A constatação de que, no ano passado, 17% das amostras colhidas em Soluções Alternativas Coletivas (SAC) – que incluem poços artesianos, cisternas, cacimbas e outras fontes – no Estado estavam contaminadas com a bactéria Escherichia Coli (E.Coli) preocupa quem tem esta modalidade como principal acesso à água para consumo. Mas cuidados individuais simples aliados à mobilização das prefeituras podem reduzir o perigo.
Fernando Spilki, coordenador do mestrado em Virologia da Universidade Feevale e especialista em microbiologia da água, aconselha: ferva a água antes de beber. Aos que correm contra o relógio diariamente e não têm tempo de adotar essa prática com antecedência, o cientista sugere o uso de potabilizadores em casa.
O aparelho, que é instalado dentro da caixa d’água, pode ser comprado em lojas especializadas ou fabricado artesanalmente, desde que sob orientação técnica. Na prática, o equipamento dosa a quantidade de cloro e outras substâncias que tornam a água própria para o consumo. Spilki recomenda ainda a limpeza completa da caixa de água a cada seis meses:
— Muitas vezes, o líquido nem chega tão contaminado ao reservatório, mas a sujeira na caixa agrava o problema. A água de poço é maravilhosa, mas quando é limpa.
Professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas, Fernando Mainardi Fan lembra que cabe às prefeituras definirem o modelo de gestão da água. Os municípios podem assumir o serviço, firmar convênio com a Corsan ou fazer licitação para a iniciativa privada.
— Há locais onde moradores de áreas rurais se juntam para fazer o tratamento da água e dividir os custos. Mas a responsabilidade de tratar ou mandar tratar é das prefeituras – salienta Fan.
Mesmo nos 317 municípios onde atua, a Corsan não fornece água tratada para áreas rurais. O contrato, conforme o superintendente de relações institucionais, André Finamor, se restringe ao meio urbano – um dos impedimentos à distribuição em extensas áreas de campo é o custo, que elevaria a tarifa.
— Em muitos destes municípios fizemos acordo de cooperação. Capacitamos algum servidor ou pessoa da comunidade para fazer o tratamento. Fornecemos o material necessário e realizamos os testes que indicam a qualidade da água depois de tratada – explica Finamor, acrescentando que a Corsan está à disposição para auxiliar todos os prefeitos conveniados.
Em Santana do Boa Vista, um dos três municípios onde 100% das amostras coletadas pela Secretaria Estadual da Saúde estavam contaminadas, o vice-prefeito,
Leonaldo Correa da Rosa (PMDB), afirmou não saber desta parceria, embora a gestão do serviço na área urbana da cidade seja de responsabilidade da companhia estadual:
— Não foi apresentada esta possibilidade. Mas, agora, vamos entrar em contato com a Corsan para tentar resolver este problema.
Além das 317 cidades abastecidas pela Corsan, outras 10 têm empresas municipais (como Porto Alegre, São Leopoldo, Novo Hamburgo e Pelotas). Somadas, essas cidades abrigam mais de 10 milhões de pessoas. Outras 170 cidades vivem situação precária: são abastecidos basicamente por poços artesianos ou cacimbas. Conforme levantamento da Secretaria Estadual da Saúde, realizado como parte do Sistema de Vigilância da Qualidade de Água para Consumo Humano (Siságua), 815 mil gaúchos tomam água de captação alternativa e sem rede de distribuição. Não há como precisar quantos ingerem o líquido afetado por infestação porque a pesquisa é feita por amostragem.