Moradores ainda trêmulos e assustados instalavam lonas nos telhados destruídos na manhã desta quinta-feira, em Veranópolis. Cena parecida afirmam nunca ter presenciado: o temporal que começou por volta da 1h com a chuva de granizo só terminou próximo das 6h, com um vendaval que encerrou a destruição em pelo menos 500 moradias. Este é o número de famílias que procuraram Defesa Civil e Corpo de Bombeiros de Veranópolis, mas estima-se um estrago muito maior.
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– Imaginamos que podem ser até 1,5 mil famílias que tiveram algum tipo de dano. Algumas têm seguro na casa, outras compraram lona por conta – afirma o prefeito Waldemar de Carli (PMDB).
Os bairros mais prejudicados são, segundo os bombeiros, Santa Lúcia, Pôr do Sol, Vila Azul, Renovação, Santo Antônio, Medianeira e Sagrado Coração de Jesus. Na área central, há menos casas danificadas. Além de enfrentar este problema, os moradores estão praticamente ilhados: a principal via que dá acesso ao município, a BR-470, está interditada desde o início da manhã no Km 197, cerca de quatro quilômetros depois da Ponte do Rio das Antas, no sentido Veranópolis/Bento Gonçalves. Isso acabou dificultando a chegada de material para tentar socorrer os moradores: já foram usados os 15 mil metros de lonas que estavam disponíveis na cidade. Por isso, por volta das 13h, ainda havia casas descobertas aguardando a chegada de material da Defesa Civil de cidades vizinhas.
– A prefeitura estuda uma forma de ajudar os moradores buscando zinco e telhado em outras cidades – diz o secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente, Romeu Tedesco.
Uma agropecuária do município abriu as portas ainda de madrugada para comercializar telhas e lonas - mas o estoque já acabou. Um dos moradores que saiu de casa e buscou a agropecuária na madrugada foi o mecânico industrial Luis André Prestes dos Santos, 37 anos, do bairro Santo Antônio.
– Eu coloquei a lona por volta das 2h, quando a chuva de pedra acabou. Mas não adiantou nada: com o vendaval que começou em torno de 5h, a lona voou e a casa ficou encharcada – descreve.
A família forrou os móveis de plástico para evitar danos maiores. A empresa onde Luis trabalha não funcionou na manhã desta quinta – situação que se repetiu em diversas fábricas e comércios de Veranópolis. A esposa de Luis, a costureira Denise - que também foi dispensada pela empresa – ainda se mostrava emocionada narrando a intensa madrugada que a família passou:
– Foi um filme de terror. Minha filha de 10 anos está na minha mãe. Eu tenho medo que isso se repita – desabafa Denise.
A cabeleireira Sueli Pereira da Silva de Matos, moradora do bairro Pôr do Sol, ainda se recuperava do susto. Telhas que voaram da moradia da cabeleireira por volta das 5h ainda estavam espalhadas pela calçada por volta do meio-dia. A cama e outros móveis do quarto foram reacomodados para o andar inferior, já que o risco de chuva ainda ronda a cidade nesta quinta.
– Eu não dormi um minuto e tenho medo de dormir e que isto aconteça de novo – relata, comovida.
Prejuízos
Prejuízos se repetem em prédios públicos, como quatro escolas, dois postos de saúde, na Apae e no Estádio Municipal Antônio David de Farina, onde parte do muro desabou. Na escola municipal Irma Joana Aime, há prejuízos na biblioteca e sala de informática, atingidas após o telhado sofrer danos graves. As aulas estão suspensas nas redes estadual e municipal, e não há atendimento em UBS. A prefeitura encaminhará pedido de situação de emergência, para arrecadar fundos.
– Nossa intenção agora é trabalhar para reconstruir a cidade. Será um processo demorado, mas necessário – afirma o prefeito.