Ainda vestindo pijamas, meias e chinelos, Tainara Pramio Dorst fez um vídeo, às 2h46min desta quarta-feira (3), caminhando pelo chão da própria casa alagada, no centro de Crissiumal, no noroeste do Estado. Minutos antes, a universitária de 19 anos viveu momentos de pânico enquanto pedras de granizo perfuravam o teto da residência:
— Me escondi por um tempo embaixo da mesa, mas nenhum lugar era seguro. Foi horrível. O barulho era algo estrondoso e parecia que tudo iria vir abaixo — lembra Tainara.
A Defesa Civil calcula que mais de 2,5 mil residências foram atingidas no município. Uma delas foi a casa dos Dorst, onde as telhas e o forro de PVC não resistiram às pedras de gelo – que "passaram do tamanho de um ovo" – e acabou alagada pela chuvarada que se seguiu ao granizo.
— Agora, a água já está batendo na minha cama, porque choveu muito até de manhã. Não tem lugar da casa que não tenha molhado. Quase tudo estragou ou se perdeu — diz.
Os pais dela compraram lona para estancar o problema, já que as nuvens escuras seguem ameaçando mais chuva em Crissiumal. A prefeitura também está distribuindo o material, que já começa a faltar, tamanho o estrago na cidade de 14,2 mil habitantes.
Priscila Tamires da Silva, 25 anos, trabalha no Hospital de Caridade do município, para onde, até agora, apenas uma pessoa procurou ajuda por ter sido atingida na cabeça por uma pedra de gelo. Apesar de ter tido a casa devastada pelo granizo, a técnica em enfermagem foi trabalhar para reforçar a equipe da manhã – pelo menos metade dos funcionários não foi trabalhar por conta de problemas em seus imóveis.
Apesar dos estragos históricos no município, Priscila e o filho Leonardo, de oito anos, trazem na memoria más lembranças de um temporal semelhante, que também danificou a antiga casa em Inhacorá, na região Noroeste, há seis anos.
— Enquanto meu marido corria pela casa para guardar as coisas e tentar salvar algo, eu fui ficar com meu filho, que chorava de pânico. Nos abrigamos no quartinho da dispensa, que parecia ser o único lugar seco da casa, e tentei acalmá-lo — conta ela. — Foram minutos intermináveis, ainda pior do que da última vez.
Segundo Priscila, nenhum móvel, sofá ou cama escapou das pedras e da chuva. Acabou a água e a luz na residência, e o filho está sem aulas.
— Precisamos de forçar para poder recomeçar — resume.