Para quem estranhou a ação firme da Brigada Militar, até com uso de bombas de gás lacrimogênio, contra manifestantes na BR-116, no acesso à Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas, na manhã desta quarta-feira (30), a explicação do Gabinete de Crise do governo é clara.
— Chegamos em um momento limite. As sabotagens em caminhões de combustível e resistências em bloqueios estão aumentando desde a noite de segunda-feira (28). A fase da conversa passou. Nossas ações vão ser mais incisivas para permitir o abastecimento da população. A gente vai abastecer, queiram eles ou não. E a intensidade da nossa ação vai ser determinada pela ação deles — afirmou o coronel Alexandre Martins, comandante da Defesa Civil e um dos coordenadores do Gabinete de Crise.
O coronel negou que o uso da força tenha alguma relação com o perfil dos manifestantes de esquerda que promovem a greve dos petroleiros, iniciada nesta quarta-feira:
— Não identifico isso. Para mim, são as mesmas pessoas que já estavam nos bloqueios e, agora, com as exigências dos caminhoneiros atendidas, elas surgem com novos pedidos. É um momento limite e isso foi identificado também pelo Exército. Nós não combinamos essas ações (o Exército passou a fazer corredores de segurança nas rodovias federais). Coincidiu termos a mesma impressão de que os manifestantes passaram da linha.
A greve dos caminhoneiros entrou em seu 10º dia. Martins ressaltou que se precisar conversa, haverá, mas que se a resistência persistir, será feito o "uso progressivo da força":
— Precisamos sair (da refinaria) com rapidez para que cada caminhão faça três ou quatro viagens por dia. Não podemos aceitar o sujeito parado na frente do caminhão querendo conversar. Isso acabou. Passou a fase de abastecer só produtos essenciais, queremos voltar à normalidade.
Sobre o motivo da mudança de atitude neste momento — com ações mais enérgicas —, o coronel relatou uma série de incidentes que indicariam também "mudança de perfil no movimento". Segundo ele, desde a noite de segunda-feira, aumentaram os ataques a caminhões que entram e saem da refinaria. Um dos ataques por parte de manifestantes, inclusive, causou um acidente, já que o caminhão perdeu o controle e bateu em duas viaturas da BM que faziam a escolta. Um suspeito da ação foi preso. O oficial também citou episódios ocorridos em Caxias do Sul.
Também segundo o gabinete, até então, apesar dos pontos de manifestação em estradas, não havia bloqueios permanentes, apenas esporádicos, e bastava a polícia chegar para o trânsito se resolver. Mas, agora, a situação teria piorado, com bloqueios que não se dissipam sem a ação das polícias rodoviárias. Inclusive, foi criada no gabinete, de terça para quarta-feira, uma pasta específica para tratar de "desobstrução de rodovias". Desde o sábado, o governo já tinha aval da Justiça para adotar as medidas necessárias para desbloqueio de estradas.
Conforme o chefe da Defesa Civil, também já há empresas registrando ocorrências policiais por ameaças feitas contra seus motoristas e, a partir disso, a Polícia Civil foi acionada para identificar os autores de ameaças. Além disso, a partir desta quarta-feira, o Ministério Público se junta ao trabalho do Gabinete de Crise.