Eles continuam lá. Um ano depois do rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho (MG), os bombeiros seguem perscrutando a lama, agora em busca de 11 joias. É assim que chamam os corpos daqueles que permanecem desaparecidos, em respeito às famílias devastadas pela dor.
Homens e mulheres treinados para atuar em condições extremas, os socorristas não pararam um dia sequer nesses 12 meses, nem mesmo no Natal ou Ano-Novo. Jamais desistiram. Resgataram, até a última sexta-feira (24), os restos mortais de 270 pessoas.
Em janeiro de 2019, quando a onda mortal de rejeitos engolfou casas, plantações, cursos d'água, estradas e florestas, testemunhei e retratei, ao lado do fotógrafo André Ávila, o esforço descomunal e abnegado de um desses grupos, formado por seis bombeiros mineiros. A imagem dos profissionais rastejando no barro fétido e traiçoeiro jamais se apagará das minhas retinas.
Mantemos contato até hoje pelo Whatsapp. De lá para cá, parte da equipe retornou outras vezes ao front. O tenente Tárcio Salles da Silva, à época aspirante a oficial, voltou neste início de 2020. Esteve lá entre os dias 8 e 16 de janeiro.
Agora, relata o militar, o trabalho consiste em cavar a terra até três metros de profundidade (o que já foi feito em 95% de toda a área atingida) e revirar os rejeitos em busca de fragmentos corporais. A análise é feita sob uma tenda gigantesca, por onde circulam tratores e caminhões diariamente. Cada pá, cada centímetro de terra revirada é esquadrinhado como se fosse o primeiro dia de missão.
— Lá dentro, os bombeiros fazem revezamento de 30 minutos, porque a temperatura chega a 60 graus. É um trabalho difícil e minucioso. O clima é tão pesado quanto era no início, mas é necessário continuar — ressalta Tárcio, que será pai em um mês.
O esforço comovente ameniza a angústia das famílias que ainda esperam respostas, mas é preciso mais. Cabe à Justiça punir os responsáveis, o que ainda parece longe de acontecer – se acontecer. A maior tragédia ambiental da história da mineração brasileira não pode passar em branco. O horror vivido em Brumadinho não pode se repetir. Nunca mais.