A exemplo do Salgado Filho, outros aeroportos brasileiros com grande circulação, como Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, Galeão, no Rio, Viracopos, em Campinas (SP), e Confins, em Minas Gerais, tiveram restrição de voos, principalmente internacionais, em razão do coronavírus.
A maioria reforçou a higienização de áreas comuns dos terminais. Galeão passou a medir temperatura de passageiros e Viracopos recebeu pedidos de companhias aéreas para recolhimento de aeronaves.
No Rio, o Galeão também sofreu impacto com os voos internacionais cancelados pelas companhias aéreas, e por isso adaptou sua realidade à operação. Nas rotas domésticas, a pandemia já impactou de forma significativa a operação. A média diária nos 20 primeiros dias de março de 2019 foi de 217 movimentos, entre pousos e decolagens, operados. A média do mês de março deste ano, até o dia 23, foi de 62 movimentos por dia.
Apesar da redução de voos, as duas pistas continuam funcionando normalmente. Alguns passageiros ouvidos pela reportagem afirmaram se assustar, ao desembarcar no Brasil, com a falta de informações e procedimentos após o coronavírus.
O jornalista Mateus Nagime, 33 anos, chegou da Alemanha, com conexão em Lisboa, no sábado (24) e se surpreendeu com a falta de fiscalização no aeroporto.
— Não teve nada de diferente. Foi como se tivesse chegado em qualquer outro dia. Não tinha nenhum tipo de orientação para ficar afastado. Na esteira de pegar a bagagem, todo mundo se tocando como sempre. Na fila da imigração a mesma coisa, na alfândega também. Nenhum funcionário de saúde, nenhum controle — disse Nagime.
A única coisa atípica foi a utilização de máscaras por parte dos funcionários, mesma situação notada pela produtora de moda Bruna Novellino de Souza, 24 anos. Ela chegou de Aracaju com o namorado na quinta-feira (19) à noite, também no Galeão, e não sentiu preocupação da administração do local com a pandemia:
— Ficamos bem preocupados, pois sabemos que as pessoas continuam saindo e o aeroporto é um lugar ótimo para a proliferação desse vírus. Tivemos que ter cuidados pessoais nossos, como ficar longe das pessoas, higienização com alcool em gel e ir direto para a casa, onde estamos em isolamento por estarmos viajando.
Moradora das proximidades do Galeão, a estudante Juliana Cruz, 32 anos, disse que reparou diminuição no fluxo de voos domésticos, mas nenhuma atitude do aeroporto contra a pandemia.
— Não vi nenhuma prática contundente do aeroporto para minimizar os casos (de covid-19). Ouvi relatos de pessoas que se sentiam inseguras sem nenhuma orientação ao chegar ao Brasil — contou.
A administração do terminal disse que começou, nesta segunda-feira (23), ação contra o novo coronavírus com técnicos da Vigilância Sanitária do Estado, que abordam passageiros e tripulações que desembarcam de voos internacionais para dar orientações sobre a doença.
O Galeão também informou que os técnicos medem a temperatura corporal dos passageiros, para identificar pessoas que estejam com febre, um dos sintomas da covid-19, e informar sobre quando os pacientes devem procurar o serviço de saúde. Somente no primeiro dia, 228 viajantes, vindos de quatro voos, foram abordados.
Quanto à triagem de estrangeiros que estão com entrada restrita no país após publicação de portaria presidencial, O Galeão disse que o procedimento é feito no momento do embarque nos países de origem. Se algum passageiro dos referidos países chegar a desembarcar no Rio, passará pela triagem da Polícia Federal e será barrado.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aponta que a medicação de temperatura de forma indistinta para os passageiros não tem suporte nas evidências científicas e é avaliada pelo Brasil como de baixa efetividade, devido a diferentes fatores individuais.
Já no aeroporto Santos Dumont, na área central do Rio, que só opera voos domésticos, a operação está normalizada, segundo a Infraero.
Com um dos maiores terminais de carga do país, por onde chegam insumos para os setores farmacêutico e alimentício, Viracopos foi alvo de pedidos de companhias aéreas para estacionar aeronaves no pátio neste período de queda na demanda, que estão sendo atendidos conforme a disponibilidade.
O aeroporto teve suspensos voos vindos da Europa. Outros dois semanais vindos dos EUA também podem ser cancelados nos próximos dias pela companhia aérea.
Para o atendimento dos passageiros, os funcionários que têm contato direto com o público estão utilizando os equipamentos de proteção, de acordo com a concessionária Aeroportos Brasil Viracopos.
Nas filas, a orientação é para que haja distância de pelo menos um metro entre os passageiros, seguindo recomendação das autoridades de saúde. Não há funcionários medindo a temperatura dos passageiros que desembarcam pois, de acordo com a concessionária, essa é uma atribuição da Anvisa nos portos e aeroportos internacionais.
Em Campinas, a concessionária estabeleceu o sistema de home office para alguns funcionários da área administrativa. "A concessionária Aeroportos Brasil Viracopos esclarece que segue todas as recomendações da Anvisa e coopera com os órgãos federais e companhias aéreas. A concessionária mantém alertas sonoros, em três idiomas, para todos os passageiros e colaboradores. A atuação no possível controle de temperatura dos passageiros que chegam em voos internacionais é prerrogativa de órgãos de saúde, sejam eles federais, estaduais ou municipais", diz comunicado da concessionária.
As três companhias aéreas que operam voos internacionais no Aeroporto Internacional de Confins (a 37 km de Belo Horizonte) suspenderam temporariamente viagens: Copa Airlines, Azul e TAP. Segundo a BH Airport, que administra o local, os clientes podem remarcar passagens ou ser reacomodados em voos que saem de Campinas.
Entre as medidas adotadas no aeroporto em Minas estão reforço da limpeza e desinfecção de áreas públicas e banheiros, especialmente na área de desembarque internacional. O local tem avisos sonoros sobre a pandemia e terá adesivos no chão sobre distância em filas. Máscaras e outros EPIs (equipamentos de proteção individual) estão sendo disponibilizados a funcionários do aeroporto, como medida de prevenção.
Confins também não adotou restrições quanto à chegada de estrangeiros. Desde o endurecimento das medidas para contenção da pandemia do novo coronavírus, no dia 16 de março, três voos com brasileiros deportados dos Estados Unidos chegaram a Minas, trazendo total de 149 pessoas.
Os voos são fretados pelo governo de Donald Trump, mas devem ser autorizados pelo governo brasileiro. O número de casos confirmados do novo coronavírus nos EUA passou de 40 mil.