SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Com início marcado para esta segunda-feira (27/4), o ensino a distância no estado de São Paulo contará com youtubers especializados em educação, os edutubers, para tentar engajar os alunos. As aulas serão exibidas por um aplicativo lançado pela Secretaria de Educação e através de dois canais digitais abertos de televisão, ambos ligados à Fundação Padre Anchieta, que administra a TV Cultura.
De segunda a sexta, alunos do fundamental 1 (1º ao 4º ano) terão, por dia, uma hora e meia de aulas, tanto na TV quanto na internet. Cada aula terá meia hora. A partir do 6º ano até o ensino médio, serão três aulas diariamente, de 45 minutos cada uma, duas na televisão e uma transmitida no aplicativo. Haverá aulas ao vivo e gravadas.
A grade de programação terá conteúdo fornecido pela Fundação Roberto Marinho e pela Secretaria de Educação do Amazonas, que há 13 anos deu início ao ensino a distância para populações que vivem em áreas isoladas, como ribeirinhas e indígenas. Haverá também novas aulas gravadas no Centro de Mídias da Educação de São Paulo.
Lançado às pressas pelo governo em meio à pandemia, tem cinco estúdios, sendo um na TV Cultura, no bairro da Água Branca, e quatro na Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação (Efape), que é um braço da secretaria e fica em Perdizes. A gestora do Centro de Mídias, contratada há um mês com essa missão relâmpago, é Julci Rocha, 40, mestre em educação com especialização em inovação, tecnologia e formação de professores, que já trabalhou na Microsoft, no Instituto Paulo Freire e na Fundação Lemann, entre outros.
É da Lemann, uma das entidades que apoiam o Centro de Mídias, a curadoria dos youtubers da educação que estarão na programação da rede pública, entre eles Patrick Gomes, do canal Biolodúvidas, e Victor Rysovas, do Dez de História.
Uma programação experimental está no ar desde o dia 6 de abril, mais concentrada em orientação para os professores e no chamado "edutainment", ou seja, entretenimento educativo, voltado tanto a educadores quanto a alunos e familiares. Nesse período de testes, enquanto a rede pública estava em férias de julho antecipadas, foi exibida, por exemplo, uma entrevista feita pelo secretário de educação de São Paulo, Rossieli Soares, com o apresentador Marcelo Tas.
A partir desta segunda, de acordo com Julci Rocha, as aulas ao vivo poderão ter interação com os alunos no aplicativo, por meio de um chat e também da participação por vídeo. O acesso ao aplicativo terá senha para professores e alunos e será gratuito, ou seja, a rede de internet para seu uso não será descontada na conta do celular.
Segundo a gestora, as escolas estão sendo orientadas a formar, dentro do aplicativo, grupos de cada turma com os seus professores, que deverão acompanhar as aulas ao vivo, tirando dúvidas, controlando a presença e orientando sobre tarefas.
Ela diz que há escolas desenvolvendo aulas próprias, utilizando plataformas do Google e da Microsoft, que já estavam disponíveis por um convênio com o governo do Estado.
Julci admite que não há como transpor, a distância, todo o conteúdo que seria ministrado presencialmente, até porque a carga horária é menor. Mas se diz otimista quanto ao aprendizado que este momento está trazendo para a educação. "Essa mediação pela tecnologia é uma virada que estava demorando para ser feita no Brasil, porque sempre havia a questão de quem tem ou não acesso e também a inexistência de um modelo. Tenho certeza de que, nesse sentido, essa crise foi boa por acelerar uma mobilização, com trocas de experiência e parcerias", afirmou à Folha.
Segundo Julci, uma nova programação será mantida após o fim do confinamento imposto pelo coronavírus. "Quando as aulas presenciais forem retomadas normalmente, o Centro de Mídias seguirá funcionando, com outra proposta. Esses recursos de educação mediada por tecnologia deverão ser usados para potencializar o que as escolas fazem, por exemplo, com aulas eletivas, voltadas ao protagonismo dos alunos, como as de projeto de vida, além da formação continuada de professores."
Por um período, no retorno pós isolamento, o governo deverá adotar um sistema misto com aulas presenciais e a distância. Segundo anúncio de João Doria na sexta-feira (24), na reabertura das escolas, prevista para julho, haverá rodízio dos alunos para que seja mantida uma distância mínima entre eles dentro das salas de aula.