Próximo ao Dia da Criança, o Super Repórter foi visitar um pessoal cheio de energia em uma das casas do Abrigo João Paulo II em Porto Alegre. A instituição tem um método em que até 10 crianças moram uma casa como qualquer outra, mas que é administrada por um casal, os pais sociais, ou como os pequenos chamam, "os tios". A Ana Cler e o marido, Roberto Guarnieri, abriram a porta pra mim e me receberam com um cheirinho de café que já chegava na sala. No sofá, nove rostinhos me olhavam curiosos. Faz 8 meses que os dois vieram morar nesta casa e trouxeram com eles os dois filhos, um menino de 13 anos e uma de 15, junto ainda com as duas cadelinhas da família. Para Ana, o trabalho exige dedicação e entrega para ser mãe social de 10, com faixa etária dos 5 a 15 anos na casa.
- Tem que abraçar a responsabilidade de educar, amar e criar dez crianças que já vêm de uma realidade não muito feliz. São inúmeros casos que comprometeram a vidinha deles, por mais que tu dê amor, afeto, eles tem uma carga psicológica que vai pro resto da vida, então nossa função é tentar amortizar o máximo possível para que eles sintam o gostinho daquela vida em família que todo mundo almeja. Nós pensamos muito antes porque é uma responsabilidade, não é algo pra tu experimentar pra ver se é bom. Nossa casa é aqui, nós vivemos e acordamos aqui, na nossa outra casa nós somos visitas. Até nossos animais de estimação estão aqui" - conta.
A coordenadora técnica do Abrigo, Camila Monteiro, explica que há um processo de seleção do casal para cuidar da casa-lar seis dias por semana, com um dia de folga, passando antes por uma capacitação. Há casos, como o de Ana e Roberto, em que as crianças já estão na casa quando eles chegam.
- São casais, casados, que enviam currículo para a instituição e lá passam por uma entrevista com uma psicóloga, depois comigo e ainda com o diretor. Eles vão residir em uma casa que não é sua, é alugada ou própria da instituição.
Depois de conversar com os adultos, eu resolvi interromper a sessão de filme do pessoal e me sentar no meio deles na sala-de-estar. Por uma questão de legislação, os nomes deles não vão ser divulgados e as vozes estão um pouco editadas (no áudio da matéria). Dois irmãos eram os mais falantes e não demorou muito para que todos se soltassem, dessem risada, contando das bagunças e até do que pretendem fazer quando crescerem.
- Quero ser policial do exército para ajudar todos os que estão na rua. Eu vou ajudar a proteger, alimentar elas e dar cobertores para dormirem - diz um menino de óculos e camisa xadrez.
Eles ainda me convidaram pra ficar pro café da tarde. Uma mesa na cozinha esperando a gente com bolo, bolachinha, café passado, chá e suco...
- A comida aqui é uma delíiiiicia! Tem lasanha, pizza, bolo, doces, galinha e carne... O churrasco do tio é bem bom! A carne é bem macia - descrevem duas meninas.
Esse é o clima por ali. Muitos sorrisos, correria no pátio e gargalhadas. Atualmente, o abrigo João Paulo II atende em média 250 crianças e adolescentes em medida de proteção. Em Porto Alegre, são 13 casas em convênio com a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc). Em Viamão, são seis e mais um abrigo, e em Alvorada há mais três casas-lares em parceria com a prefeitura. E se você quiser ajudar a instituição ou ser um voluntário, acessa o site que lá tem várias maneiras de participar.