebido em mensagem de texto ou email.
- Não compartilhe o código de verificação recebido no momento do cadastro da chave do Pix.
- Não faça cadastro a partir de um contato telefônico de um suposto empregado do banco.
- Dê preferência ao site do banco ou ao aplicativo.
- Não forneça senhas ou códigos de acesso fora do site do banco ou do aplicativo.
- Acesse apenas contas verificadas das instituições financeiras nas redes sociais.
- Em caso de suspeita, procure o seu gerente ou use os chats dos aplicativos para se informar.
- Não faça transferências para conhecidos sem confirmar pessoalmente ou por chamada telefônica, pois o contato da pessoa pode ter sido clonado ou falsificado.
Fonte: Sindilojas Bento Gonçalves