Em 2007, quando o avião da TAM explodiu ao bater no hangar da companhia perto do aeroporto de Congonhas, Osmar Augusto Ferreira trabalhava como voluntário num hospital de Caieiras (SP) e soube da notícia pela televisão. Reuniu, segundo ele, nove pessoas e rumou para a capital paulista. Do terminal rodoviário de Jabaquara caminhou cerca de 5 quilômetros até o local da tragédia. Seu trabalho foi participar da entrega de água e lanches para as equipes de bombeiros que atuavam na área crítica.
Depois disso, Ferreira disse ter tomado a decisão de atuar em tragédias fora da sua cidade como fundador de um grupo de voluntários, os bombeiros civis de Osasco (SP). Estiveram em tragédias como as dos deslizamentos de terra de 2011 e 2013 em Nova Friburgo (RJ) e Xerém, um distrito de Duque de Caxias (RJ), e o deslizamento de um morro em Ilhota (SC), eventos que deixaram centenas de mortos e feridos.
Quando decide participar de operação em um local de tragédia, o grupo de Osasco se apresenta ao bombeiro encarregado da coordenação e pergunta onde pode ser útil. Normalmente dormem em alojamentos fornecidos pelos militares e comem a mesma comida dos bombeiros. Tirando isso, afirmam nada receber.
Segundo Ferreira, 45 anos, nenhum dos 50 integrantes do seu grupo, incluindo três advogados, é remunerado. Ele retira seu sustento de cursos e palestras que dá para empresas sobre segurança e brigadas de incêndio. Ferreira disse que a sua renda mensal é de pouco mais de R$ 2 mil. Ele já foi salva-vidas de piscina em clube, segurança, um pouquinho de tudo.
— Nasci na roça, até trabalho na roça eu já fiz. Sou nascido e criado no interior de São Paulo — contou.
É casado e tem dois filhos, de 14 e 17 anos. Mas o que levaria uma pessoa a abandonar a vida em família e se dirigir a locais perigosos com muitas mortos e feridos sem nada receber?
— Acredito que cada um de nós tem uma missão na vida. Às vezes eu me pego fazendo essa pergunta, 'por que eu procuro fazer esse trabalho? A gente se desgasta com ele também'. Mas é o amor ao próximo que fala mais alto — disse Ferreira.
Para chegar a Brumadinho, o voluntário reuniu cinco pessoas e disse ter gasto R$ 250 em combustível para o carro da "corporação". O grupo chegou ainda na noite da sexta-feira (25), no dia do rompimento da barragem, e rumou direto para um dos locais em que os bombeiros faziam buscas.
— Eu vi vagões de trem retorcidos, contêineres retorcidos, pneus de caminhões grandes, vários deles revirados, um cenário bastante traumatizador. Chance de sobrevivência ali, já naquele dia que chegamos, já era muito remota. Só um milagre mesmo. Não tinha como. Ainda veio na cabeça, 'ah, a pessoa podia estar dentro de um contêiner em um bolsão de ar'. Mas é muito difícil — disse Ferreira.
Depois do impacto do primeiro dia, Ferreira e seus comandados receberam como missão garantir a segurança do perímetro em que pousam e decolam os helicópteros que fazem as ações de busca de corpos e sobreviventes na região do Córrego do Feijão, um dos bairros de Brumadinho mais atingidos pelo rompimento da barragem.
Ferreira disse que a experiência mais impactante que passou foi na tragédia dos deslizamentos de terra em Nova Friburgo (RJ), quando encontrou os corpos de uma criança de sete anos e de seu pai.
— Acho que o pai viu a avalanche de lama e esticou a mão para pegar o filho, naquele intuito de proteção de pai, e a criança não alcançou a mão, grudou na perna do pai. Os dois morreram dessa forma.
Quando não está participando de operações em grandes tragédias, Ferreira e seu grupo em Osasco fazem um serviço cotidiano de "corte de árvore, captura de animal peçonhento, extermínio de abelha".
— Hoje nós somos referência. Recentemente os bombeiros militares de Atibaia, quando houve uma emergência de incêndio em área florestal, nos chamaram para auxiliar. É um reconhecimento — disse o voluntário.