Por trás da assinatura, na quarta-feira (3), da liberação de verbas que garantem a retomada da construção da barragem de Arvorezinha, em Bagé, na Campanha, está uma história de problemas com obras paradas e de falta de água na cidade. Mas também há alguns capítulos de trabalho e esperança.
Por isso, mesmo antes da conclusão da obra, prevista para daqui pelo menos dois anos, a prefeitura estima que, em até oito meses, os 121,8 mil habitantes da "Rainha da Fronteira" não precisem mais fazer racionamento, como ocorre a cada novo verão.
— E aí adeus racionamento. Vamos trabalhar para que, a partir do próximo verão, não se precise mais disso — ressalta o diretor do Departamento de Água e Esgoto (Daeb) do município, Eduardo Mendes.
A barragem, que tem apenas 15% das obras realizadas, já foi alvo da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU) devido a fraudes. Agora, foram liberados R$ 65,8 milhões de verba federal para retomada dos trabalhos.
Mendes diz que as obras serão feitas em conjunto entre a prefeitura e o Exército, com previsão de durarem 24 meses. Mas o diretor prevê que antes disso, no máximo em dezembro, os bageenses não precisem mais racionar água de 12 em 12 horas nos meses do verão — entre as zonas leste e oeste da cidade.
Segundo Mendes, a barragem de Arvorezinha terá capacidade para 18 milhões de metros cúbicos de água, mas, em até oito meses, será possível armazenar cerca de 4 milhões de metros cúbicos e realizar o bombeamento para uma estação de tratamento. Para se ter uma ideia, este volume é quase o mesmo que Bagé tem hoje com três barragens — uma capacidade total de apenas 4,8 milhões de metros cúbicos de água, que será quadruplicada.
Racionamento
O racionamento vem ocorrendo há décadas, a cada verão, quando o nível de água acumulada nas três reservas existentes fica em torno de 50%. Neste ano, começou em 20 de janeiro e já foi suspenso — contudo, segue o alerta, porque os níveis das barragens estão em torno de 70%.
— A população aprendeu que precisa economizar, se acostumou, mas o racionamento vai parar. A educação de poupar água vai persistir, com certeza, o que é importante sempre — diz Mendes.
Barragens
Mendes assumiu o Daeb em julho do ano passado e, naquele mês, já havia buscado a parceria do Exército e iniciou um trabalho com o prefeito Divaldo Lara (PTB) para a retomada da obra da barragem de Arvorezinha.
Antes da verba da União, os dois iniciaram a chamada outorga da água junto ao Departamento de Recursos Hídricos do governo do Estado, a licença ambiental da barragem na Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e um novo orçamento da obra. Somente após estas etapas obtiveram o aval do governo federal.
— Se não chover por 500 dias em Bagé, mesmo assim não faltará água após a conclusão do total da barragem. Esta obra é fundamental para o futuro e o crescimento da cidade e da região como um todo. Vai resolver em definitivo o nosso problema histórico dos últimos 50 anos — ressalta Lara.
O prefeito diz que será uma obra por etapas e que será executada pelo Batalhão de Lages, em Santa Catarina.
Arvorezinha terá 20 metros de altura e 1,8 mil metros de extensão. A barragem fica próxima à barragem Emergencial, na região conhecida como Zona do Pirayzinho, cerca de dois quilômetros do centro de Bagé, em direção ao Uruguai.
- Emergencial - 300 mil de metros cúbicos de água
- Piray - 1,7 milhão de metros cúbicos de água
- Sanga Rasa - 2,8 milhão de metros cúbicos de água
- Arvorezinha - 18 milhões de metros cúbicos de água *
* Obra em andamento