Diante da dificuldade do poder público de solucionar a histórica falta de água em Gramado, o Sindicato da hotelaria, restaurantes, bares, parques, museus e similares da Região das Hortênsias (Sindtur Serra) aponta a falta de planejamento e investimento como causas para o problema. Conforme o presidente da entidade, Fernando Boscardin, além da rede de abastecimento não ter sido ampliada nos últimos anos, o município também autorizou um número muito grande de novas construções, o que contribui para a superlotação da cidade.
Moradores da cidade tem relatado falta de água, principalmente aos fins de semana e feriados prolongados, como neste, da Proclamação da República. No feriadão de finados, partes da cidade chegaram a ficar 72 horas sem abastecimento.
— Temos 35 mil moradores e agora (feriadão de Proclamação da República) tem quase o dobro de gente. A cidade está superlotada devido às inúmeras autorizações de construção para casas que não eram para residência, mas para aluguel de temporada e que, às vezes, abrigam mais pessoas que a capacidade. Não foi por falta de aviso e estão agindo na consequência, não na causa. Vai acontecer, com o tempo, problemas nos serviços básicos, como de saúde — alerta Boscardin.
Moradora do bairro Floresta, a gestora de alugueis Daniele Hoffmann, 24, também tem enfrentado o problema. Desde quinta-feira da última semana (8), ela encontra as torneiras secas ao chegar em casa, por volta das 18h30min, e o abastecimento só retorna de madrugada. A situação também é enfrentada por vizinhos e pela maioria dos condomínios administrados pela imobiliária onde Daniele trabalha.
— Acontece de vez em quando, mas piorou no fim do ano. Sempre foi assim, mas neste ano até em períodos de baixa temporada faltou. Minha vizinha foi reclamar com a Corsan e disseram pra ela que as pessoas estão gastando demais — revela.
O diretor de operações da Companhia Rio Grandense de Saneamento (Corsan), Eduardo Carvalho, disse que a ampliação em 25% a 30% no abastecimento da cidade depende da interligação de uma nova adutora, que deve ocorrer a partir da próxima quarta-feira (21). A obra inclusive deve causar interrupção total na distribuição durante algumas horas. A expectativa é que até o fim do mês o reforço esteja operando de forma plena. Ainda segundo Carvalho, o consumo da cidade está alto e o sistema não tem conseguido preencher o novo reservatório para 3 milhões de metros cúbicos de água, inaugurado em setembro na Aldeia do Papai Noel. Por isso, a Corsan tem utilizado caminhões-pipa para encher reservatórios menores.
Em nota, a prefeitura de Gramado disse que trata o assunto com o máximo interesse público e que mantém contato constante com a direção da Corsan. O município também diz continuar cobrando respostas da companhia estadual. Com relação às construções, o município passou a restringir novas obras desde o início do ano passado. O objetivo é preservar o meio ambiente e combater a especulação imobiliária.