No final de setembro morreu um dos artistas mais referenciais da música regionalista gaúcha, Adelar Bertussi. Na década de 1950, ele e o irmão Honeyde, que morreu em 1996, formaram uma dupla de sucesso que inovou ao introduzir um dueto de gaitas. A morte de Adelar colocou a localidade de São Jorge da Mulada, em evidência. Adelar foi velado e sepultado na comunidade onde ele e o irmão foram criados. A Mulada, nome abreviado da localidade, está dentro do distrito de Criúva, comunidade rica em história, cultura e belezas naturais.
A Mulada fica a 65 quilômetros da área central de Caxias, vindo pela Rota do Sol. Na comunidade, o destaque é o memorial em homenagem aos irmãos gaiteiros que pode ser visto de longe na estrada. Ao lado do memorial tem a casa da família Bertussi, também ponto de visitação.
Criúva só foi anexada ao território de Caxias em 1954. Antes, a área de cerca de 460 km² pertencia a São Francisco de Paula. A história do distrito é bem mais antiga do que a de Caxias. Em 1772, a colônia portuguesa fez a doação de terras para formar o que, hoje, é o distrito. O local era um ponto de passagem de tropeiros.
O morador de Criúva e professor aposentado, Luiz Guiomar Gonçalves dos Reis, explica que foram os tropeiros que tornaram o distrito conhecido por esse nome, inspirado em uma árvore típica da região.
— Os tropeiros passaram a marcar seus encontros ou a conversar dizendo 'tal época passaremos por criúva, vamos permanecer lá com o gado porque lá têm potreiros de aluguel, lugares para pouso'. Isso fez com que se difundisse esse nome — explica.
Para facilitar a passagem dos tropeiros, Criúva ganhou uma ponte, que completa 100 anos de construção em 2017. A Ponte do Korff é um dos principais pontos turísticos do interior de Caxias. A ponte passa sobre o Rio das Antas, tem piso de madeira e sustentação de ferro. Em 2006, ela foi declarada patrimônio histórico e cultural do Rio Grande do Sul. A ponte passará por obras nos próximos meses. Em um mês será lançada licitação para a compra do material que será utilizado nas obras de reparo da estrutura, que é outra opção viária para chegar à Vacaria. Isso porque ao atravessar a ponte, já é território do município de Campestre da Serra. A ponte fica a 12 quilômetros da subprefeitura de Criúva. A estrada para chegar à ponte é de chão, mas está em boas condições.
Já para chegar à sede do distrito, o caminho é todo pavimentado. Vindo do centro de Caxias e acessando a Rota do Sol, o percurso é de quase 60 quilômetros. Pelo município de São Marcos, a distância é bem menor, são menos de 20 quilômetros, saindo do centro da cidade.
Na sede do distrito, fica a Igreja Matriz, toda de pedra. A devoção religiosa é expressa na tradicional Festa do Divino Espírito Santo, uma herança portuguesa. Depois de um período com pouca mobilização, a festa voltou com força na comunidade a partir da década de 1970. O aposentado Jorge de Oliveira Rodrigues, conhecido como Boca de Sino, faz parte do grupo que ajudou a retomar o evento. Boca de Sino compôs músicas que até hoje são entoadas nas tradicionais visitas de convite para a festa. Os festeiros e músicos passam nas casas, empresas, Câmaras de Vereadores carregando a Bandeira do Divino.
— O capitão da bandeira vai na frente com a bandeira e a gente já vai tocando e cantando para chegar na casa com alegria. Antes de dar adeus ao dono da casa, a gente canta música na porta. O padre dá uma bênção. Na saída, cantamos uns versos de despedida e vamos para outra casa — relata o aposentado.
Uma novena antecede a festa. Depois de cada novena tem janta e baile. A equipe organizadora da festa de 2018 já está montada e a expectativa é começar as visitas de divulgação já no final de fevereiro.
Um passeio a Criúva só está completo se passar pelo cânion Palanquinho. O local fica a 15 quilômetros da sede do distrito. Mas quem vai à Mulada pode chegar ao Palanquinho sem ir até a sede.
Turismo
O distrito conta com quatro pequenas pousadas. Três ficam na sede e uma na Mulada. Também tem uma operadora de turismo de aventura.