Cento e cinquenta e três anos depois do mais importante confronto naval da história brasileira, a batalha do Riachuelo, durante a Guerra do Paraguai (1864-1870), a Marinha irá homenagear nesta segunda-feira três de seus personagens mais importantes, em Rio Grande, no sul do Estado. Os restos mortais de dois militares, o comandante Felinto Perry e o almirante Joaquim Francisco de Abreu, e da mãe do marinheiro Marcílio Dias, Pulcena Dias, serão trasladados para as instalações do 5º Distrito Naval, responsável por Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A cerimônia poderá ser acompanhada pela população e deve ocorrer mesmo se chover.
Os corpos de Perry e Abreu foram sepultados no cemitério católico do município. Os restos mortais de Pulcena Dias estão junto ao monumento em homenagem a Marcílio Dias, na Praça Marinha do Brasil, em Rio Grande. O sepultamento de seu filho se deu logo após a morte, na batalha do Riachuelo, em 1865, nas águas do Rio Paraná. Por isso, ao trasladar o corpo de Pulcena, a Marinha homenageia também o marinheiro, cuja história é reverenciada pela bravura demonstrada na luta contra quatro militares paraguaios ao mesmo tempo no conflito.
O traslado ocorre em duas etapas. A primeira foi ontem, quando os restos mortais dos três homenageados foram deslocados até a Catedral de São Pedro. Hoje, às 9h, haverá missa no local. A partir das 9h55min, os féretros serão levados em procissão até a sede do 5º Distrito Naval. Os restos mortais serão inumados a partir das 11h, junto ao Panteão do Almirante Tamandaré, entre figueiras centenárias. No local, estão o túmulo de Joaquim Marques Lisboa, marquês de Tamandaré e patrono da Marinha, sua mulher Maria Eufrásia Lisboa, a sala de memória e o monumento em homenagem aos heróis navais.
A batalha do Riachuelo
O confronto ocorreu em 11 de junho de 1865 às margens do Riachuelo, afluente do rio Paraguai, província de Corrientes, na Argentina. De um lado, estavam forças do Paraguai e, do outro, as do Império do Brasil, que junto com Argentina e Uruguai integrava a Tríplice Aliança.
O Paraguai perdeu a luta e, depois, a guerra. Do lado dos derrotados, foram 351 mortos e quatro navios afundados. Pelo Império do Brasil, morreram 104 pessoas e um navio foi perdido.
Como acompanhar a cerimônia
Missa aos Heróis Navais – Nesta segunda-feira, às 9h
Local – Catedral de São Pedro (Rua General Bacelar, 440, Centro, Rio Grande)
Translado dos restos mortais – Nesta segunda-feira, às 9h55min
Itinerário – Saída da Catedral de São Pedro em direção ao Comando do 5º Distrito Naval, passando pelas ruas Marechal Floriano Peixoto e Marechal Andréa.
Inumação dos Heróis Navais –Nesta segunda-feira, às 10h30min
Local – Comando do 5º Distrito Naval (Rua Almirante Garnier, 70, Centro, Rio Grande).
Quem são os homenageados
Almirante Abreu
Natural de Rio Grande, Joaquim Francisco de Abreu nasceu em 13 de março de 1836. Durante a batalha do Riachuelo, já almirante, comandou a corveta Belmonte, que sofreu intenso ataque da artilharia paraguaia.
Com 37 rombos no casco do navio, o almirante Abreu, ferido, encalhou a embarcação para remendar os buracos. Em seguida, seguiu em combate. Além da Guerra do Paraguai, ele participou da tomada de Paysandu, em 1865, durante a Guerra do Uruguai, e do cerco de Montevidéu. Morreu aos 59 anos, em 14 de julho de 1895, em Rio Grande.
Comandante Felinto Perry
Nascido em 16 de janeiro de 1844, Felinto Perry também é rio-grandino. Ingressou na Escola da Marinha e, depois de atuar em diferentes navios, passou a integrar a tripulação da canhoneira Mearim, que participou da batalha do Riachuelo. Como segundo-tenente, Perry foi descrito pelo almirante Tamandaré, comandante das forças navais em operação na bacia do Prata, como “bravo entre os bravos”. Passada a guerra, o militar atuou como administrador da barra de Rio Grande, tendo se destacado no controle das entradas e saída dos navios. Morreu em 2 de abril de 1892.
Pulcena Dias
Não há registros fotográficos da mãe de Marcílio Dias (na foto ao lado, o militar). Filha de Manoel Ventura e Joana Dias, negros oriundos da costa da África, Polocena Maria Dias, que depois passaria a ser chamada Pulcena, trabalhou como lavadeira, frequentando casas de famílias ricas de Rio Grande. Em 1855, ela foi presa injustamente. Preocupada com o filho durante o cárcere, pediu ao compadre que entregasse o rapaz à Marinha. Aos 17 anos, Dias ingressou na Armada Imperial como grumete (recruta). No ano seguinte, Pulcena foi libertada e absolvida. Morreu em 23 de maio de 1865, aos 68 anos, 20 dias antes da batalha do Riachuelo.
"É o passado mostrando ao presente como pode ser o futuro", diz comandante sobre cerimônia
Para o comandante do 5º Distrito Naval, vice-almirante José Renato de Oliveira, 56 anos, a cerimônia é uma oportunidade de reverenciar pessoas simples que contribuíram para a história do país.
Qual a importância simbólica dessa cerimônia?
É repleta de significados. Envia a mensagem de que seres humanos comuns podem empreender fatos notáveis e mudar a história e o futuro de um país. Podemos ser heróis de nós mesmos. São exemplos de valores para todos nós.
É também uma oportunidade para as pessoas conhecerem melhor a história do Brasil?
Sempre me pergunto porque amo o Brasil. Amo pelo respeito aos meus antepassados, pelo pai do meu pai, pelo meu pai, que me deram uma identidade, um país para chamar de meu, de nosso. (Os marinheiros) mostraram que, mesmo em situações adversas, a gente nunca deve desistir. A ideia é mostrar o máximo possível para o público. Vamos trazer escolas, é muito importante a presença das crianças, que são o futuro do Brasil. É o passado mostrando para o presente como pode ser o futuro.
A Guerra do Paraguai deu unidade às Forças Armadas?
Com certeza. Tivemos no Rio Grande do Sul a Revolução Farroupilha, de 1835 a 1845. Vinte anos depois, ocorreu a batalha do Riachuelo. Todos os brasileiros lutaram juntos contra o invasor, Solano López.