Em 2020, ano em que a pandemia do coronavírus impôs restrições à circulação da população, o número de acidentes nas estradas federais do Rio Grande do Sul caiu 9,1% em relação a 2019. Se essa já é uma boa notícia, há outra ainda melhor: o volume de mortos nas BRs despencou 22,4% no período.
Os dados são da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e integram o Painel CNT de Consultas Dinâmicas de Acidentes Rodoviários, mantido pela Confederação Nacional do Transporte.
De acordo com o levantamento da CNT, o Estado registrou 4.176 ocorrências em 2020, sendo que os casos com vítimas (fatais ou não) encolheram 7,3%. Ao todo, 236 pessoas perderam a vida, contra 304 em 2019 (veja os detalhes abaixo).
— A redução do número de mortes já vinha se manifestando em anos anteriores, mas, como tivemos menos veículos circulando em 2020 devido à pandemia, isso se ampliou e se tornou mais visível — sintetiza o engenheiro civil e doutor em Transportes João Fortini Albano.
A percepção é compartilhada pela professora Christine Nodari, do Laboratório de Sistemas de Transportes (Lastran) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
— O fato de ter havido menos exposição com certeza é uma das explicações para o resultado, só não podemos esquecer que estamos falando de eventos complexos, que têm múltiplas causas. Apesar de algumas decisões equivocadas do governo federal, a força de trabalho da PRF manteve o comprometimento com a fiscalização e seguiu promovendo ações fundamentais — destaca Christine.
No Brasil, os números também melhoraram, mas em proporção menor e acompanhados de um sinal de alerta. Houve queda de 5,9% nas ocorrências e de apenas 0,8% no registro de óbitos, indicando, na avaliação da CNT, que, embora tenha havido menos acidentes, o nível de letalidade foi maior. Para o presidente da entidade, Vander Costa, isso torna imprescindíveis investimentos em infraestrutura, na formação de condutores e na ampliação de campanhas educativas.
— Ações voltadas à melhoria das condições viárias, à capacitação dos motoristas e à segurança veicular são a melhor estratégia para a superação desse problema — diz Costa.
Por aqui, os especialistas consultados também reforçam a necessidade de cuidados, em especial porque o fluxo nas rodovias voltou a crescer.
— Muitos motoristas haviam se acostumado a dirigir com menos movimento. É importante redobrar a atenção — enfatiza Christine.
Outro ponto de preocupação é a conclusão das obras de duplicação na BR-116, campeã em acidentes com vítimas, e na BR-386, a mais letal do Estado em 2020. Esta última, concedida à CCR ViaSul, teve o projeto aprovado em janeiro pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). No caso da BR-116, os trabalhos vêm contando com o apoio do Exército.
— São duas vias de grande movimento e que, de fato, precisam ser duplicadas o quanto antes. Quando isso ocorrer, certamente teremos reflexos positivos nas estatísticas — projeta Albano.