A Polícia Civil já tem suspeitos para o ataque a um carro-forte ocorrido na noite da última segunda-feira em Vila Cristina, interior de Caxias do Sul. De acordo com o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), seria o mesmo grupo que em março utilizou armamento .50, capaz de derrubar até aviões, para explodir outro carro-forte na BR-116, em Vacaria. Desta vez, porém, os bandidos usaram fuzil AK-47 – fabricado na antiga União Soviética e muito difundido atualmente entre grupos terroristas do Oriente Médio.
O titular da Delegacia de Roubos do Deic, Joel Wagner, esteve durante a madrugada no local do assalto – o km 170 da BR-116 – e apurou que não foi encontrado nenhum vestígio de .50. Conforme o delegado, mesmo que as armas dos crimes de ontem e de março sejam diferentes, o modo de ação é muito similar, o que leva a crer que se trata da mesma quadrilha:
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– Tendo em vista as operações e prisões passadas, que são muito importantes, trabalhamos com a ideia de que é o mesmo grupo. Conhecemos os suspeitos que têm capacidade para realizar esse tipo de ataque.
Wagner relata que três veículos teriam participado da ofensiva, dois deles localizados nesta terça-feira – um Toyota Corolla, com placas clonadas, e uma Renault Duster. Eles estavam abandonados em uma estrada vicinal na localidade de São João da 4ª Légua, que pertence ao bairro Galópolis. O terceiro é uma Hyundai Tucson, ainda não encontrado. Na caminhonete havia uma placa de aço com suporte para metralhadora.
A investigação preliminar da Polícia Civil aponta que o carro da Prosegur seguia de Nova Petrópolis para Caxias do Sul, após coleta de dinheiro, quando foi abordado pela Tucson na BR-116. Da parte de trás da caminhonete, os assaltantes metralharam o carro-forte, que tentou retornar. Os disparos da AK-47, apesar de não perfurarem a blindagem, conseguiram parar o veículo.
Os vigilantes, então, desceram e trocaram diversos tiros com os criminosos. Com menos poder de fogo, os funcionários da Prosegur acabaram fugindo para dentro do mato, às margens da rodovia. Os assaltantes, contando com reforço do Corolla e da Duster, colocaram cinco cargas de explosivos e detonaram o blindado.
– Eles conseguiram levar uma quantia de dinheiro, não sabemos quanto – disse Joel Wagner.
Parte da carga de notas, queimadas e rasgadas, ficou espalhada pela BR-116. Pelo menos duas pessoas ficaram feridas, sem gravidade. Uma delas, Adroaldo Pinheiro, 60 anos, teve alta na manhã desta terça-feira do Hospital Pompéia, em Caxias do Sul. Ele foi atingido na perna por uma bala perdida. Os assaltantes também teriam feito um cordão humano com reféns para escapar do cerco policial. A rodovia só foi liberada completamente por volta de 1h30min.
– Quando chegamos em uma banca, todo mundo parou e começamos a sentir um cheiro de pneu queimado. Um homem ligou para a polícia e avisou que dois caras desceram em um carro preto. Um pouco antes disso, ouvimos dois tiros. Eram tiros que vinham de longe – relatou uma jovem, que pediu para não ser identificada.
Um homem que seguia para Caxias do Sul ficou trancado em meio à confusão e disse que teve de ficar 20 minutos ajoelhado, dentro do carro, com a mulher, com medo de ser alvejado:
– Ouvíamos eles (bandidos) dando ordens e comandando a ação. Sentimos o estrondo quando explodiu o carro-forte, foi como uma onda. Situação terrível – contou o homem, que não quis se identificar.
Outros roubos emblemáticos
Dezembro de 1995 – Ladrões liderados por Cláudio Adriano Ribeiro, o Papagaio, renderam policiais rodoviários no antigo posto da corporação na ERS-122, na entrada de Farroupilha. Os criminosos usavam a farda dos servidores e simularam uma blitz na rodovia. Motoristas de carros de passeio foram rendidos. Um caminhão foi atravessado na pista para bloquear a passagem de um blindado da Prosegur. A quadrilha abriu fogo contra o veículo e roubou o dinheiro que seria usado no pagamento de funcionários de duas grandes empresas. A partir desse ataque, as investidas contra blindados se tornaram rotina no Estado. Papagaio está preso em Charqueadas.
Setembro de 2002 – O bando comandado por Charles Robsen Ferreira Kaiser, o João Loucura, parou um carro-forte pela primeira vez utilizando um caminhão na BR-116, em Galópolis, interior de Caxias do Sul. João Loucura era apontado pela Polícia Civil como um dos mais temidos bandidos do Estado. Natural de Porto Xavier, foi criado em São Leopoldo e mudou-se ainda na adolescência para Caxias do Sul. Antes de atacar na BR-116, já havia assaltados bancos em Caxias do Sul, Guaporé, Bom Jesus e Nova Roma do Sul. Acabou tornando-se mentor de um dos maiores assaltantes do RS, José Carlos dos Santos, o Seco. João Loucura morreu em 2003 na prisão em Caxias.