A afinidade entre os três jovens entusiastas da meteorologia, apaixonados por fenômenos como neve, chuva congelada, geada e tempestades, surgiu antes mesmo que se encontrassem na faculdade. Conheceram-se interagindo nas redes sociais, trocando fotos e informações em grupos de discussão. No curso de Meteorologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), a amizade se consolidou, abrindo caminho para um projeto que incluiu a compra, com recursos próprios, de três estações meteorológicas e que no último domingo (16) alcançou seu ponto mais emocionante até aqui.
Se não fôssemos nós, ninguém iria registrar
Allef Patrick Caetano de Matos
Estudante
Allef Patrick Caetano de Matos, 23 anos, Luiz Gabriel Cassol Machado, 22, e Fernando Rafael Batista Ribeiro Junior, 19, captaram em fotos e vídeos a queda de chuva congelada e neve granular em Pinheiro Machado, na Campanha, em um final de semana marcado por uma virada espantosa do tempo, de um dia para o outro, no Rio Grande do Sul.
Allef, formando do oitavo semestre, e Luiz Gabriel, aluno do terceiro, são naturais de Mato Grosso. Mudaram-se para o extremo sul gaúcho para frequentar um curso bem conceituado e observar de perto as atrações de um inverno "de verdade". Fernando, também do terceiro semestre, é de Taquara, no Vale do Paranhana. Ao longo de um ano, os amigos economizaram dinheiro para comprar as estações, num investimento total de R$ 6 mil. Providos de diversos sensores, os equipamentos registram temperatura, umidade, precipitação, velocidade e direção do vento. Duas das estações foram instaladas em Pinheiro Machado, uma cidade alta, com muito frio e vento, o que a torna especialmente interessante ao olhar dos aprendizes de intérpretes do clima. O terceiro aparelho está em Pedras Altas. O objetivo do trio é produzir um zoneamento climático, um amplo panorama do clima na região, o que poderá ser útil para os setores da agricultura, da pecuária e do turismo — este último é considerado pouco explorado no município.
Atentos à entrada de ar frio no Estado, os amigos anteviram a possibilidade de um momento especial no domingo.
— A gente sabia que nevar em flocos seria mais difícil. Era mais provável chuva congelada ou neve granular — comemora Allef.
A temperatura caiu a 3,2ºC na hora da neve granular, no final da tarde, o frio mais intenso até então na vida de Allef, que vestiu uma calça de moletom por baixo da calça jeans, um casaco bem grosso, touca, luva e cachecol — em sua Cáceres natal, nos dias de inverno, muito secos, o calor costuma ultrapassar os 30ºC. Hospedados no Sindicato Rural de Pinheiro Machado, onde está uma das estações meteorológicas, os guris entravam e saíam a todo instante, observando o que acontecia na rua e voltando para se abastecer de dados no computador.
— Estava absurdamente frio. Só que na hora da empolgação a gente nem estava sentindo — conta Allef. — Ficamos muito felizes. É o primeiro grande resultado desse projeto e está tendo uma repercussão muito grande — completa.
O trio de aventureiros planeja esticar a estadia na cidade para curtir outras emoções que a semana reserva. Na madrugada desta terça-feira, a expectativa é de que a temperatura chegue a 2ºC negativos. Há chance de ocorrência de geada negra, o tipo mais nocivo, capaz de queimar as plantas.
— Vai ser a primeira vez que vou ver — vibra Allef.
Na madrugada de quarta-feira, o frio pode ser ainda mais intenso, com os termômetros encostando nos 5ºC negativos — outro recorde para o mato-grossense habituado a invernos com cara de verão.