Neste ano, fez 45 anos que o Navio Altair encalhou no Cassino. Uma espécie de ponto turístico da praia do Litoral Sul, ele não foi o único a naufragar na costa gaúcha, que recebeu o apelido de "cemitério de navios".
Levantamento feito recentemente pelo oceanógrafo Rodrigo Torres, em seu doutorado em Arqueologia pelo Nautical Archaeology Program da Universidade do Texas, indicou 241 naufrágios na costa gaúcha, sendo 135 na barra de Rio Grande.
Segundo Torres, essa recorrência se justifica porque a barra concentrava intenso tráfego de embarcações, mas também pelas dificuldades de navegação no local, com condições meteorológicas por vezes severas. A maior parte desses acidentes marítimos envolveu embarcações mercantes, durante o século 19.
Separamos quatro histórias de naufrágios na região:
Avanti
O navio deixava o porto de Rio Grande para levar carne, camarão e lã a Génova, na Itália, mas pegou fogo após alcançar o mar, conta o professor Lauro Calliari. Ele foi rebocado de volta ao porto, e ninguém se feriu – havia inclusive crianças e mulheres entre os 35 tripulantes.
Ancorado em um cais de Rio Grande, teve rompidas as amarras durante uma tempestade e ficou à deriva no estuário, acabando por naufragar em São José do Norte, deixando à vista um mastro.
Sarita
Essa embarcação acabou dando nome ao Farol Sarita, a cerca de 60 quilômetros ao sul dos molhes da barra de Rio Grande. O navio a vapor com carga e passageiros vinha da Itália, segundo Calliari. Enquanto afundava, emergiram rumores de que a companhia que tinha a propriedade do navio andava mal financeiramente e que foi encalhado propositalmente para que obtivesse o dinheiro do seguro. Não houve vítimas.
Rio Apa
Considerado o mais trágico acidente marítimo da costa gaúcha, esse navio naufragou em 11 de junho de 1887. Construído na Escócia, o Rio Apa deixou o Rio de Janeiro com mais de 120 pessoas a bordo e encontrou uma violenta tempestade na costa gaúcha, com forte vento Sudeste, relata Calliari. Práticos de São José do Norte chegaram a avistá-lo e aguardavam que entrasse na barra da Lagoa dos Patos, o que nunca aconteceu. Todos os passageiros e tripulantes morreram, e parte dos corpos foi localizada na praia.
Rio Chico
Em 1968, esse navio vinha da África do Sul carregado com lingotes de aço quando enfrentou uma forte tempestade na entrada da barra de Rio Grande e acabou encalhando nos bancos de areia. Todos os passageiros foram resgatados. Ele foi localizado há um ano e meio durante testes de um sonar adquirido pela Furg. Diferentemente do que o professor acreditava, não está enterrado pela areia: quebrou-se em dois no encalhe, mas segue preservado na barra.