As ações do Gabinete de Crise do governo do Estado, que garantiram, ao longo do final de semana, a entrega de cargas de remédios, de rações para aves e suínos, de gás para presídios e, principalmente, de combustível em postos de Porto Alegre e Região Metropolitana, podem ser ampliadas, mas isso não significa que os problemas estejam perto do fim.
Das seis distribuidoras de combustível que tentaram despachar caminhões com escolta da Brigada Militar (BM), apenas uma conseguiu. Houve casos de caminhões sabotados e motoristas pressionados a recuar.
O nível de tensão com o cenário colocado pela greve dos caminhoneiros, que entra em seu oitavo dia nesta segunda-feira (28), pode ser medido pelo burburinho na sala em que o comitê, criado na sexta-feira, funciona, no prédio da Secretaria de Segurança Pública (SSP), centro da Capital. No anoitecer deste domingo (27), mesmo com a imprensa esperando para ouvir o balanço dos trabalhos, as autoridades tinham dificuldade para falar.
Passava das 18h e, por telefone, o coordenador do gabinete, o vice-governador José Paulo Cairoli, detalhava reflexos das medidas ao interlocutor e, minutos antes, tinha feito relato ao próprio governador José Ivo Sartori. À esquerda dele, o comandante-geral da Brigada Militar, coronel Mário Ikeda, de olho em uma tela gigante, repassava alertas de que caminhoneiros estavam se deslocando para determinado local.
A BM tem uma estrutura de 1 mil PMs em todo o Estado preparados para atuar em escoltas do que for necessário. À direita de Cairoli, o coronel Alexandre Martins, comandante da Defesa Civil, dava instruções e reunia informações.
Em uma sala ao lado, a diretoria do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes no Rio Grande do Sul (Sulpetro) se dividia em telefonemas tentando fazer a articulação entre distribuidoras, postos e BM. Em outro ambiente, representantes do Exército e da Polícia Rodoviária Federal de plantão para agir em estradas, caso necessário. O vice-governador ressaltou, mais de uma vez, que o foco do trabalho são as ações relacionadas à vida:
— Como governo, estamos preocupados em não desabastecer o Estado do Rio Grande do Sul. Sabemos da gravidade do momento e como tudo isso afeta a vida das pessoas. Assim, nossa prioridade é atender e garantir a vida das pessoas e tudo que gira em torno dela.
Em uma frase, o coronel Martins resumiu uma das maiores dificuldades de atuação neste momento:
— Nossa maior dificuldade é a falta de liderança do movimento com a qual possamos conversar. É uma estratégia.
E então, surge uma revelação: foi de Santa Maria, cidade exposta nos últimos anos por tragédias — o incêndio da boate Kiss e agora o maior surto de toxoplasmose do mundo — que surgiu a brecha para o governo construir um plano de ação visando a amenizar o desabastecimento causado em diversos setores.
Segundo Martins, um grupo de caminhoneiros da cidade procurou a Defesa Civil na última quinta-feira com a preocupação de que eventuais dificuldades no atendimento à população fossem vinculadas ao movimento. Com isso, surgiu a ideia do adesivo "Trânsito Livre", que seria colocado em caminhões que estivessem transportando gêneros de primeira necessidade. No dia seguinte, o governo criou o Gabinete de Crise e as ações foram sendo ampliadas.
— Temos espaço para mais ações de outros setores e vamos aprendendo conforme vamos trabalhando — garante Martins.
Para garantir que o combustível chegue aos postos, por exemplo, não basta ter a BM para fazer a escolta. Os caminhões precisam de motorista e de operador para descarregar o combustível. O Estado oferece motoristas, mas sem a qualificação para este tipo de trabalho, é ineficaz. Então, somente as distribuidoras e redes que tenham caminhões próprios e contem com motoristas e operadores que aceitem participar dos comboios poderão garantir abastecimento. Só na Capital, há 280 postos de um total de 2,8 mil no Estado. Até o final do domingo, 13 caminhões haviam sido escoltados: oito para a Capital e região, três para Serra e dois para o Litoral.
Conforme a Defesa Civil, o combustível não é o item mais importante na lista do desabastecimento, mas é um dos que mais causa a sensação de insegurança da população, já que as pessoas se preocupam em precisar transitar, ir ao hospital, à escola ou ao mercado e não ter como. Aliás, foi por isso que houve a decisão de suspender as aulas na rede estadual, já que mesmo com postos sendo abastecidos, não há garantia de normalização ainda.
Outro ponto que foi descoberto ao longo dos trabalhos: as autoridades tinham preocupação em abastecer, além de veículos das polícias, as ambulâncias.
— Depois, soubemos que há itens muito mais importantes para os hospitais do que as ambulâncias, como o transporte de insumos, de bolsas de sangue, de remédios — contou o comandante da Defesa Civil.
Também faltou, em alguns momentos, comunicação entre governos e órgãos. Na ânsia de conseguir abastecer postos de combustível, por exemplo, o gabinete esqueceu de comunicar os locais à prefeitura a fim de facilitar, até mesmo, o trabalho de agentes de trânsito.
— Mas hoje (domingo) já conversamos e amanhã teremos reunião conjunta. Isso tudo faz parte da evolução dos trabalhos — explica Martins.
Apesar das dificuldades, a meta do governo é avançar nas medidas. Há garantia de que outros tipos de cargas podem ser escoltados como, por exemplo, de gêneros alimentícios para mercados. Basta que a SSP receba a demanda. O gabinete criou canais para que a população faça chamados e os pedidos possam ser filtrados. Até a noite do domingo, no entanto, ainda não havia nenhuma requisição de serviço. Apenas críticas ao movimento e desabafos haviam sido registrados.
Os canais para pedidos de serviços:
E-mail: gabinetecrise-defesacivil@casamilitar.rs.gov.br <mailto:gabinetecrise-defesacivil@casamilitar.rs.gov.br>
Celular e WhatsApp: (51) 984012527
Telefone fixo: 3288-7045 (SSP-RS)