Depois de oito dias, os protestos de caminhoneiros no Rio Grande do Sul perderam força. Na manhã desta terça-feira (8), o Estado amanheceu sem protestos, o que se refletiu na normalização da chegada de cargas ao porto de Rio de Grande, na decisão da General Motors (GM) de retomar a produção na fábrica de Gravataí nesta tarde e no reabastecimento de postos de combustíveis e supermercados.
O ponto alto das manifestações contra o aumento da cobrança de PIS/Cofins sobre óleo diesel ocorreu na última sexta-feira (4), quando foram registrados 22 pontos de bloqueios nas rodovias gaúchas, conforme levantamento da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Com a decisão da Justiça Federal que proibiu o bloqueio de estradas, no final da tarde de sexta, os piquetes foram aos poucos encerrados.
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Durante o final de semana e também na segunda-feira (7), o chefe de Comunicação Social da PRF, Rodrigo Rodrigues, informou que houve uma intensificação nos apedrejamentos contra caminhões, principalmente para ameaçar quem não para nos pontos de protesto, mas também contra carros e ônibus.
Foi isso que levou a GM a suspender a produção no complexo industrial de Gravataí na segunda-feira (7). O comunicado da empresa alegava "insegurança" para transportar os automóveis, já que são carregados em cegonheiras abertas, ficando expostos a estragos provocados por pedradas. Na manhã desta terça, a fábrica não operou. No entanto, divulgou que o segundo turno, que começa à tarde, deve funcionar normalmente.
Diretor de infraestrutura do porto de Rio Grande, Paulo Somensi disse que a movimentação no terminal voltou a normalizar nesta manhã. Foram cerca de quatro dias com redução de cerca de 50% na chegada de cargas. No entanto, segundo ele, as exportações não chegaram a ser prejudicadas, pois havia estoques no porto.
– Se as manifestações continuassem, corríamos o risco de perder carga para Santa Catarina – comentou Somensi.
No sul do Estado, postos de combustíveis chegaram a ficar desabastecidos. Conforme o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes do Rio Grande do Sul (Sulpetro), Adão Oliveira, a pior situação ocorreu em Pelotas, onde ainda nesta terça havia unidades sem combustíveis. Em Rio Grande, houve remanejo entre os postos e a situação foi normalizada. No restante do RS, não há registros de desabastecimento.
– Por causa de uma instrução do governo, os postos têm de ter um estoque de segurança de três dias para casos esporádicos como esse. Por isso, na maior parte das regiões, estão aguentado até agora – afirma Oliveira.
Há relatos de problemas de desabastecimento em Ijuí e Cruz Alta, no noroeste do Estado, onde distribuidoras tiveram as entradas bloqueadas por manifestantes. A Sulpetro, no entanto, diz que não tem um levantamento completo.
Investigação
A partir da decisão judicial, a polícia notificou os líderes das manifestações e passou a atuar na identificação dos autores das agressões, buscando deter os responsáveis e aplicar a multa – estipulada em R$ 5 mil para cada veículo ou pessoa identificada.
– A gente (PRF) entende que a manifestação deixou de ser legítima a partir da proibição pela Justiça, e passamos a tratar os casos como atos de vandalismo – afirma Rodrigues.
Na noite de segunda-feira, um ônibus paraguaio foi apedrejado em Julio de Castilhos, na Região Central (veja foto abaixo). O motorista perdeu o controle e o veículo saiu da pista. Nesse e na maioria dos casos, conforme o policial, os agressores atiram os objetos e fogem.
– É diferente dos casos da Região Metropolitana em que fazem isso para assaltar. Eles ficam no meio do mato e depois fogem. Mas nossas equipes seguem trabalhando ostensivamente e também de forma velada para coibir esses atos – informa Rodrigues.
Ele acrescenta que imagens de câmeras mostram que alguns dos apedrejamentos foram cometidos por adolescentes e ciclistas, e que não teriam sido cometidos por caminhoneiros.