As medidas de distanciamento social para combater a pandemia de covid-19 no Brasil tiveram algum efeito, mas ainda não foram suficientes para controlar a transmissão do coronavírus no país. A informação foi divulgada nesta sexta-feira (8), por meio de um estudo feito pelo Imperial College.
Segundo um dos autores do estudo, o matemático Henrique Hoeltgebaum, "é esperado um colapso na capacidade hospitalar de alguns Estados" se o padrão observado no país for mantido. Um dos principais indicadores de controle da transmissão é o número de reprodução (Rt), que indica para quantas pessoas cada infectado com o coronavírus transmite a doença. Se o valor está acima de 1, a velocidade de contágio é crescente: cada contaminado passa o coronavírus a mais de uma pessoa, que por sua vez também a espalha para mais de uma pessoa, acelerando a infecção.
A pesquisa, assinada por 59 pesquisadores do Centro de Análise Global de Doenças Infecciosas (MRC), estima que as intervenções reduziram a mobilidade no Brasil em 29%, o que provocou queda de 54% no Rt — ainda insuficiente para conter a expansão acelerada da doença. Como comparação, estudos feitos na Itália mostraram que a quarentena reduziu a mobilidade em 53% e 0 Rt em 85%, levando o indicador a ficar significativamente abaixo de 1.
No Brasil, o número chegou a ser de 2,81 no final de abril — ou seja, cada brasileiro passava o coronavírus para quase 3 pessoas —, segundo as previsões de curto prazo feitas pelo instituto. Na previsão até o começo desta semana, o número era 1,49. O trabalho publicado nesta sexta-feira (8) analisou 16 Estados com número de mortes suficientes para gerar resultados estatísticos confiáveis. Em todos eles, o Rt está acima de 1: o menor indicador é o de Santa Catarina, com 1,14 (variando de 0,91 a 1,38), e o maior, o do Pará, com 1,90 (de 1,57 a 2,31).
"Na ausência de intervenções importantes adicionais, um crescimento substancial da epidemia é esperado em todos os 16 Estados brasileiros considerados, levando ao agravamento da crise da saúde pública", diz o texto.
São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco e Amazonas concentram 81% das mortes no Brasil. Entre esses cinco, o MRC calcula que São Paulo tem a menor porcentagem de população infectada: 3,3% (de 2,8% a 3,7%, com intervalo de confiança de 95%). A maior parcela de infectados está no Amazonas: 10,6% (podendo variar de 8,8% a 12,1%).
Embora não seja uma conclusão direta do estudo, os cálculos indicam que o número de infectados nos 16 estados analisados corresponde a 38 vezes o de casos confirmados oficialmente: pelas contas do Imperial College, havia até esta quarta-feira (6) 4,2 milhões de infecções totais no Brasil, que teve seu primeiro caso relatado em 25 de fevereiro e se tornou epicentro da doença na América do Sul. Pelos números oficiais, há mais de 135 mil casos confirmados e 9 mil mortes. O número de infecções dobrou nos últimos dez dias.