Pela segunda vez em 2021, entidades nacionais de caminhoneiros preparam uma greve. A proposta é que os motoristas cruzem os braços a partir da meia noite de segunda-feira (26), sem prazo para retorno ao trabalho. A paralisação foi convocada pelo Conselho Nacional de Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC) — que também tentou uma greve em fevereiro, mas não conseguiu adesão suficiente. E tem apoio de duas grandes entidades, a Associação Nacional de Transporte no Brasil (ANTB), o Movimento Galera da Boleia da Normatização Pró-Caminhoneiro (GNB). Além deles, há suporte de movimentos regionais, como dos caminhoneiros em Rio Grande e Ijuí, no Rio Grande do Sul. Desde 2018 não ocorrem paralisações nacionais.
Já duas outras grandes entidades, a Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) e a Confederação Nacional dos Caminhoneiros e Transportadores Autônomos de Bens e Cargas (Conftac) se manifestaram contra a paralisação. O movimento, portanto, está dividido.
A greve foi convocada para 25 de julho porque este é o Dia do Caminhoneiro. A paralisação é pregada, sobretudo, por meio de correntes de whatsapp.
O CNTRC diz que a greve é fruto de tentativas frustradas de negociação com a Petrobras para que abandone sua política de preços atrelada ao mercado internacional.
"Não só nós caminhoneiros, mas toda a população brasileira vêm acompanhando a escalada nos preços dos combustíveis (gasolina, diesel e gás de cozinha) desde o início de 2021, promovida pela estatal de petróleo Petrobras, sem qualquer justificativa plausível apresentada. Simplesmente aumentam os preços e nos apresentam a conta. Trata-se de uma prática abusiva prevista e proibida pelo Código de Defesa do Consumidor", diz nota do CNTRC.
O CNTRC disse que enviou uma proposta de alteração e pediu uma reunião com o novo presidente da Petrobras, o general Joaquim Silva e Luna, e com o presidente Jair Bolsonaro. Nenhum deles respondeu, afirma a entidade.
Um dos expoentes do CNTRC no Rio Grande do Sul é Carlos Alberto Litti Dahmer, líder de cerca de mil caminhoneiros na região de Ijuí. A GZH, ele confirma que estará nos piquetes no domingo.
— O caminhoneiro gasta em combustível entre 40% e 60% do frete recebido. Assim não é possível continuar, tem de paralisar. Não é para deixar caminhão em casa ou no posto. Tem de parar nos trevos, na estrada.
Dieck Sena, que congrega 500 caminhoneiros de Rio Grande, também apoia a paralisação.
— Vamos seguir a recomendação nacional. É hora de combater essa política de preços de combustíveis absurda.
O presidente da ANTB, José Roberto Stringasci, considera que a adesão está bem maior que em fevereiro. Ele afirma que os caminhoneiros estão “inconformados” com os aumentos dos combustíveis, especialmente por terem continuado após queixas da categoria, expostas em reunião ao presidente da Petrobras, general Joaquim Silva e Luna.
O representante do GBN, Joelmis Correia, não apoiou a greve em fevereiro porque considerou que era um movimento contra o presidente Jair Bolsonaro, de quem ele é admirador. Agora ele promete aderir à paralisação e cita como perdas a criação do DTE (Documento Eletrônico de Transporte), visto como nocivo pelos caminhoneiros.
Contrários
Já a Abcam se posiciona contra, mesmo admitindo que o aumento dos combustíveis está exagerado e a política internacional de preços "é absurda para o Brasil".
A Federação dos Caminhoneiros do Rio Grande do Sul (Fecam) também é contra a greve, diz André Costa, seu presidente. A entidade afirma representar 120 mil motoristas.
— Continuamos atravessando um momento difícil para a sociedade como um todo, mas apesar disso há avanços para a melhoria da condição do transportador autônomo e os canais de negociação estão abertos. Assim, se entende que não se justifica uma paralisação nesse momento, principalmente na defesa de pautas estranhas a atividade desse profissional. Não somos massa de manobra para políticos — pondera ele.
Uma das entidades que deflagrou greves grandes no passado, a Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), ainda não se posicionou – embora seu presidente, Wallace Landim, o Chorão, seja simpático à ideia. Ele foi um dos principais líderes da última grande greve da categoria, em 2018, e seu posicionamento é considerado decisivo para o movimento.