Nos bastidores da segurança pública de Santa Catarina, existe um sentimento comum de que os ataques a policiais e agentes penitenciários neste mês de agosto são obra de uma organização criminosa, como o próprio governador Raimundo Colombo reconheceu na tarde desta quinta-feira ao afirmar que "é uma questão nacional, que tem ação do crime organizado". Não houve confirmação de ataques em outros Estados.
Para o especialista em inteligência criminal Guaracy Mingardi, que é membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e responsável por elaborar um diagnóstico do sistema carcerário para o Departamento Penitenciário Nacional (Depen), os ataques podem estar relacionados à "comemoração" de uma data relevante para uma organização criminosa de São Paulo, mas ainda não há indícios suficientes que confirmem a suspeita.
Execuções de agentes federais, que ocorreram entre setembro do ano passado e maio deste ano no Paraná e no Rio Grande do Norte, têm sido atribuídas pela Polícia Federal e o próprio Depen à guerra entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV, principal facção do Rio de Janeiro). Ambas as organizações já têm núcleos em presídios de várias regiões do país. A presença do PCC em território catarinense já foi confirmada pelas autoridades, e no Estado a organização encontra resistência do Primeiro Grupo Catarinense (PGC) no comando do tráfico de drogas.
O especialista não descarta a possibilidade de haver uma articulação do PCC em demonstração de força, mas destaca que a organização não costuma comandar ações que não sejam bem planejadas. Um dos episódios que amedrontou a população foi em 2006, quando o PCC mandou matar policiais em São Paulo.
– É possível que eles sejam mais duros e mortais do que costumam ser para mostrar a que vieram. Mas é ruim para os negócios (criminosos), não é sempre que eles vão fazer isso. Se fizerem, é porque já estavam planejando há muito tempo, eles não decidem de um dia para o outro – explicou o especialista.
Na avaliação de Mingardi, os ataques que ocorreram em Joinville e Camboriú podem estar ligados a organizações catarinenses.
– Lá em Joinville o PCC está pressionando, tomando espaço. Então, pode ser que o PGC queira demonstrar força contra eles – acrescentou.
Preso em Joinville seria integrante de organização catarinense
O mesmo pensamento acompanha policiais que investigam as organizações criminosas em Joinville. Segundo um policial ouvido pela reportagem, que preferiu não se identificar, um dos presos pela morte do PM, Joacir Roberto Vieira, afirmou que é integrante da organização catarinense e que a ação teria sido comandada por ela. Detalhes da motivação não foram revelados, mas há uma suspeita de que pode ter sido uma ação em demonstração de força, justamente no aniversário da facção paulista – maior rival no Estado.
Além dos episódios em Santa Catarina, os veículos de imprensa do país já divulgam informações de que listas com nomes de agentes da segurança (delegados, juízes e desembargadores) estariam circulando como possíveis alvos do PCC.
– Ninguém viu essas listas. Há suspeita que os agentes federais executados tenham sido escolhidos. Mas escolheram ou foi aleatório? Ninguém confirmou ainda. Não adianta dizer que uma pessoa estava na lista depois que ela morreu– concluiu Mingardi.
Comandante da Polícia Militar se posiciona sobre ataques
Depois de gravar um vídeo alertando os policiais para a segurança pessoal, o comandante-geral da Polícia Militar, Paulo Henrique Hemm, conversou com o DC. Na avaliação dele, as mortes dos policiais estão ligadas ao enfrentamento de organizações criminosas que tentam demonstrar força atingindo agentes do Estado. Porém, não dá nome às organizações que podem estar envolvidas.
–A Polícia Militar, por ser órgão de execução, é a primeira que hoje sofre o revés da criminalidade, justamente pela forte atuação contra o crime organizado, destacando o combate ao tráfico de drogas e à apreensão de armas. Nosso Estado, como todo Brasil, sofre um aumento de consumo e tráfico de drogas, Além disso, serve de corredor de drogas para outros estados. O comércio ilícito cresceu e grupos estabeleceram-se, o que reflete no enfrentamento entre os grupos para dominar a prática.
O comandante diz que a reposta será dada por meio da força policial:
– Nossa resposta será intensificar e usar da força necessária, mesmo com o risco da própria vida, para continuarmos propiciando segurança à população. Sem trégua à criminalidade
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