Um incêndio que atingiu cinco casas e deixou três famílias desabrigadas na madrugada de quarta, em São Marcos, evidencia novamente a fragilidade dos bombeiros por falta de efetivo e corte de horas extras. Com apenas um servidor, cedido pelo município no horário noturno, os bombeiros de São Marcos tiveram que solicitar apoio de Vacaria, distante cerca de 80 quilômetros do município. Conforme a corporação são-marquense, o primeiro chamado ocorreu às 3h20min. Dois bombeiros de Vacaria chegaram por volta das 4h10min, ou seja, 50 minutos depois de o fogo ter começado. Se São Marcos não dependesse de Caxias ou Vacaria, é provável que o estrago teria sido menor.
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O incêndio ocorreu na esquina da Rua João Carlos Gasparotto, nas proximidades do Monte Calvário. O fogo se alastrou rapidamente e destruiu cinco moradias. Não está esclarecido onde começaram as chamas. O primeiro atendimento foi realizado por um trator utilizado para irrigação por uma equipe de funcionários da prefeitura. Em seguida, chegaram os bombeiros de Vacaria de caminhonete. Dois servidores de Caxias do Sul também deram apoio no combate às chamas. Quatro bombeiros de São Marcos, que estavam no horário de folga foram solicitados para auxiliar no atendimento. A ocorrência foi finalizada somente às 6h45min. Apesar das proporções, ninguém ficou ferido.
– Apesar da prestatividade dos bombeiros de São Marcos, a gente acredita que não teria queimado a metade do que queimou, caso o quartel daqui estivesse funcionando normalmente – estima o secretário de Serviços Públicos e Urbanos, Vinicius André Capeletti, que auxiliou no combate às chamas.
O prefeito de São Marcos Evandro Kuwer espera que uma reunião com o comando estadual dos bombeiros, amanhã, traga uma luz sobre a falta de efetivo na cidade, e evite que incêndios como o de ontem tenham proporções ainda maiores.
– Estamos de mãos atadas. Temos que ter bombeiros 24 horas, porque sinistros e acidentes não têm hora para acontecer. Esperamos que nessa reunião em Porto Alegre tenhamos alguma resposta – afirma o prefeito.
Quartéis abertos somente com mais soldados
O chefe do 5º Comando Regional de Bombeiros (CRB), tenente-coronel Cleber Valinodo Pereira, reconhece que a distância entre São Marcos e Vacaria é grande e a demora sempre complica o combate a incêndios. Contudo, São Marcos é uma das cidades com menos ocorrências na Serra.
– Optamos por esse esquema, pois a cidade assim como Flores da Cunha não tem tanta demanda. Em todo o ano passado, registramos oito incêndios em São Marcos. O caso de hoje foi o primeiro deste ano – ressalta o oficial.
Somente com o ingresso de mais soldados no 5º CRB é que a situação em São Marcos e demais quartéis da Serra poderá voltar à normalidade. Desde o ano passado, por falta de efetivo, três dos cinco quartéis de Caxias estão fechados e as unidades de Flores da Cunha e São Marcos trabalham apenas durante o dia. Com um quadro de 198 servidores na região, as medidas para contenção de despesas são necessárias, segundo o comandante do 5º CRB, tenente-coronel Cleber Valinodo Pereira, para impedir que outros quartéis da região também fechem as portas. Mas a situação ruim, que já se estende há mais de um ano, pode ser amenizada em breve. Um curso de formação de soldados em Caxias e outro em Bento Gonçalves formará, no dia 2 de julho, mais 53 bombeiros. A expectativa de Valinodo é de que eles fiquem trabalhando na Serra.
– O Comando no Estado é quem decide onde eles irão trabalhar, mas todos sabem da nossa situação. Não tivemos grandes problemas em função das medidas que tivemos que adotar, como o fechamento dos quartéis, mas estamos no limite. Sem deixarmos todos abertos em Caxias, corre-se o risco de fechar os quartéis de Veranópolis, Flores da Cunha e Vacaria – justifica o comandante.
Com um efetivo 50% defasado, o 5º CRB ainda precisa deslocar dois servidores, um soldado e um sargento, para vigiar diariamente os quartéis fechados em Caxias, as unidades do Cruzeiro, Zona Norte e Desvio Rizzo. A proteção, conforme Valinodo, é para evitar arrombamentos e outros atos de vandalismo nos prédios. Porém, nem a vigilância dos bombeiros é suficiente para garantir a integridade dos espaços, sem uso e, por isso, com parte da estrutura deteriorada. No Desvio Rizzo, por exemplo, janelas estão quebradas; na Zona Norte, camas e portas quebradas são visíveis no interior do quartel.
– Um rodízio é feito entre os servidores para proteger, mas nada de grave foi averiguado nesse tempo em que estão de portas fechadas. A estrutura vai deteriorando com o tempo, claro, mas os prédios não estão inutilizados. Assim que der, serão reativados sem grandes ajustes – diz.
Valinodo garante, porém, que nenhum equipamento ou veículo da corporação está parado. Atualmente, seis carros estão à disposição dos bombeiros de Caxias, número que ele julga ser suficiente para atender a demanda da cidade.