A forte chuva dos últimos dias em Minas Gerais não tinha entrado na casa de José Benício Leão, 45, em uma parte alta de Nova Lima (a 20 quilômetros de Belo Horizonte), até o temporal da noite de terça-feira (28). Para escoar a água e minimizar os danos, ele furou um buraco no muro do terraço, no andar superior da casa, que fica ao nível da rua. Depois, correu para repetir a mesma operação no andar debaixo, mas a pressão da água rompeu a estrutura e provocou um desabamento.
Ele morreu soterrado debaixo dos escombros. Vizinhos contam que ouviram gritos de socorro e pedidos para que fizessem algo, mas não foi possível resgatá-lo.
A mulher de José estava no salão de beleza, que fica em uma parte baixa do terreno e costuma alagar, tentando erguer as coisas para que não estragassem com a água da chuva. Ela e a irmã ouviram um barulho, viram o espelho do local estourar e correram. Quando chegou em casa, não teve resposta do marido e encontrou a parte de trás da casa desmoronada.
No início da tarde desta quarta-feira (29), quando a reportagem esteve no local, ainda era possível ver pedaços do muro e objetos atravessados no caminho por onde costumam passar pedestres, ao lado da casa da família. A escada que liga duas ruas do bairro Cristais costuma se transformar em uma cachoeira durante chuvas, mas nunca havia chegado ao ponto de entrar nas casas mais altas, segundo moradores.
Com a chuva de terça, a água abriu uma clareira no mato em frente às casas da rua alta e ganhou força, invadindo residências. As pedras de calçamento, que ficavam depois da escada, foram arrancadas.
— A gente ficou horrorizado, o banheiro da casa da minha tia ficou com um metro e meio de água. Não esperávamos. Nunca vimos uma enchente na proporção que foi essa aqui. Devastadora — conta Pâmela Cristina Cardeal Paixão, 19, sobrinha de José Benício.
Segundo ela, os moradores já ligaram diversas vezes para a prefeitura de Nova Lima pedindo providências, e a gestão municipal responde dizendo que mandaria fazer limpeza na manilha do condomínio que fica acima do bairro.
Em entrevista à rádio Itatiaia, de Belo Horizonte, o prefeito Vitor Penido disse que a água da rodovia MG-030, próxima ao bairro, canalizou e desceu em cima de uma região sem proteção. A parte mais baixa da cidade foi ainda mais atingida.
— A gente tem obrigação de procurar corrigir. A gente lamenta, foi a primeira vez, que eu tenho conhecimento, que essa água estava caindo ali — afirmou ele.
Pâmela conta que o tio, funcionário público, era brincalhão e prestativo com toda a família e os vizinhos. Ele deixou a mulher e dois filhos, de 11 e 14 anos. Um deles estava em casa na hora do desabamento, mas em outro cômodo.
— A gente só espera que as providências sejam tomadas para não causar mais dor. O que a gente está passando no momento, só Deus para ter misericórdia. O que a família está vivendo é um terror. É toda uma história, são filhos que estão sendo deixados por uma irresponsabilidade — afirma ela.
A casa de José Benício ficava próxima às residências de outros familiares. Pâmela diz que eles passaram a noite com parentes e esperam uma avaliação da Defesa Civil sobre riscos no local.
A morte foi uma das duas registradas até o momento pelo temporal de terça-feira. A outra foi de uma mulher, na cidade de Tabuleiro (a 274 km de BH), arrastada pela correnteza. Desde a sexta-feira, 55 pessoas morreram em Minas Gerais por causa das chuvas, segundo o boletim da Defesa Civil de MG. Mais de 46 mil seguem fora de casa.