Morto após salvar o filho em um rio na cidade de Alto Araguaia, no Mato Grosso, o empresário Rogério Schossler, 40 anos, estava sem ver a criança havia mais de cinco meses. Divorciado depois de um casamento de duas décadas, o morador de Augusto Pestana, no noroeste do Rio Grande do Sul, havia aproveitado o feriado prolongado de Carnaval para encontrar a criança, que mora a 1,7 mil quilômetros de distância.
Uma das duas irmãs do empresário, Carla Schossler, 38 anos, conta que ele programou a viagem duas semanas antes. A um amigo, confidenciou que estava com pouco dinheiro para o plano, mas que iria devido à saudade que sentia de Pedro, 10 anos.
— Ele disse que precisava dar um jeito de ir visitá-lo — recorda Cristiano Roberto Rhoden, amigo de infância do empresário.
Conhecido pelo perfil festeiro e irreverente, Rogério começou o deslocamento de carro na sexta-feira (9). Inicialmente, dirigiu até Amparo – cidade paulista próxima a Campinas – para buscar a filha, Karine Schossler, 17 anos. Jogadora de vôlei, a adolescente prepara-se para disputar o Campeonato Paulista Juvenil de 2018, após passagens pela seleção gaúcha e pelo Joinville, de Santa Catarina.
— Se não viajasse no Carnaval, não teria outra oportunidade para ver os filhos. Era o único feriado com tantos dias que o Rogério poderia viajar — conta Carla.
Com Karine, o empresário seguiu para Alto Araguaia, onde chegaram no domingo pela manhã. Depois de encontrar o filho e a ex-mulher, saíram para um passeio e aproveitaram para um banho nas águas do Rio Araguaia.
Segundo relatos, Rogério atirou-se no rio para salvar os filhos e a ex-cunhada, que estavam sendo levados pela correnteza. Depois, tentou se agarrar a um galho solto, mas foi levado a uma queda d´água, com pedras, e desapareceu.
Comoção em Augusto Pestana
As horas seguintes foram de angústia para familiares e amigos que, de longe, procuravam informações sobre as buscas. "Quanta agonia", escreveu uma familiar no Facebook. Em um áudio compartilhado pelo WhatsApp, Karine dizia para parentes que ainda seria possível encontrá-lo.
— Ficamos naquela angústia, esperando notícias — resume a irmã de Rogério.
A esperança chegou ao fim após quase 24 horas de buscas. Às 17h40min de segunda-feira (12), uma equipe do Corpo de Bombeiros de Rondonópolis localizou o corpo do empresário gaúcho a seis quilômetros do local do afogamento.
"Você foi um herói e depois se transformou em anjo!", escreveu em sua rede social outra parente.
Rogério sofria de arritmia cardíaca. Por isso, familiares acreditam que ele possa ter sofrido um infarto durante o afogamento.
Ele estava acostumado às correntezas das águas doces: nos momentos de lazer, saía a navegar em seu barco a motor pelo Rio Ijuizinho, no noroeste do RS. Segundo a irmã, sempre de colete salva-vidas:
— Ele gostava de estar com os amigos, divertindo-se e fazendo festa. Costumava engatar o barco na caminhonete e ir para as terras, acampar e fazer churrasco. O Rogério tinha um círculo de amizades milionário, porque, se ele tinha um fio de cabelo na cabeça e alguém precisava, ele dava. Era muito prestativo.
Dois amigos e o sócio viajaram ao Mato Grosso para acompanhar as buscas. O grupo deixou a cidade na madrugada desta terça-feira (13) e deve chegar a Augusto Pestana à noite.
O pequeno município de 7 mil habitantes no noroeste gaúcho chocou-se com a morte do conhecido morador. Rogério era proprietário de uma serraria há 15 anos – a RS Serraria, localizada na RS-522 –, seguindo os passos dos pais, que também comandaram uma madeireira na cidade.
O velório, marcado na capela do Hospital São Francisco, está previsto para começar assim que o corpo chegue na cidade. O sepultamento deve ocorrer na quarta-feira (14), às 15h30min, no cemitério do município.